MENU

Geral

Como se impor entre a família e os amigos

Como se impor entre a família e os amigos

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:20

Na novela “A Vida da Gente”, da Rede Globo, a personagem Ana (Fernanda Vasconcellos) é uma tenista de sucesso que, aos 17 anos, não vai a festas e não sai com seus amigos para se dedicar ao esporte e, principalmente, para não contrariar a mãe e a treinadora. Doce, dedicada e disciplinada, a adolescente tem a seriedade de um adulto, mas aos poucos se frustra ao perceber que a imagem de boazinha que os outros enxergam ao olhar para ela agrada a maioria, mas não corresponde a quem ela quer ser. E mesmo se sentindo impotente diante do comportamento dominador da mãe e da treinadora, Ana começa a arriscar as primeiras tentativas de buscar a própria identidade.

Anular-se para agradar os outros é um padrão no comportamento da personagem da novela das seis, mas essa característica repressora não é exclusividade dela. A estudante Monalisa Santos, de 15 anos, admite não saber dizer não aos apelos dos amigos, quaisquer que sejam eles. “Sou daquelas que vai pela cabeça dos outros. Faço tudo o que me pedem e, se eu digo não, fico com um aperto no coração”, conta.

Recentemente, a adolescente se desentendeu com uma amiga por causa de um menino e, embora as desconfianças da garota sobre ela não tivessem fundamento, Monalisa não contra-argumentou em própria defesa. “Tenho vontade de falar o que penso para ela saber o que eu sentia quando ela me humilhava na escola, mas quando nós conversamos, só ela pode falar e mais ninguém”, explica, “só ela está certa."

Impor a própria opinião em uma discussão com alguém que não dá espaço para o outro se expressar já é, por si só, uma tarefa que exige determinação, auto-estima e assertividade, portanto, não é a mais simples das missões. Mas, para quem já está habituado a se deixar calar pela vontade alheia, esse exercício fica ainda mais complicado. Isso porque contrariar a opinião de outra pessoa é também romper com algumas regras sociais. “Há quem diga que crianças que se opõem muito têm um transtorno, um tipo de doença. Ser dócil é muito aceito na sociedade, ser contestador não é. Os contestadores atrapalham”, afirma Roseli Caldas, professora da Faculdade de Psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Mas, de acordo com a psicóloga, embora os pais achem excelente ter um filho bonzinho, esse comportamento pode ter um lado bem negativo e ela cita o filósofo e sociólogo Theodor Adorno para explicar a questão: “A adesão cega é bastante perigosa", diz. Segundo ela, quem não sabe dizer não pode concordar com sugestões prejudiciais a si mesmo e a outras pessoas: “Um adolescente que não tem capacidade de se contrapor está muito mais sujeito a situações de risco".

Por isso, saber dizer não a um convite para um evento chato, a uma oferta de algo que desagrade o próprio gosto ou a um pedido abusivo é importante. A melhor parte disso é que não é tão difícil assim, basta começar.

“Eu era boazinha desde a infância e queria ter um bom relacionamento com todos”, conta Natasha Guerrize, de 23 anos. “Quando mudei de cidade, aos 15 anos, foi muito complicado, porque eu ficava muito sozinha. Então comecei a ler muito e a descobrir coisas de que gostava, como política, filosofia e sociologia, e passei a ser mais questionadora”, conta, “foi quando chutei o balde e parei de me preocupar com o que as pessoas iam dizer.”

Natasha recorda o dia em que um colega de classe pegou o microfone do professor durante o intervalo e pediu que ela cantasse. A garota aceitou cantar para os amigos e, algum tempo depois, escutou o mesmo menino que pegou o microfone criticá-la por ter se exposto daquela maneira. “Falei para ele que canto porque gosto e porque posso, e que se ele acha isso tosco, tem gente que gosta. Depois disso pensei ‘isso vai pegar mal...’, mas o garoto que praticava bullying acabou se tornando meu amigo”, lembra. “Eu sempre tive medo do que iam pensar de mim se eu falasse o que penso, mas as pessoas passaram a me respeitar por eu falar”, afirma Natasha.

É só começar

Não deixar clara a própria opinião compromete a auto-imagem e a auto-estima, mas a Natasha é a prova de que para aprender a se impor, só é preciso um primeiro empurrãozinho. “A dica é estabelecer pequenas metas de coisas que você nunca tem coragem de falar. E fazer de maneira certa, ensaiar antes de falar e começar a se organizar nessa direção”, aconselha. “Isso fortalece para a próxima oportunidade de se impor e, aos poucos, você acha o equilíbrio.”

E nada de esmorecer caso o grupo de amigos não seja receptivo às suas opiniões! "Se o grupo não acolhe, o jovem deve se perguntar que grupo ´´e esse que não lhe dá espaço para se expressar", orienta a psicóloga.    

Este conteúdo foi útil para você?

Sua avaliação é importante para entregarmos a melhor notícia

Siga-nos

Mais do Guiame

O Guiame utiliza cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência acordo com a nossa Politica de privacidade e, ao continuar navegando você concorda com essas condições