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Jovem do UFC: "Minha mãe catava lata para pagar minha viagem"

Jovem do UFC: "Minha mãe catava lata para pagar minha viagem"

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:30

No próximo sábado (27), o lutador de Muay Thai e MMA (artes marciais mistas) Anderson Silva, detentor de nove títulos só no Ultimate Fighting Championship, enfrentará o japonês Yushin Okami pelo UFC Rio, disputa que reúne alguns dos maiores lutadores brasileiros. Aos 36 anos, o "Aranha" é um dos bons motivos pelos quais os ingressos para o UFC Rio se esgotaram em 1h14min, e atingiu um status admirado e cobiçado por jovens lutadores.

Enquanto Aranha se prepara para a luta, em uma pequena academia em Vicente de Carvalho, subdistrito situado na periferia de Guarujá, São Paulo, treina Charles "do Bronx" Oliveira, de 21 anos, um dos jovens brasileiros que sonham com o sucesso e o respeito de Anderson Silva, e uma das apostas do UFC. Lutando pelo Ultimate Fighting desde agosto de 2010, Charles já conquistou vitórias em lutas que duraram apenas 40 segundos e finalizou com mata-leão adversários como o espanhol Efrain Escudero, vencedorr do The Ultimate Fighter 8.

Embora ainda tenha um longo caminho a trilhar, a trajetória de Charles até o UFC não foi fácil. "Quando eu tinha 12 anos minha mãe me deixou treinar jiu jitsu, mas meu pai não tinha dinheiro para pagar a academia", conta, recordando que, na época, a mãe tinha um carrinho de lanches e ele ficava por perto, brincando na rua. "Eu e meu irmão ganhamos bolsas para começar a treinar", diz Charles.

Cerca de uma semana após o começo das aulas de jiu jitsu, Charles foi diagnosticado com sopro no coração e reumatismo, doença óssea que facilita a ocorrência de fraturas. A orientação que recebeu do médico foi que parasse de treinar imediatamente. "Ele falou que eu tinha que ficar parado e me tratar", conta o lutador. Charles se recusou a seguir as recomendações, mas, sob a crença médica de que o esporte poderia agravar o problema de saúde, passou os anos seguintes tomando injeções de Benzetacil a cada 20 dias. "Meu pai levou minha primeira medalha no hospital, para mostrar para o médico", lembra.

Desde essa época, Charles se destacava nos treinos e pressionava o treinador para que o inscrevesse em todos os campeonatos. Mas alguns eram em São Paulo, e a família do jovem não podia arcar com os custos da viagem. "Meu pai falava com uns amigos dele, deixava de pagar a conta de luz para me ajudar, minha mãe catava latinha e papelão para pagar minha condução", diz o lutador. "Até o pessoal da academia ajudava porque apostava que eu ia ganhar".

"O menino franzino, o mais leve, de 18 anos e que nunca tinha lutado, venceu por nocaute", conta o treinador sobre a primeira luta profissional de Charles

Quando conseguia chegar às competições, Charles não decepcionava. "Quando fez 18 anos apareceu um grand prix. Eram três lutas na noite, ele nunca tinha lutado profissionalmente, pesava 77 quilos, e os outros caras, 85. Todo mundo achava que ele ia ser morto lá em cima", conta Erick Cardoso, treinador de Charles desde que ele era só um inquieto garoto de 12 anos. "Ele lutou contra o favorito, deu um mata-leão e fez o cara desistir do primeiro round. O menino franzino, o mais leve, de 18 anos e que nunca tinha lutado, venceu por nocaute", comemora Erick.

A luta foi no Rio de Janeiro, e o pai de Charles, seu Francisco, lembra bem do episódio. "Ele viajou escondido da mãe para ela não ficar preocupada", ri.

Lutador profissional

Depois dessa vitória, tantas outras em GPs vieram, no Brasil e nos Estados Unidos, e aos 19 anos Charles conseguiu patrocinadores. "Eles me dão tudo de equipamento. Luva, caneleira, bandagem... Eu ganho bastante suplemento, porque o atleta tem que tomar, e eles mandam muito, o suficiente para dividir com o meu irmão e com o Junior Maranhão", conta Charles, referindo-se ao irmão caçula que também se dedica ao MMA e ao jovem lutador maranhense de 18 anos que foi ao Guarujá treinar, viveu por algum tempo em um quarto na academia e, para não voltar ao Maranhão, foi convidado a morar com Charles. "Eu pago minhas contas por isso, porque os patrocinadores me ajudam", revela.

Ele conta que, no começo, gastava boa parte do dinheiro que ganhava com as lutas. Mas nunca com baladas, bebidas ou drogas. "Sou centrado, não gosto de baladas", diz. Com o passar do tempo, aprendeu a guardar um grande percentual do que fatura. "Se eu ganho sete mil dólares em uma luta nos Estados Unidos, volto para o Brasil com dois mil, e os outros cinco eu deixo no banco", conta. Com o que ganha lutando, ele já comprou uma casa para os pais, ali mesmo, em Vicente de Carvalho, uma moto "para agilizar, porque eu vinha para a academia de bicicleta" e seis carrinhos de controle remoto, as únicas pequenas extravagâncias que Charles se permite. "Desde moleque eu gosto daqueles carrinhos de controle remoto grandes. Toda vez que vou aos Estados Unidos volto com um", confessa.

Charles na luta contra Nik Lentz, que terminou com vitória do brasileiro mas, após reavaliação do UFC, ficou no empate

A última luta de Charles foi há duas semanas, contra o americano Donald Cerrone, em Milwaukee, nos Estados Unidos. Ele passou dois meses no exterior se dedicando a uma extenuante rotina de treinos de esforços para perder peso. "Quando tem luta treino jiu jitsu de manhã, à tarde e à noite, além de muay thai e vale tudo. E faço esteira e musculação", revela o atleta, que às vésperas da luta tem de maneirar na alimentação e ingerir menor quantidade de líquidos para manter os 70 quilos.

Apesar do empenho, o jovem lutador voltou para casa com uma derrota. "Acabei perdendo essa luta para um cara que é o top 10 da categoria. Eu ganhei duas seguidas, perdi uma, tive um empate e perdi essa agora", explica. "A minha vida sempre foi de superação, pelos problemas que eu tive, por muita gente não acreditar em mim, pelas pessoas que eu achava que eram minhas amigas e não eram. Minha vida sempre foi de superação, e agora eu vou superar isso".

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