Um problema sério no campo é a educação. Na zona rural brasileira, 800 mil jovens são analfabetos e metade dos professores não tem nível superior. Além disso, 23% das escolas funcionam sem energia elétrica.
As estudantes de colégio rural Fernanda Barbosa e Lorena Capetti estudam juntas desde a primeira série. Com objetivos parecidos, cada uma já escolheu o caminho que irá seguir.
- Pretendo me preparar para entrar numa universidade federal - conta Lorena.
- Eu pretendo fazer administração, arrumar emprego e começar a vida, e aí sim, pagar a faculdade de agronomia caso eu não consiga uma bolsa - comenta Fernanda.
A principal reclamação dos jovens é de que falta infraestrutura nas escolas da zona rural. E quando ela existe esbarra em outros problemas. Em uma das escolas, os computadores ainda não foram ligados neste ano porque falta um professor substituto para orientar os alunos.
- A gente tinha que dispor de um refeitório, de salas temáticas e de uma quadra poliesportiva desabafa Fernanda.
Para compensar o que falta, a diretora convida profissionais de diferentes áreas para trocar experiências com os alunos.
- Nós não fazemos questão nenhuma que esses alunos fiquem engessados e só enxerguem o campo. O campo é uma das possibilidades, mas ele também pode ser inserido com tranquilidade no meio urbano e na sociedade como um todo. Se nós passarmos para eles que porque são do campo devem permanecer nele, estaremos praticando discriminação informa a professora Alcemira Gasperrini.
É para formar professores com uma visão ampla sobre o ensino rural que a Universidade de Brasília oferece a Licenciatura para Educação no Campo. O curso começou em 2007, e a primeira turma se forma em maio deste ano.
- Nossa vontade é que as escolas rurais comecem a se transformar, que essas crianças que estão entrando nas escolas rurais possam encontrar professores que ampliem o horizonte de vida dessa divisão cultural, de visão social dessas novas gerações que vão surgir - explica a professora da Universidade, Laís Mourão.
O aluno e agricultor Janderson do Santos precisou provar vínculo com meio rural antes de prestar o vestibular, pois metade das aulas são práticas.
- Eu posso ficar no assentamento, continuar trabalhando na terra, continuar minha vivência no campo e estudando ao mesmo tempo. Esse sistema de alternâncias favorece quem é do campo estar na universidade - diz.
Ele conta que a experiência de vida foi decisiva na escolha por ensinar.
- Muitos dos professores que estão na zona rural são professores que não são da zona rural. Muitas vezes não vivem na zona rural e não conhecem a realidade desse local. Vêm muitos professores da cidade e nós podemos mudar essa realidade - conclui.
Enquanto o campo não forma seus próprios professores, os estudantes se adaptam.
- Quando a pessoa quer, ela pode estudar e ir em busca mesmo com os obstáculos - comenta a estudante Lorena.
- Talvez o diferencial seja que eles têm que buscar mais, têm que mostrar três vezes mais que são melhores que os outros para poder conseguir o mesmo caminho que os demais - informa a professora Alcemira.
Por: Maíra Gatto
CANAL RURAL
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