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'Ela'- filme dolorosamente romântico

'Ela'- filme dolorosamente romântico

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:02
ElaA tecnologia levada ao limite e suprindo todas as carências do homem. Todas mesmo.
 
Um período em que é trivial que se comente que um homem pode "travar" relacionamento com um sistema operacional. Pode parecer que a sinopse de "Ela" (2013, Spike Jonze), seja uma loucura abstrata para mentes compensadas intelectuamente, mas na verdade é uma reflexão profunda sobre o que fazemos com o nosso tempo, quem são nossos amigos e quais são as nossas prioridades.
 
Contando com uma interpretação nota 10 de Joaquim Phoenix ("O Mestre", 2012 - Paul Thomas Anderson), temos a história interessante de Theodore (Phoenix), um homem afligido pela separação matrimonial e que vive em um mundo onde suas poucas amizades reais lhe emprestam sorrisos e algumas desilusões.
 
No meio do tédio do seu trabalho até o silêncio do seu asséptico apartamento, Theodore adquire um novo sistema operacional alimentado por inteligência artificial.
 
Criando um relacionamento com tensões, sonhos e ambiguidades com a voz de Scarlett Johansson ("Os Vingadores", 2012), responsável por dar "vida" ao sistema operacional, Theodore se envolve com sua máquina além da relação extensa de trabalho e tarefas. Ele agora está apaixonado pelo único álguem que lhe deu atenção e carinho.
 
"Ela" é uma demonstração de sensibilidade de Spike Jonze ("Adaptação", 2002) ao tocar em um ponto importante, absolutamente factual e amplamente real nos dias de hoje: a relação maníaco-dependente à qual o criador (o homem) estabeleceu com a criatura (a máquina), ponto este que extrapola as medidas de civilidade mais antigas da história do homem: a expansão do amor para um objeto e sua reciprocidade.
 
A doçura de Jonze é medida em uma crítica disfarçada em uma história de amor, permitida pela dormente atuação de Phoenix, que sob um discurso apaixonado, faz a audiência esquecer que sua paixão e devoção é dedicada a um sistema que passa a interferir em suas decisões, monitorando as ações do seu coração, tal qual um humano, em "condições normais de uso". Ao final da exibição do filme somos atropelados por uma realidade avassaladora, tão áspera que nos retira do filme para o sofá onde estamos sentados.
 
São duas horas de intensa imersão na nossa própria vida, onde não há espaço para qualquer tipo de redenção que não à verdade. Que tipo de espaço damos ao que sumariamente parece ser vital em nossa rotina? Qual o tamanho da lacuna que a tecnologia, ferramenta auxiliar para qualquer coisa, deixa quando somos furtados por bugs e falhas no sistema? Qual o tamanho da abstinência que controla nosso corpo (este sim vital) quando estamos longe dos mecanismos que lembram apêndices da qual não conseguimos mais nos livrar?
 
"Ela" é um filme de amor cheio de filosofia e pensamentos puros, assumindo um caráter irrevogável de arte, tocando em pontos tão sensíveis e que faz a seguinte pergunta:
 
- Quem é dono de quem?
 
 
- Daniel Junior

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