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Internet leva adolescentes de hoje a fazerem mais truques arriscados?

Internet leva adolescentes de hoje a fazerem mais truques arriscados?

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 3:23

Será que a internet está levando os adolescentes a fazer mais idiotices do que antes? Alguns especialistas temem que isso esteja acontecendo. Os adolescentes sempre foram propensos a correr riscos estúpidos (em partes graças ao córtex cerebral pré-frontal, que governa a tomada de decisões e ainda se encontra em fase de desenvolvimento na adolescência). Segundo pesquisadores, porém, com o crescimento de sites como YouTube e Facebook, os adolescentes agora lidam com a pressão virtual de colegas para imitar todos os tipos de artimanhas e desafios perigosos, que acabam sendo postados na Web.

Não há dados que demonstrem se tais imprudências inspiradas pela internet estão realmente aumentando, ou ainda se os adolescentes continuam correndo os mesmos riscos que gerações anteriores e simplesmente acham mais fácil registrar tais idiotices para todo mundo ver.

Entretanto, alguns médicos afirmam que a internet está, no mínimo, levando adolescentes a elevar o nível de perigo. Algumas semanas atrás, o Dr. E. Hani Mansour, médico especialista em queimaduras da cidade americana de Livingston, estado de Nova Jersey, atendeu um adolescente que sofreu queimaduras graves ao acender rojões. O garoto encheu a banheira de sua casa com rojões, cobriu seu corpo com vestimentas protetoras e instalou uma câmera de vídeo para registrar o evento. A explosão resultante, que o adolescente tinha a intenção de postar no YouTube, como mais tarde relatou, criou uma bola de fogo que deixou queimaduras em aproximadamente 14% do corpo do garoto.

"Já faz muito tempo que os garotos querem ser cientistas espaciais", disse Mansour, médico diretor do centro de queimaduras da clínica St. Barnabas Medical Center. "Mas, agora estamos presenciando isso de uma forma mais descarada. Eles fazem essas coisas com a intenção de filmá-las".

De fato, o que diferencia muitas jovens vítimas de queimaduras atualmente é que, diferentemente de seus correspondentes do passado, o que eles mais esperam é criar um espetáculo flamejante, frequentemente tomando apenas precauções básicas como cobrir a pele.

No inverno passado, um garoto de 15 anos quis filmar sua tentativa de fazer uma cesta com uma bola de basquete em chamas. Ele usou várias camadas de roupas para proteger a pele e antes de por fogo na bola encharcou a mesma com gasolina. Mas, ao arremessá-la, suas roupas pegaram fogo. O médico conta que o garoto está se recuperando, mas ficará com cicatrizes de queimaduras de segundo e terceiro graus no peito, abdome e coxas.

Uma busca no YouTube pela frase "flaming basketball" (bola de basquete em chamas) trás mais de 100 vídeos. Em uma apresentação para a Associação Americana de Queimaduras, Mansour estudou 46 vídeos de internet centrados em "truques com fogo". Mesmo que alguns envolvessem adultos, a maioria dos participantes parecia ter entre 13 e 20 anos, e alguns pareciam ser ainda mais jovens.

Em abril, pesquisadores canadenses relataram o número crescente de vídeos online documentando asfixia recreativa - prática comumente conhecida com "choking game": brincadeira que consiste em impedir que o oxigênio chegue ao cérebro através do estrangulamento para alcançar um estado de euforia. Os 65 vídeos mostravam adolescentes se estrangulando propositalmente para criar um breve "barato". Apesar de a brincadeira já existir a décadas (há uma referência à mesma em uma publicação médica britânica dos anos 1890), alguns especialistas temem que a internet venham tornado a prática mais popular. De acordo com o relatório publicado na revista médica Clinical Pediatrics, os 65 vídeos já tinham sido vistos quase 174.000 vezes.

Prática conhecida como "choking game"

"O YouTube vem anunciando tais atividades, atingindo um público mais amplo e ensinando as pessoas como fazê-las", disse a principal autora do estudo, Dra Martha Linkletter, pediatra titular do centro médico IWK Health Center em Halifax, Nova Escócia (EUA). Alguns especialistas dizem que sites como o YouTube e o MySpace, dentre outros, deveriam ser usados para alertar os adolescentes quanto às consequências de comportamentos arriscados. Mansour disse que seu hospital pretende lançar um vídeo no YouTube relatando o sofrimento e as cicatrizes provenientes de acidentes com queimaduras.

O Dr. Megan A. Moreno, especialista em medicina adolescente da Universidade de Wisconsin, recentemente conduziu um estudo no qual um personagem do MySpace chamado Dr. Meg tentava atingir adolescentes que usavam suas páginas no site para contar vantagens de bebedeiras e aventuras sexuais. "Você tem certeza que isso é uma boa ideia?", perguntava o Dr. Meg, que depois explicava as razões pelas quais os adolescentes talvez quisessem remover suas informações postadas. A pequena mensagem também os advertia quanto aos riscos de doenças sexualmente transmissíveis. Segundo o estudo, publicado no The Archives of Pediatrics & Adolescent Medicine, adolescentes contatados pelo Dr. Meg eram duas vezes mais propensos a remover as referências a aventuras sexuais e uso de substâncias nos próximos três meses do que aqueles que não foram contatados.   

Além dos riscos óbvios que os jovens correm ao filmar truques perigosos, alguns médicos estão intrigados com a forma como a internet pode estar influenciando o desenvolvimento normal dos adolescentes. Moreno remarca que uma das características distintas do início da adolescência é a "platéia imaginária" – a sensação de insegurança de que todo mundo está te observando.

"Para crianças no ensino médio, uma parte bem normal disso é a percepção de que você está em um palco e todo mundo está olhando para você", disse Moreno. "Mas, as crianças de hoje estão crescendo em um mundo diferente. É um mundo onde realmente existe uma platéia".

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