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Os perigos da paquera digital

Os perigos da paquera digital

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:38

O congressista Anthony D. Weiner pode ter ido longe demais. Mesmo assim, os flertes online e fotos provocantes que lhe causaram tantos problemas não são nada incomuns entre adultos atualmente, segundo especialistas.

Com amigos do Facebook, seguidores no Twitter e conversas por vídeo do Skype, hoje é muito fácil flertar com estranhos e se envolver em fantasias sexuais sem (tecnicamente) quebrar os votos matrimoniais. O flerte digital tornou-se normal.

Por exemplo, o 'sexting'  - enviar mensagens de texto ou fotos sexualmente sugestivas, como fez Weiner - é geralmente visto como um passatempo juvenil.

Porém, segundo um relatório do Internet and American Life Project, divisão da empresa de pesquisa Pew Research Center, com uma representativa amostra de 2.252 adultos entrevistados por telefone em maio de 2010, a prática é mais comum entre pessoas de 18 a 29 anos.

Quase um terço desse grupo afirma ter recebido fotos sugestivas ou sexuais de alguém que conhecem e 13 por cento dizem tê-las enviado, segundo o relatório. Mesmo entre pessoas de 30 a 49 anos, 17 por cento dizem já ter recebido as fotos e 5 por cento já as enviou. Pesquisas similares da Pew mostram que os números comparativos entre adolescentes com celulares são de 15 por cento e 4 por cento.

"Dada a alquimia do sexo e da luxúria com a tecnologia, não é estranho que os números sejam altos assim", declarou Amanda Lenhart, especialista em pesquisa na Pew. "Informalmente, todos que conhecem jovens adultos solteiros conhecem também pessoas que fazem isso".

Nancy Baym, professora de estudos da comunicação na Universidade do Kansas e autora do novo livro 'Personal Connections in the Digital Age' ('Conexões pessoais na era digital', em tradução literal), concorda. "Acho que somos inclinados a culpar os adolescentes por comportamentos dos quais também somos bastante culpados", afirmou ela. "Adultos são capazes de fazer coisas realmente estúpidas na internet".

Os dados refletem as novas regras do romance digital, no qual textos de flerte substituíram os telefonemas e redes sociais como o Facebook substituíram as reuniões de turmas como forma de retomar uma antiga paixão.

"Usamos novas tecnologias em relacionamentos românticos o tempo todo", disse Baym. "Quando duas pessoas se conhecem e têm interesse em desenvolver um relacionamento, eles adotam rapidamente as mensagens de texto como forma de negociar a relação com segurança".

Terapeutas debatem se a internet possibilitou um aumento da infidelidade - afinal, homens e mulheres vêm traindo seus companheiros desde que se tornaram homens e mulheres. Mesmo assim, pequenas mudanças na ocorrência de infidelidade entre jovens e mulheres sugerem que a mídia digital pode ter sua influência. De maneira informal, terapeutas relatam que o contato eletrônico - via Facebook, e-mail e mensagens de texto - permitiu que as mulheres, em especial, formassem relacionamentos mais íntimos.

"Não há dúvida de que a internet aumentou a disponibilidade de parceiros românticos alternativos, seja pelo flerte, pela reunião de antigos amantes ou por relacionamentos sexuais por texto", disse Baym. "A internet expande dramaticamente o escopo das pessoas que podemos potencialmente conhecer".

Contudo, embora a comunicação online possa facilitar a infidelidade, ela também deixa uma trilha digital que aumenta as chances de o infiel ser apanhado.

"Não acho que a internet esteja aumentando as transgressões, mas está deixando uma trilha bastante acessível", disse Lois Braverman, presidente do Ackerman Institute for the Family, especializado em terapia de casais e famílias. "No século 19 tínhamos as cartas; nas décadas de 1960 e 1970 havia os detetives particulares e as faturas do cartão de crédito. A diferença básica é que, antigamente, a transgressão poderia ser descoberta, mas certamente não se tornaria viral".

Alguns pesquisadores acreditam que a ampla disponibilidade de pornografia na internet também contribuiu a uma insidiosa mudança nas posturas em relação ao sexo.

Um estudo descobriu que mais de um terço dos americanos havia visitado algum site pornô pelo menos uma vez por mês, segundo um relato de 2009 em 'The Journal of Economic Perspectives’. Esse estudo analisou as assinaturas a um dos maiores provedores de entretenimento adulto, encontrando uma distribuição relativamente equilibrada de assinaturas em todo o país.

"Por todos os indicadores, isso é algo bastante comum", afirmou um dos autores do artigo, Benjamin Edelman, professor assistente da escola de negócios de Harvard. "Praticamente em todo lugar que você olha, pessoas estão assinando entretenimento adulto online. É algo que ocorre em todos os estados e em todos os países".

Tom Hymes, editor sênior da AVN Media Network, publicação comercial que acompanha a indústria do entretenimento adulto, declarou que o comportamento sexual online já se tornou algo normal há muitos anos.

"Minha perspectiva é que o congressista Weiner vinha se comportando bem, seguindo uma série de normas online, de acordo com o que vemos acontecendo regularmente", disse ele por e-mail. "Porém, seu grande erro foi achar que poderia manter o anonimato (se é que ele achou isso) quando parecia estar fazendo o impossível para usar seu prestígio como deputado em seus flertes online".

Erick Janssen, destacado cientista do Kinsey Institute, disse que mais estudos eram necessários para aprender como a internet e as mídias digitais estão moldando o comportamento adulto e os relacionamentos.

"As pessoas se envolvem em comportamentos como bate-papos eróticos, sedução e exibicionismo - isso está realmente bastante disseminado", disse ele. "Que o comportamento existe, é impossível negar. Ligar essa informação ao status do relacionamento das pessoas, seus valores, o que seu parceiro pode pensar de tudo - esse tipo de coisa nós não sabemos muito a respeito".

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