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Cobrança social leva meninos a resolver tudo com socos e pontapés

Cobrança social leva meninos a resolver tudo com socos e pontapés

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:44

Saindo da boate, um adolescente caminha em direção ao outro. Há socos e chutes. Começa uma briga covarde. Em poucos segundos, chega mais três amigos. Inicia o espancamento. A vítima cai no chão e leva facadas. A agressão termina com a chegada de moradores. O grupo foge. E o jovem Rafael Santana, de 18 anos, morre.

O caso de Jaraguá fez a população se questionar sobre os motivos que levam um grupo de jovens a matar outro, por causa de um desentendimento, motivado por uma possível situação de ciúme. O Diário Catarinense ouviu especialistas para discutir o comportamento e a violência entre adolescentes.

O psiquiatra Francisco Baptista Neto, autor do livro Adolescentes: o desafio de entender e conviver, explica que o ato de violência foi resultado de um combinação de situações, que alteraram o comportamento dos adolescentes.

- Na natureza, o macho briga pela fêmea. Já o humano, é um ser domesticado, que controla seus impulsos agressivos. Só que os adolescentes não tem maior controle sobre esses impulsos. Nesse caso, temos uma combinação de um comportamento primitivo, afetado pelo uso de álcool e drogas e associado ao comportamento de um grupo, que leva a perda de racionalidade - diz.

Neto alerta para a teoria da psicanálise de Freud, que aponta para a mudança de comportamento do indivíduo quando ele está inserido em um grupo. Por exemplo, os casos de linchamentos. Em Jaraguá do Sul, foi mais um agravante na situação de total falta de noção de risco.

- Os adolescentes praticam violência contra outros e contra eles mesmos. Eles não sabem o risco que vivem e tem o desejo de atender a necessidade. É um comportamento da nossa sociedade . Essa avaliação dos riscos só acontece após os 25 anos - explica.

Os adolescentes precisam de controle familiar. Na psicologia, o medo é responsável pela domesticação do comportamento agressivo.

- Mata-se por qualquer motivo. Vivemos a banalização da violência que é reflexo do senso de impunidade. A família é que não coloca limites. Os pais satisfazem para não frustrar. Vão criando pessoas que não sabem lidar com a frustação - diz.

O advogado criminalista, Sandro Sell, explica que há uma falsa ideia, que o menor não é punido pela Justiça.

- Ele tem a pena máxima de três anos em regime de internato. E no caso do adulto, também não ficaria mais de três anos preso, no caso de homicídio culposo. Hoje, o que temos é o processo de seletividade, onde as punições são, apenas, para as classes baixas, que é diferente de impunidade - diz.

Sell afirma que o problema está na na dificuldade que os adolescentes têm de resolver os problemas sem agressão física, principalmente, os meninos.

- Há uma cobrança social para que os meninos resolvam as questões de forma agressiva, com socos e pontapé. Isso é muito ruim, estimula a violência.

A afirmação do professor tem respaldo em números. Só neste ano, segundo levantamento dos jornais do Grupo RBS, pelo menos 28 jovens com menos de 18 anos foram assassinados em Santa Catarina. Entre as vítimas, há apenas duas mulheres.

Na cidade onde ocorreu a morte, crimes assim são raros. Desde 2000, apenas seis adolescentes de 15 a 19 anos foram assassinados. Quatro deles eram homens, segundo dados o Datasus, banco de dados da Secretaria de Estado da Saúde.

Por: Dayane Nunes

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