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Ortegas: "A gente gosta de ser coerente com o que estamos vivendo"

Ortegas: "A gente gosta de ser coerente com o que estamos vivendo"

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:47

GUIA-ME: Queria saber um pouquinho da história de vocês. Começaram na música por influência do pai ou tinham vontade desde pequenos?

Rafael: Desde antes de nascermos nós já ouvíamos músicas. Meu pai conta que colocava música clássica, música de músico mesmo, não essas músicas que a galera escuta normalmente, e na barriga da minha mãe a gente já ia ouvindo. Quando tínhamos uns 5 ou 6 anos meu pai colocou a gente na aula de piano porque dava uma noção boa de harmonia e depois cada um escolheu o seu instrumento, um negócio bem natural. O Matheus foi para o sax, eu fui para o violão e o Pedro para a bateria, e hoje todos voltando a tocar piano novamente.

GUIA-ME: E as composições, são vocês mesmo que fazem? Como é o processo de produção?

Rafael: A gente já gravou alguns CDs com o meu pai, mas ano passado foi o primeiro nosso mesmo, Ortegas começou ano passado. A gente produziu o CD 'Revolução do Amor' inteiro, nós que fizemos todas as músicas, todos os arranjos, gravamos todos os instrumentos e a quis fazer um negócio para que fosse a nossa cara, porque, às vezes, você chama produtor e acaba ficando a cara dele. Nós que compusemos e gravamos todas as músicas.

GUIA-ME: E como é na hora de escrever a música? Um começa e outro dá um palpite? Acaba tendo algum conflito de idéias?

Rafael: Ah, cada música tem uma história, é engraçado. Teve uma, em específico, que é 'Folha no vento', que o Matheus estava fazendo, eu saí e quando voltei já era quase meia noite e ele 'cara, me ajuda aí, precisa fazer um coro pra essa música' e a música já estava super legal com a idéia do piano, o verso, estava praticamente inteira, aí oramos e na hora veio o coro.

Matheus: A inspiração é sempre do que a gente vive, da experiência de vida. Eu consigo passar através da música algo que eu sinto, mas não consigo falando e nem escrevendo de nenhuma outra forma. Através da música a gente consegue transmitir um sentimento, uma vida e o evangelho.

GUIA-ME: Como é ser jovem, músico e cristão nessa geração? É fácil?

Pedro: É um desafio. Uma coisa que eu sempre falo para os meus irmãos é que eles me apoiam muito. Estamos sempre juntos e isso nos fortalece muito para sermos jovens cristãos, pelo menos na minha parte, e acredito que na deles também. Nós três somos muito unidos. Às vezes a gente está mal, aí a gente conversa, enfim, somos amigos, e isso é uma coisa que fortalece e que também transparece quando a gente toca. Por sermos amigos, enquanto a gente toca, a gente está se divertindo, ou seja, é um desafio, mas é muito legal.

Rafael: Desde pequenos somos muito unidos. A gente morou no Reino Unido quando éramos crianças, a família inteira como missionários, e a gente não sabia falar inglês, então meus amigos eram meus dois irmãos e para eles a mesma coisa e essa amizade continuou.

Matheus, Rafael e Pedro Ortega

GUIA-ME: Então, mesmo quando não estão juntos a trabalho, vocês costumam sair bastante juntos?

Matheus: Ah, cada um tem seu rumo de vida. Todos queremos casar um dia e cada um vai seguir um caminho, mas a gente sabe que mesmo cada um seguindo seu caminho, um vai estar entrelaçado no outro porque é um vínculo muito forte.

Rafael: A música sempre une a gente. Sempre traz de volta para ficar junto. E, apesar de ter faculdade, ter não sei o que, quando vem a música junta de novo.

GUIA-ME: Vocês não vivem da música, não é? Cada um tem uma segunda atividade?

Matheus: É muito complicada essa pergunta.

Rafael: Na verdade depende do mês. Esse mês eu não vivo da música. O Matheus, até semana passada, vivia da música. É uma fase de acertar emprego e tal.

Matheus: O Pedro é tenista. Joga tênis e estuda administração, então está fazendo alguma coisa durante o dia inteiro. Ele é mais da área de esportes e está investindo como a profissão dele.

Eu estou investindo em uma área artística de cinema, estou com uma produtora de artes e também em trabalho social. Acabei de entrar em uma ONG para desenvolver projetos nessa área artística, e o Rafa trabalha em uma empresa de direitos autorais na área de música. A gente está trabalhando na vida para cada um encontrar sua área e conciliar o ministério com isso tudo.

GUIA-ME: Falando um pouco da internet... Vocês têm perfil em todas as redes sociais? Acessam com freqüência?

Matheus: Eu tenho aversão a gente que não para de escrever [risos]. Tem o twitter @OrtegasOficial e a gente sempre gosta de acompanhar a galera, até porque é uma forma muito fácil de transmitir o que a gente quer passar, então eu vejo como um meio e não como um fim. É uma ferramenta que eu posso usar para transmitir o que Deus tem falado.

Rafael: É um jeito bom de ouvirmos um pouco deles, tipo tocar em algum lugar e o cara falar 'meu, fui muito abençoado, aconteceu isso na minha família, essa música tal falou comigo'. É uma coisa que se você vai no lugar, você pode não sentir, mas se o cara escreve pra você, você pensa 'nossa, que demais'.

GUIA-ME: Quando vocês vão escrever uma música ou até quando vão postar algo para a galera ler, que mensagem buscam passar para os jovens?

Matheus: A mensagem é a revolução do amor. Isso surgiu de uma experiência muito forte que a gente teve no Haiti, a gente viu um país destruído, muita gente sofrendo e chegamos a conclusão de que temos que fazer a diferença nesse mundo. Se queremos ser chamados cristãos temos que abrir mão do que queremos para a nossa vida e seguir o chamado de Deus para nós, e a gente entendeu que esse chamado era começar esse CD e transmitir essa mensagem, que temos que viver uma transformação interna que vai nos levar a uma transformação externa. A revolução começa dentro de nós, a gente vai amar a Deus e amar ao próximo e isso vai fazer com que a gente queira impactar a sociedade. É isso que queremos passar aos jovens e adolescentes, vamos nos levantar e fazer a diferença no Brasil e no mundo.

GUIA-ME: Explorando mais essa ida de vocês ao Haiti, como surgiu a ideia de ir para o país e o que mudou na cabeça de cada um com a experiência?

Matheus: Eu estava trabalhando nessa área de trilha sonora de filme. Um amigo meu está fazendo um documentário no Haiti e me chamou para participar do documentário junto com uma ONG para levar água e alimento. Fui lá, toquei uma vez, toquei outra, e fui percebendo que a música tinha um impacto muito grande. Aí traduzi uma música para o crioulo e comecei a usar a música para abençoá-los. Aí tivemos a idéia da escola de música e foi tudo indo, mas tudo começou com a oportunidade ir com a ONG Mais no Mundo, do pastor Mario Freitas, e as portas estão se abrindo.

Rafael: Aí o Matheus voltou duas vezes pra lá no ano passado e esse ano, em janeiro, fomos nós três com o meu pai. A gente foi para começar a escola de música, então levamos um monte de instrumentos e ficamos dando aulas de música para a galera por um tempo intensivo.

É louco porque o índice de desemprego lá é de 90% e a gente começou a dar aula de música de graça e começou a vir gente de todo lugar porque as pessoas ficam o dia inteiro sem fazer nada e no final tinha 80 pessoas querendo ter aula de música, bagunça total. Foi algo que deixou a gente muito feliz.

Foi um negócio de abrir meus olhos para ver o tanto de coisas que a gente tem e não dá valor. Cheguei em casa e fui direto para o meu chuveiro, para a minha privada, para o meu quarto. Lá a gente estava sem nada, e é a vida que eles estão vivendo hoje por causa do que aconteceu. O amor que eles têm e transmitem pra gente, a presença de Deus naqueles lugares é coisa de outro mundo. Não têm nada, mas não deixam de ter a presença de Deus por causa disso.

Pedro: O que mais me impactou foi ver a loucura que eu vivo aqui. Lá a gente brincava que o tempo não passava, você ficava duas horas conversando à noite, que de vez em quando não tinha luz, e tinha passado só quinze minutos. A vida que a gente vive aqui é um absurdo. A gente vive uma correria que não tem tempo pra parar, olhar para a natureza e ver Deus em tudo; e lá, por mais que tivesse tudo destruído, um caos, a gente parava, e parece que são nas coisas simples que nós encontramos a Deus.

GUIA-ME: No canal de vocês no YouTube tem um vídeo 'Cross the Line', que conta com o Matheus na produção, e retrata a diferença social. Como foi produzir um curta-metragem e ver o resultado final da gravação?

Matheus: Nossa, essa experiência foi maravilhosa. Muito trabalho. Não ganhei nada para fazer isso, mas está abrindo muitas portas, mas eu fiz porque acredito que a arte pode ser um meio fortíssimo para impactar a sociedade e gerar conscientização em vários temas. Eu comecei a me envolver com o cinema quando eu fui para o Haiti para fazer o documentário e me envolvi mais com a produtora, a Phanton, comecei a ir em conferências do governo britânico, uma organização do Reino Unido, fui para Londres e fui capacitado para fazer projetos sociais, eles me deram essa visão, aí pensei 'por que não usar as artes para trabalhos sociais?'. Então surgiu a idéia de fazer um filme para tratar esse assunto, que é muito melhor do que uma palestra em uma escola. A idéia é usar esse filme em cinco países diferentes para tratar a pobreza na América Latina e a inclusão social.

Fizemos o trabalho, fechamos o metrô de São Paulo que foi muito difícil, mas conseguimos. Era um projeto com o custo muito alto, mas que a gente conseguiu financiamento, e hoje eu vejo que é algo que eu quero seguir para o resto da vida. O cinema fala muito com as pessoas, tem até uma frase que um cara falou uma vez: ' pense no maior pregador de hoje, quem você pensa que é? O maior pregador de hoje é o Mel Gibson porque ele conseguiu chegar ao mundo inteiro e todo mundo viu o que ele pregou com o filme dele [A Paixão de Cristo]'. Acho que é uma forma incrível de alcançar pessoas. Eu posso entrar no mundo árabe e em qualquer país do mundo com o YouTube, o facebook, por exemplo, ajudou na revolução do Egito, foi o que tirou o ditador do poder, e eu tenho visto como isso é impactante nos dias de hoje. Por que não entrar nessa área e ser usado para impactar pessoas?

GUIA-ME: Quais são os novos projetos dos Ortegas?

Rafael: Tem muita coisa boa. A gente quer gravar um clipe, já estamos com umas ideias loucas e estamos juntando dinheiro. Tem um single que estamos fazendo também e que a gente quer lançar. Mas ainda temos muito o que explorar desse CD, é uma mensagem que a gente quer passar e o que estamos vivendo também.

Matheus: A gente gosta muito de ser coerente com o que estamos vivendo, não fazer apenas por fazer, senão estaríamos com uma gravadora talvez. Queremos produzir de acordo com o que a gente vive.

Por Juliana Simioni

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