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Cursinho pode ajudar estudante indeciso

Cursinho pode ajudar estudante indeciso

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:25

Privilegiados os que terminam o Ensino Médio e sabem exatamente a carreira que seguirão e o curso que querem fazer. Eles não são maioria. Levantamento do CIEE (Centro de Integração Empresa-Escola) realizado em 2009, mostra que 62% dos jovens não sabem qual carreira seguir. Enquanto uma parte desse universo de indecisos tem apenas uma vaga ideia do que farão, outros se veem perdidos em meio a um mundo de opções. Mas como devem se comportar diante das pressões para ingressar na faculdade se nem sabem qual graduação farão? Devem ou não procurar um cursinho pré-vestibular para adiantar a preparação sem ao menos ter fechado questão sobre o futuro acadêmico?

Para algumas pessoas, o cursinho é a saída mais prática para lidar com a dúvida, mesmo sem a certeza sobre qual área seguirá. Renan Iticaza Ishara, 17 anos, resolveu entrar no cursinho sem ter certeza sobre o que fará. "Ficar em casa sem fazer nada não resolveria meu problema", dispara ele. Para Ishara, um ambiente de estudos pode direcionar seu intelecto para alguma área do saber. "O contato com professores e diferentes alunos também me ajuda a identificar outras opções de curso", diz o estudante.

E mesmo o fato de não ter passado em dois vestibulares, de Ciências da Computação na USP (Universidade de São Paulo) e Biomedicina na UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), fez com que o estudante olhasse com mais calma para o leque de opções que possuía em mãos. Além de ter repensado sobre seu futuro acadêmico depois do vestibular, o cargo de monitor dentro do próprio cursinho fez com que Ishara começasse a prestar atenção nos alunos e nos cursos que eles almejavam. "Costumo conversar bastante com o pessoal de engenharia e esse contato me fez olhar o curso com outros olhos. Quem sabe aí não more uma opção para o futuro", arrisca o rapaz.

Embora a comunicação entre profissionais e aspirantes de diferentes áreas seja muito importante não apenas dentro da sala de aula, como também fora dela, há quem defenda que, independente de qualquer amizade, a personalidade de cada um deve sempre ser mantida. Segundo Alberto Francisco do Nascimento, coordenador de vestibular do Anglo, esse é um dos fatores que ajudam na hora de escolher a carreira. "As panelinhas influenciam de uma maneira positiva, mas é importante que cada um tenha poder sobre sua vida", resume ele.

O professor acha que a maior arma para quem está confuso e em idade de ingressar no Ensino Superior é a informação. "É preciso visitar faculdades, assistir palestras e sempre perguntar o máximo possível sobre todos os cursos e faculdades que tiver dúvidas", acrescenta Nascimento. O coordenador acredita que essa é uma etapa muito importante e que terá reflexo por toda a vida, por isso a necessidade de dar atenção extra para a decisão. "É uma idade muito confusa para aqueles que acabam de sair da escola. Se não a tomarem com cuidado, podem acabar por se transformar em profissionais frustrados e ninguém quer passar por isso", declara o Nascimento.

É nessa hora que estudo e dedicação aos estudos são armas que podem ser usadas a favor do vestibulando confuso. "Estudar nunca é demais e no cursinho existe a possibilidade de correr atrás de conteúdos e informações que alguns alunos podem não ter tido contato, sobretudo os que se formaram em escolas públicas", afirma Nascimento. "As próprias avaliações de vestibular trazem assuntos que deveriam ser sempre lembrados por quem saiu da escola, para manter o ritmo de estudos", acrescenta ele.

Renato Pedrosa, coordenador de vestibular da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), diz que é comum que haja confusão na cabeça de jovens vestibulandos, por isso ele defende que um período dentro do cursinho pode ser o que o candidato precisa para amadurecer as ideias e direcionar seus ideais. "Uma vez dentro do cursinho ele deve estudar e procurar descobrir qual sua vocação, um trabalho que deveria ter sido feito nas escolas públicas junto às famílias dos estudantes, fato esse, que infelizmente não acontece", lamenta ele.

Mas aqueles que decidiram tentar uma vaga na faculdade mesmo sem decidir exatamente sobre o futuro e escolheram o curso errado, ainda têm possibilidade de mudar e tirar uma lição proveitosa disso. Pedrosa não vê essa escolha errada como o fim da carreira profissional do aluno antes mesmo de começar. "Na medicina da Unicamp, por exemplo, existe uma porcentagem que varia entre 5% e 10% de alunos que mudam de área durante o curso", revela ele. Para o coordenador, isso não ocorre por incompetência dos alunos, mas porque eles simplesmente mudam de área num processo que considera normal e até saudável.

Influências de dentro de casa

A pressão familiar é outro fator que pode confundir a mente dos jovens vestibulandos, como aconteceu com a recém-formada no Ensino Médio, Thais Yoshimura, de 18 anos. Ela pretendia continuar na área de seu curso técnico, nutrição, mas por influência da mãe resolveu prestar medicina. "Cheguei a prestar vestibular para medicina em três faculdades privadas, mas não passei em nenhuma". Depois disso, Thais resolveu partir para um cursinho e usar o ambiente do pré-vestibular para amadurecer suas próprias ideias quanto à universidade. "Ainda quero prestar medicina, mas com certeza até o fim do ano eu vou ter mais algumas opções", aposta ela.

Como estudou a vida inteira em escola pública, Thais vê também o cursinho como uma oportunidade de relembrar e até aprender coisas que o ensino público não abordou. "As aulas são bem completas e infelizmente não passei por isso na escola, então pretendo aproveitar o máximo possível, mesmo sabendo que não vai ser o suficiente para tapar o buraco deixado pela rede pública", diz a estudante.

Mas o cursinho não é unanimidade. Alguns profissionais da educação veem nos pré-vestibulares promessas que dificilmente poderão ser cumpridas. "Eles vendem a ideia de que quem frequenta o cursinho tem ingresso certo no Ensino Superior e sabemos que não assim que funciona", critica Wlaudimir Carbone, coordenador da comissão de processo seletivo da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Carbone chama de "efeito placebo" o efeito das aulas de cursinho e defende que a preparação delas só funcionarão psicológico dos estudantes. "Essas passagens meteóricas que eles têm nos cursinhos não são suficientes para que o aluno aprenda o que não aprendeu a vida inteira", afirma ele. Mesmo assim, Carbone vê pontos positivos nesse método de aulas. "O material didático é muito bom e os plantões de dúvidas ajudam muitos alunos, mas o problema está no Ensino Médio e isso não vai ser sanado nas salas dos cursinhos", declara ele.

O professor defende ainda um trabalho que deve ser feito em conjunto e reunir família, alunos e professores, munidos de técnicas vocacionais para descobrir qual área do conhecimento mais atrai o jovem e, a partir daí, prepará-lo para alcançar esse objetivo. "A família é muito importante neste contexto, porque é ela que vai incentivar e apoiar as decisões do jovem e isso mostrará confiança da parte dos pais. A escola, por sua vez, deveria ser capaz de treinar e capacitar o aluno para o Vestibular, uma avaliação que pode ser considerada traumatizante na vida do aluno, porque marca a transição entre o Ensino Médio e o Superior", defende ele.

Por Roberto Machado

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