Um estudo da Secretaria da Saúde de São Paulo, que reuniu 908 adolescentes - entre agosto de 1997 e janeiro de 2010 na Casa do Adolescente de Pinheiros (SP) afirma que metade dos jovens que tiveram filhos antes dos 22 anos tem mais de oito anos de estudo.
As mães têm em média 17,5 anos quando engravidaram e começaram a vida sexual aos 15. Dessas, apenas 14% planejavam ter um filho. No caso dos meninos, a idade média dos pais é de 22 anos. E os números da escolaridade contrastam com o dado de que 61% dos entrevistados não preveniram a gravidez o anticoncepcional oral foi usado por 19% das garotas e o preservativo, por 16% dos garotos.
Danielle Azevedo, 18 anos, tomava pílula e tinha conhecimento dos métodos contraceptivos. "Sempre me informei por meio da televisão, da internet e me consulto com a ginecologista regularmente. O erro de ter esquecido o anticoncepcional foi meu. Como eu tinha enjoos frequentes por causa da gastrite, nunca imaginei que estaria grávida", conta. O pai, de 26 anos, já é formado. Casados, os dois vivem com a filha de três meses.
Segundo Albertina Duarte Takiuti, coordenadora do programa Saúde do Adolescente da Secretaria, os dados chamam atenção por quebrar o tabu de relacionar a falta de cuidado à falta de informação diretamente. "É importante trabalhar outros aspectos, especialmente as emoções, os medos e as angústias", reforça. Para ela, os jovens se relacionam sexualmente muito cedo, o que resulta em falta de intimidade e insegurança na hora da busca pelo prazer imediato. "Enquanto o menino sente medo de falhar, a menina receia não agradar. Além disso, existe a magia da adolescência: eles acham que, no caso deles, é muito mais difícil engravidar ou contrair DSTs", completa.
Mas, para Ana Cláudia Bortolozzi, psicóloga e PhD em Estudos da Sexualidade na Unesp, o fato de os jovens passarem mais de oito anos na escola não garante que eles recebam orientação sexual adequada. "A informação precisa fazer parte do processo educativo: na família e na construção dos valores sobre sexualidade. Uma coisa é saber como se previne doenças e gravidez, a outra é ter vergonha de usar tal método porque a mãe pode descobrir, porque a amiga pode falar mal ou porque o namorado acha que é falta de amor", atesta. Saber nem sempre é colocar em prática.
A pesquisa ainda revela que o Estado de São Paulo registrou queda de 36,2% no número de adolescentes grávidas em 2008 se comparado a 1998. A coordenadora Albertina comemora a redução, que considera uma vitória do espaço público. "Focamos não na informação, mas no cotidiano do adolescente, na discussão sobre sexualidade e nas inseguranças", diz. A psicóloga clínica Patricia Barreto acredita que o resultado se deve "ao fácil acesso às informações, aos relacionamentos familiares mais abertos e ao receio com a crescente estatística das DSTs".
Para as especialistas, a maneira mais eficiente de diminuir o índice de casos de gravidez na adolescência a não ser que a menina deseje ter um filho é falar sobre sexo, sobre as mudanças que o crescimento e a própria sexualidade impõem, trocar experiências e informações e ter diálogo aberto com familiares e adultos confiáveis. "Luto pelo ideal de que exista a educação em sexualidade nas escolas com professores que sejam bem formados para que eles possam atuar em parceria com a família", completa Ana Cláudia.
Por: Larissa Drumond
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