Depois das festas de fim de ano, a cidade de São Paulo agora se prepara para mais uma comemoração. A ‘terra da garoa’ esse ano completará mais uma primavera e seus filhos paulistanos já estão empolgados com a programação que a Secretária do Estado junto com a prefeitura irão organizar para as festividades da capital.
Por todos os lados já se escuta falar das novidades para o mês de janeiro em comemoração ao aniversário da cidade e nós do portal não podíamos ficar de fora.
Além de citarmos algumas dicas para você aproveitar o feriado que vem por aí, vamos lembrar também de um ícone que na verdade, não é conterrâneo de nossa terrinha, mas a amou tanto quanto qualquer cidadão desta ‘selva de pedras’, o compositor Billy Blanco.
O paraense Billy Blanco compôs em 1974 o tema da cidade que pertence a Sinfonia Paulistana e que tem o refrão mais conhecido de todos os tempos, o famoso: “Vambora, vambora, olha a hora, vambora”.
William Blanco Abrunhosa Trindade nasceu em 1924 em Belém e chegou a São Paulo nos anos 1940. Estudou Arquitetura no Mackenzie e mesmo depois de formado, sempre gostou de tocar e compor músicas. Nos anos 50, já morando no Rio, começou a conviver com figuras como Radamés Gnattali e Tom Jobim e passou a se destacar por seus sambas e letras, tornando-se um dos precursores da bossa nova.
Como um dos ícones da bossa nova, Blanco compôs mais de 500 músicas e suas canções foram gravadas por cantores como João Gilberto, Elis Regina, Dick Farney, Lúcio Alves, Dolores Duran, Nora Ney e outros grandes nomes da MPB. Ele também fez parcerias com o amigo Tom Jobim, Baden Powell e Sebastião Tapajós, entre outros.
O cantor e compositor se despediu de nós na manhã de sexta-feira, 8 de julho de 2011, no Rio de Janeiro, com 87 anos após uma internação no Hospital Panamericano, na Tijuca, na Zona Norte da cidade.
Mesmo com a morte do grande nome da bossa nova brasileira, as heranças deixadas a nossa cidade ainda permanecem muito vivas e como diria Paulo Aranha, filho de Billy Blanco “Billy não nasceu em São Paulo, mas amou a cidade. Qualquer paulistano que não conheça sua obra, não teve a formação completa como paulistano”.
A Sinfonia Paulistana, com 15 músicas, levou 10 anos para ser composta. A mais famosa das canções diz que “a cidade não desperta, apenas acerta a sua posição” e se mistura com o dia a dia da metrópole que desde 1974, faz parte da vinheta do Jornal da Manhã, da rádio Jovem Pan.
Então, para finalizar nossa singela homenagem à cidade de São Paulo e o criador de seu tema, aqui vai a sinfonia completa composta por Billy Blanco.
Paulistana – Retrato de uma Cidade
Sinfonia de Billy Blanco
Arranjos originais de Chiquinho de Moraes
LOUVAÇÃO DE ANCHIETA
Fazendo som com as estrelas, ligado no sideral
Por Maria, fez poemas, nas praias do litoral
As ondas contaram ao mar, por isso é que os oceanos
No mundo inteiro cantados, cantarão mais cem mil anos
E o homem entre mar e céu, tem canção por todo lado
Louvado seja Anchieta, pra sempre seja louvado
Navegante tem cantiga, que aprendeu no mar um dia
Qualquer rota que ele siga, se não canta, ele assobia
BARTIRA
Cabelo cor da noite, pele de alvorada
Cacique entregou ao branco, a filha amada
Raízes de Brasil, chegaram até aqui
Abençoado o colo dessa mãe antiga
Por 400 anos feitos de cantiga, naquele doce embalo
Da canção Tupi
Na tez de uma paulista em cheiro de floresta
A cor de jambo é a índia, que ninguém contesta
De uma altivez que o Império nunca vira
É a tradição, é a raça, é a nossa origem
As coisas da história de São Paulo exigem
A honra que se faça ao nome de Bartira, Bartira
MONÇÕES
Era tudo, era o nada rio acima
Que o paulista no peito ia vencer
Pra fazer mais Brasil do que existia
Já o tempo era pouco pra perder
Reunindo oração e despedida na partida da horda triunfal
Caçador da esmeralda perseguida
Foi fazendo a unidade nacional
Bandeiras, monções
Já se dava por glória ao que se ia
Porque mal se sabia se voltava
E a benção levada já servia
De unção para quem por lá ficava
Nas monções quem seguia, na verdade
Já partia cheirando à santidade
Quem não via esmeralda ou não morria
Povoava cidade mais cidade
Bandeiras, monções
TEMA DE SÃO PAULO
São Paulo que amanheceu trabalhando
São Paulo, que não sabe adormecer
Porque durante a noite, paulista vai pensando
Nas coisas que de dia vai fazer
São Paulo, todo frio quando amanhece
Correndo no seu tanto o que fazer
Na reza do paulista, trabalho é o Padre-Nosso
É a prece de quem luta e quer vencer
CAPITAL DO TEMPO
Bastante italiano, sírio e japonês
Além do africano, índio e português
Tudo isso ao alho e óleo, temperando a raça
Na capital do tempo, tempo é ouro e hora
Quem vive de espera, é juros de mora
Não tem mais-mais nem menos, ou é sim ou não
No máximo se espera pela condução
Nas retas da Rio-São Paulo, chegando, chegando eu vim
E vi o mundo aumentando, o Brasil passando por mim
Paulista é quem vem e fica plantando, família e chão
Fazendo a terra mais rica, dinheiro e calo na mão
O DINHEIRO
Dinheiro, mola do mundo, que põe a gente na tona
Que leva a gente ao fundo
Sim, senhor, sim, senhor, sim, senhor
Que faz a paz e a guerra, que trouxe a Lua pra Terra
No mais aumenta a barriga do comendador
Dinheiro, juras e juros, que ergue todos os muros
Pra ele próprio depois, derrubar, derrubar
É a voz que fala mais forte, razão de vida e de morte
Também só compra o que pode comprar
COISAS DA NOITE*
Casais entram no Catedral
O fino pra curtir um som
Do Beco ao TelecoTeco, amanhecem no TomTom
A noite é sempre uma criança, é só não deixar crescer
Assim existe esperança, no amanhecer
São coisas da noite, anúncios conhecidos
Que enfeitam a cidade, em movimentos coloridos
Alguém vem do trabalho, do baralho ou do que for
Do La Licorne ou Ceasa, de alguma coisa do amor
Tem sempre mais um, que vem pela calçada
Na bruma que esconde quem sobrou na madrugada
Dei tempo ao tempo, o tempo é que não dá
Tenho que estar pelas sete, no Viaduto do Chá
Olha o Sol, olha o Sol, cadê o Sol? Onde o Sol?
Sumiu, sumiu, sumiu.
O CÉU DE SÃO PAULO
Quando amanhece, o Sol comparece por obrigação
Nublado, cansado, um Sol de rotina
Se bem ilumina, nem dão atenção
É que o bandeirante não perde o seu tempo
Olhando pro alto, o Sol verdadeiro está no asfalto
Na terra, no homem e na produção
A cor diferente do céu de São Paulo não é da garôa
É véu de fumaça, que passa, que voa
Na guerra paulista das mil chaminés
São Paulo, que amanhece trabalhando
AMANHECENDO
Começou um novo dia, já volta quem ia,
O tempo é de chegar
Do metrô chego primeiro, se tempo é dinheiro
Melhor, vou faturar
Sempre ligeiro na rua, como quem sabe o que quer
Vai o paulista na sua, para o que der e vier
A cidade não desperta, apenas acerta a sua posição
Porque tudo se repete, são sete
E às sete explode em multidão:
Portas de aço levantam, todos parecem correr
Não correm de, correm para
Para São Paulo crescer
Vambora, vambora, olha a hora
Vambora, vambora,
Vambora, vambora, olha a hora
Vambora, vambora
Vambora
O TEMPO E A HORA
Que o tempo não espera, a vida é derradeira
Quem é vai ser, já era de qualquer maneira
O mundo é do “eu quero”
Quem me der é triste, tristeza basta a guerra
E o adeus no amor
Você onde é que estava quando o tempo andou?
Na terra que não pára, só você parou
Vambora, vambora, olha a hora
Vambora, vambora,
Vambora, vambora, olha a hora
Vambora, vambora
Vambora
Que vale é a versão, pouco interessa o fato
Porque a sensação maior é a do boato
Em coisa de um segundo, noite é madrugada
Notícia ganha o mundo, e a gente não é nada
Você onde é que estava quando o tempo andou?
São Paulo nunca pára, só você, parou
REFRÃO
São Paulo que amanheceu trabalhando
São Paulo, que não sabe adormecer
Porque durante a noite, paulista vai pensando
Nas coisas que de dia vai fazer
São Paulo, todo frio quando amanhece
Correndo no seu tanto o que fazer
Na reza do paulista, trabalho é o Padre-Nosso
É a prece de quem luta e quer vencer
VIVA O CAMELÔ
Na Praça do Patriarca, rua Direita, São Bento
Na Líbero Badaró, no Viaduto do Chá
Lá está aquele moço, que não dá ponto sem nó
Na conversa bem jogada, vai vendendo geladeira
Pra esquimó curtir verão
Papo firme é isso aí, desse dono da calçada
Rei da comunicação
Olhe aqui, dona Teresa, o produto de beleza
Que chegou da Argentina, examina, examina
De brinde pra seu marido
Nova pomada pra calo que resolve a dor de ouvido
Tem Parker 73, compre uma e ganhe seis
Nem paga o justo valor, mais outra ali pro doutor
Leve a Lei do Inquilinato, mesmo não sendo inquilino
Morar na lei é um barato, e ele prova à sua maneira
Que um ataque de besteira, faz de um doutor um otário
Cursando numa avenida o vestibular da vida
Para ser bom empresário
PRO ESPORTE
Ser do São Paulo, do Corinthians e Palmeiras
É ter o fino em futebol durante o ano
Em tênis, remo, natação, nas domingueiras
Bom é Pinheiros, Tietê ou Paulistano
Com Ademir, com Rivelino no gramado
Com rei Pelé, suas jogadas de veludo
Não é de graça que São Paulo é chamado
Melhor da América Latina em quase tudo
Pró-esporte, pró-esporte é a solução
Pró-esporte, pró-esporte contra a poluição
Lá por setembro o estudante nos ensina
Aquele esporte pelo esporte que não cede
E o meu Mackenzie, dá um show com a Medicina
Na grande guerra que se chama MacMed
Em campeonato mundial estamos nessa
Com Éder Jofre e os Fittipaldi, é pra valer
Só em São Paulo que é a terra do depressa
A São Silvestre poderia acontecer
Pró-esporte, pró-esporte é a solução
Pró-esporte, pró-esporte contra a poluição
SÃO PAULO JOVEM
São Paulo jovem, dos que promovem velocidade
Nos seus cavalos, de roda e ferro, na sua forma de liberdade
O peito agarra, a costa de aço
Que deu garupa na Yamaha, no upa-upa
Feito de abraço e muito amor
São Paulo jovem, na mesma cela
Vão ele e ela, por onde seja
Deus os proteja, pelos caminhos da vida em flor
RUA AUGUSTA
Tem coisas da Ipiranga, da Itapetininga
Até da São João às vezes também dá
O chá, o show, o chops, uísque, boa pinga
E o molho das mulheres que transam por lá
Tem loja, tem butique, tem pizzaria
Boate, restaurante, até casa lotérica
É rua que de nada mais precisaria
Com todo aquele charme do Jardim América
América!
Rua Augusta
E agora, já é hora
E ninguém vai embora, embora de lá
Rua Augusta, e agora, já é hora
E ninguém vai embora, embora de lá
Bartira e João Ramalho nunca imaginaram
Que a tanga e a miçanga vinham outra vez
Agora nos diriam vendo que acertaram:
Valeu o nosso amor, pelo amor de vocês
A moça quando passa ninguém vê mais nada
Quando ela vai na dela, é pra machucar
É a paulistana boa, despreocupada
De short ou de pulôver**, bota pra quebrar, pra quebrar
Rua augusta, e agora, já é hora
E ninguém vai embora, embora de lá
GRANDE SÃO PAULO
Na sinfonia, que é de todos os barulhos
De Santo Amaro, ao Brás, ao Centro, ao ABC
Por Santo André, Vila Maria até Guarulhos
Grande São Paulo, como eu gosto de você
São Paulo, que amanhece trabalhando
São Paulo que não pode amanhecer
Porque durante a noite, paulista vai pensando
Nas coisas que de dia vai fazer.
* Catedral, Beco, TelecoTeco, TomTom, La Licorne: todas conhecidas casas noturnas de São Paulo nos anos 70. A Ceasa depois virou Ceagesp.
** No original era minissaia, mas na gravação alguém disse: “é lindo, mas São Paulo é muito frio”. Então o Billy trocou por pulôver.
com informações de: Estadão / G1
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