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Pós-modernidade: Vivendo na companhia da solidão

Pós-modernidade: Vivendo na companhia da solidão

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:38

A solidão já está sendo apontada como o novo mal do século. O diagnóstico é do psicólogo americano John T. Cacioppo, diretor do Centro de Neurociência Cognitiva e Social da Universidade de Chicago (EUA) e autor do livro Solidão: A Natureza Humana e a Necessidade de Vínculo Social (Ed. Record). Na pesquisa, o norte-americano destaca como a vida moderna facilita a crescente falta de vínculos sociais. E geralmente o sentimento é acompanhado de uma sensação de abandono, desamparo e angústia.

No entanto, essa ausência de conexões com o mundo, outras pessoas e mesmo com os eventos da vida faz com que a pessoa se esqueça dos benefícios que a solidão pode trazer para nossas vidas. Isso por isso toda a solidão é necessariamente ruim. Afinal, o que seriam dos poetas, escritores, romancistas, músicos e dramaturgos sem ela, espécie de estímulo para obras inesquecíveis e memoráveis?

De acordo com o psicólogo Paulo César T. Ribeiro, o perigo é quando a opção pelo isolamento se manifesta sob formas patológicas. "Tais como depressão, pânico, vícios ou a busca por escapes que sejam danosos à vida na sociedade". Na opinião do profissional, a impressão que se tem é que as pessoas estão perdendo o interesse pelo outro. Segundo ele, alguns fatores levam a esse tipo de comportamento. "São exemplos a competição da vida moderna, o uso exagerado de recursos tecnológicos e a adoção de condutas que dificultam a aceitação da frustração na convivência com as pessoas", enumera.

Questão de equilíbrio

Para Ribeiro, precisamos entender que o ser humano não é uma máquina infalível que nunca causará algum sofrimento ao outro. "Isso é o que nos faz tolerantes e preparados para o relacionamento interpessoal", avalia. Nos casos de solidão patológica, outra situação bastante frequente é a baixa autoestima, quando as pessoas tendem a se esquivar do contato humano para não sofrerem mais do que o que já sofrem. "Ou seja, não querem o contato humano para não verem confirmados seus sentimentos de menos-valia".

De forma geral, o principal alerta é dizer que ficar só não significa viver em solidão. Isso porque a pessoa pode optar por estar sozinha por diversos motivos e pelo período que for conveniente. Pode, por exemplo, refletir sobre sua existência, ter o intuito de refinar um pensamento, ou 'deixar passar' uma dor pela perda de alguém. Isso faz parte da reconstrução e do crescimento pessoal.

"É interessante saber que existem pessoas que, mesmo acompanhadas, se sentem sós, pois a carência que elas têm, ou a demanda por outros, é tão grande a ponto de serem insaciáveis e se sentirem solitárias", aponta Ribeiro. "Sentir-se só, despreparado para as relações interpessoais, mal amado, não desejado pelos outros, não procurado, isso que é ruim", ele completa.

Solidão necessária

De acordo com o psicanalista e teólogo Paulo César Pereira, a solidão é um processo que o ser humano vivencia, sendo necessária para que possamos desenvolver nossa individualidade. O grande paradoxo é que também precisamos nos relacionar com alguém para nos individualizarmos. Segundo o psicanalista, esse é o grande dilema da modernidade, pois a sociedade atual instrumentaliza o homem, supondo dar todos os recursos para uma vida plena, porém, ao mesmo tempo, isso torna as relações efêmeras. O resultado é um individualismo cada vez maior, que - esse sim - tem potencial bastante destrutivo.

"Atualmente, somos estimulados a competir desde criança. Conta muito ter o carro do último tipo e dinheiro no banco. Apesar de ter seus aspectos positivos, o indivíduo se refugia numa redoma de vidro e apenas sai para o mundo para competir, num mundo voltado para o seu próprio eu", ele explica.

O ideal, portanto, é saber aproveitar tanto os momentos de solidão como as interações e as relações sociais. Se encarada sem neura, a solidão pode ser essencial como exercício de autoconhecimento - e acabar melhorando os relacionamentos pessoais. "Ela também faz parte do sentimento do ser humano", ele explica.

Alguém que não tenha a individualidade bem resolvida pode procurar preencher esse vazio num relacionamento. "E aí que está o problema: ninguém completa ninguém. Isso porque se você me completar eu fico um todo e você desaparece", explica o psicanalista. Ou seja: mais do que a sabedoria materna que dita que antes só do que mal acompanhado, a questão é saber estar tanto só quanto acompanhado.

Por: Vivian Ortiz

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