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Casamento antes dos 20 anos não coisa só de cinema

Casamento antes dos 20 anos não coisa só de cinema

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:21

Enquanto todos os outros estudantes da Forks High School estão preocupados com o ingresso na universidade e a carreira que vão seguir, a personagem da saga “Crepúsculo” Bella Swan escolhe vestido de noiva e se prepara para ter as responsabilidades de uma esposa e viver “feliz para sempre” – o que, no caso de Edward e agora de Bella, é levado ao pé da letra.

Casar-se aos 18 anos era o que a sociedade esperava de uma moça de família que não queria ficar para titia na primeira metade do século XX. Mas de lá para cá os costumes mudaram e boa parte dos jovens só casa depois de viajar, estudar e conquistar um bom emprego. Mesmo assim, há quem tome a mesma decisão de Bella em “Amanhecer”: a de subir ao altar ainda na adolescência.

A vendedora Thais Camargo é uma das jovens que optou pela união antes de chegar à idade adulta. Aos 19 anos e prestes a concluir o Ensino Médio, ela casou e deixou a casa dos avós para viver com o marido e começar uma família. "A ficha só caiu quando o pessoal começou a ir embora da festa", recorda, "deu aquela tremedeira, um frio na barriga, e eu pensei 'a partir de amanhã vou ser uma mulher casada'".

A inexperiência do casal, segundo a noiva, deixou a primeira noite dos dois "engraçada": "Na hora de tirar o vestido ficamos atrapalhados com tantos botões. Não sabíamos por onde começar, olhávamos um para a cara do outro e dávamos risada", diverte-se.

Embora não se arrependa da escolha que fez, ela não aconselha o mesmo a outras adolescentes. "Tem muitas coisas que a gente pode realizar antes de casar. Eu só concluí a escola, nao fiz faculdade porque logo depois engravidei. Muita coisa na minha vida pessoal ficou pendente", explica.

Conto de fadas não existe

A jovem Emanueli Ribeiro, de 18 anos, namorou Diego por dois anos, e durante todo o tempo os pais foram contra o relacionamento. Aos 15 anos, cansada das barreiras impostas pela família, a então estudante do Ensino Médio resolveu casar. “Quando o Diego se mudou pra minha casa, meu pai disse a ele que todas as responsabilidades que ele e minha mãe tinham comigo seriam transferidas ao meu marido, então hoje eles não se metem muito na nossa vida”, explica a jovem, que continua morando com os pais.

Apesar das dificuldades financeiras, Emanueli tem a vida que sonhou: “Nem me imagino sem meu marido e meu filho. Aprendi que conto de fadas não existe, mas que é possível ser feliz”.

O sucesso do casamento de três anos da jovem, no entanto, foge à regra. "É difícil afirmar que um adolescente que ainda não tem sua identidade totalmente organizada, que está tentando se auto-regular em questões sexuais, morais e emocionais, conseguirá manter a estabilidade do casamento”, afirma a professora do curso de psicologia das Faculdades Metropolitanas Unidas – FMU Viviane Galhanone, “sem contar que muito provavelmente terá dificuldades financeiras ou estará sob o domínio de familiares”.

Amadurecimento precoce

Quando a então vendedora de uma loja de sapatos Débora Cardoso decidiu casar, aos 18 anos, o pai dela foi contra. “Ele não gostou nada da ideia porque eu estava começando a vida. Ele achou que eu estava grávida”, conta, “meu pai não foi ao meu casamento e eu entrei na igreja com o meu irmão mais velho”. Mesmo com a reprovação e a desconfiança do pai, Débora foi em frente. "Casei por amor", afirma.

Hoje com 26 anos, Débora voltou a se relacionar normalmente com o pai. Sem filhos e cursando faculdade de Marketing, ela atribui ao casamento, e às dificuldades para se adaptar à nova vida, o amadurecimento dos últimos anos. “Eu era muito mais egoísta, infantil, irresponsável e impulsiva. Não tinha nada a perder. Hoje eu coloco as coisas na balança”, conta ela.

Casar na adolescência é a escolha certa?

Mesmo o amor sendo o motivo da união, e com todos os pontos positivos da experiência, dúvidas podem surgir. “Até hoje eu me pergunto se fiz o certo", diz a estudante, "mas certeza ninguém nunca vai ter".

Emanueli também tem momentos de dúvida. A jovem teme lamentar ter virado adulta tão cedo. “Tenho medo de, quando eu ficar mais velha, me arrepender de não ter aproveitado mais. Acho que isso pode acontecer, porque pulei uma grande etapa”, afirma.

Para Viviane Galhanone, a insegurança de Emanueli tem fundamento. A psicóloga afirma que, de fato, o casamento na adolescência significa pular uma etapa, já que a personalidade do jovem ainda está em formação, e o ideal seria que ela estivesse completa antes de ele assumir essa responsabilidade. "Existem muitos aspectos a serem lapidados, sem contar a construção da identidade, e por isso fica difícil a opção casamento e todas as implicações que esta condição traz”, explica.

Quando a experiência é ruim

Essa chegada precoce a uma fase da vida que exige tanta responsabilidade e autoconhecimento fez diferença no casamento de Izaneide Silva, estudante de enfermagem de 21 anos que casou aos 15. Mesmo acreditando que o marido era o cara certo para viver feliz para sempre, manter a união foi difícil. “A gente até que se dava bem, mas eu não conseguia conciliar as tarefas domésticas com os estudos e, ainda, dar atenção para o marido, que me cobrava tudo isso". Foi aí que a saudade da vida pré-casamento começou a bater, e a adolescente se viu frustrada. “Ele gostava de sair com os amigos, chegava em casa de madrugada, não me tratava bem, mentia, falava mal de mim e me traía”, justifica.

Um dia, o ex-marido contou que não a amava mais e queria se separar. Ela voltou para a casa dos pais, ele foi morar com amigos, e um mês depois a jovem descobriu que estava grávida. “Ele veio me ver, pediu desculpas e quis voltar, mas eu fui firme à minha decisão”, relata.

Hoje, Iza se diz desiludida com o amor. “Depois da separação cheguei a namorar por quase dois anos, mas terminamos porque ele queria casar. Não acredito mais em casamento”, conta. A isso ela atribui a pouca idade com que casou: “Hoje posso dizer que, naquela época, eu era uma criança. Minha ideia de casamento era diferente, achava que era só namoro”.

Apesar das consequências traumáticas, falhar em um casamento que começou na adolescência é natural. De acordo com Viviane, dar um passo à frente em um namoro é assumir um risco. “Para haver um relacionamento amoroso é preciso haver não só intimidade sexual, mas principalmente intimidade emocional com o parceiro”, explica, “Como faria um adolescente que ainda não se conhece, isto é, que não tem sua identidade organizada, para ter essa intimidade emocional? As exigências do dia a dia de um casamento podem massacrar essa possibilidade”.

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