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A pressa é a inimiga da relação

A pressa é a inimiga da relação

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:16

Já escrevi sobre esse tema algum tempo atrás, mas volto a ele pois vejo que se repete em muitas das mensagens que recebemos. Me refiro à ansiedade que leva à pressa por um relacionamento. Essa me parece ser uma questão essencialmente feminina. Digo isso porque a maior parte das mensagens que revelam essa pressa vem de mulheres. Isso não quer dizer, no entanto, que homens não possam vivenciar a mesma ansiedade por uma relação. Para que fique claro a que me refiro quando falo em pressa e ansiedade, exemplifico com duas mensagens que recebemos ultimamente. Elas foram escolhidas por ilustrarem bem o que tantas outras pessoas nos escrevem. A primeira foi enviada por uma mulher que estava se comunicando com um homem com quem houve um interesse mútuo: 
“(...) Conversamos como se nos conhecêssemos há muitos anos, a conversa flui muito bem. Contudo às vezes ele fica uns 2 dias sem dar noticias. Não sei se devo enviar mensagens, insistir de forma indireta, ou o que fazer? Nos conhecemos há umas 3 semanas, e isto tem se repetido nas semanas. (...) Em 3 vezes na semana conversamos cedo, outros dias ele não aparece, não sei como devo proceder. (...)” 

Nessa mensagem, o que me chamou a atenção de imediato foi a preocupação quando o outro fica dois dias sem dar notícias. Ao que me parece, esses dias são sentidos como um tempo longo demais, a ponto de gerar ansiedade na mulher que nos escreve. Ora, será algo grave, ou que revele desinteresse, uma pessoa que conhecemos há apenas três semanas ficar dois dias sem dar notícias? Comentaremos sobre isso mais adiante. Passemos à segunda mensagem enviada por outra mulher: 

“Conheci um rapaz maravilhoso, começamos a conversar no dia 7/6/10. Ele era tudo que eu queria encontrar num homem, conversávamos todos os dias, trocamos fotos, ele já falava em namoro. Porém na quinta-feira dia 10, ele ficou diferente, logo quis finalizar a conversa, conversamos pouquíssimo. Na sexta-feira eu não pude estar online (...) E no sábado, dia dos namorados, eu entrei online de manhã e ele também estava. Então puxou conversa comigo, mas nem quis saber por que não apareci na sexta-feira (...) não foi capaz de me mandar nem uma mensagem pelo celular neste dia tão especial. No domingo, por volta de 17h, ele estava online no site (...) Deu pra perceber que meu contato estava bloqueado no MSN, ele realmente não queria falar comigo. Então mandei uma mensagem por email, dizendo que percebi a mudança dele, e que se ele realmente não queria mais falar comigo, assim iria ser, eu não ia ficar insistindo. Mas, que o fato de tudo terminar assim doía muito em mim! Ele simplesmente nem respondeu! (...) Fiquei muito triste, porque achava que ele poderia ser a pessoa certa (...)” 

A pressa e a ansiedade, nesse caso, parecem ter prejudicado a relação que se iniciava. Se prestarmos atenção à cronologia dos fatos descritos, veremos que os dois conversaram do dia 07 ao dia 10, sendo que, nesse último dia, ele já estava diferente. Houve, portanto, apenas dois dias de conversa, digamos, “normal”. Em dois dias ela achou que ele seria o homem perfeito. Em dois dias pensou que um dia de ausência seria marcante para ele. Em dois dias imaginou que receberia uma mensagem de dia dos namorados. Em dois dias sentiu a dor da separação. E por que será que ela pensou tudo isso com tão pouco tempo de contato? Graças à ansiedade, ao que me parece. 

A ansiedade por ter uma relação gera uma urgência, uma pressão sobre si mesma para encontrar alguém a qualquer custo. É a ansiedade que leva a uma idealização exagerada do outro. É como se muitas mulheres se sentissem “atrasadas”, precisando recuperar o tempo perdido. Isso as faz olhar para um homem que mal conhecem como alguém perfeito, como aquela pessoa com quem sempre sonharam. Acontece que a pessoa sonhada, o homem perfeito, o príncipe encantado, simplesmente não existem na realidade. Os homens, como as mulheres, estão mais para sapos do que para príncipes. São cheios de imperfeições, imperfeições essas que fazem parte do ser humano. 

Como vimos na última mensagem citada, a ansiedade e a pressa não geram apenas a idealização do outro, mas acabam prejudicando possíveis relações. Isso acontece porque o outro acaba se sentindo pressionado ou, como costumam dizer os homens, sufocados. E quem é que gosta de estar em uma relação sufocante, que não nos permite respirar? Posso imaginar que, no caso da primeira mensagem, o rapaz em questão até poderia estar interessado na moça. Ficar dois dias sem dar notícias podia não ser indiferença ou sinal de desinteresse, mas apenas tempo para respirar. Se duas pessoas têm uma relação, elas precisam se falar ou estar juntas todos os dias? Se ambos quiserem assim, ótimo. Mas se um precisar de um espaço, certamente se sentirá sufocado pelo outro que impõe encontros e ligações telefônicas diárias, como se estas fossem uma obrigação. E, no caso de uma relação que mal começou, essa sensação de sufocamento quase invariavelmente levará ao afastamento. 

Vimos até aqui como a ansiedade pode levar à pressa por um relacionamento, e como essa pressa pode prejudicar a futura relação. Mas o que gera tanta ansiedade, principalmente nas mulheres? É evidente que não existe apenas uma resposta para essa pergunta, pois, como se diz, “cada caso é um caso”. No entanto, o que parece estar por trás de muitos deles é uma descrença na própria capacidade de ter um relacionamento. Muitas mulheres parecem duvidar de si mesmas, parecem achar que não serão consideradas interessantes ou atraentes a ponto de um homem querer estar com elas. Assim, quando aparece uma oportunidade, ela é “agarrada com unhas e dentes”, como se fosse a última ou a única. Os homens acabam percebendo essa maneira de agir, e o final da história é quase sempre frustrante. 

E como controlar a ansiedade? Afinal de contas, é fácil sugerir calma e tranquilidade quando estamos de fora da situação. Em primeiro lugar, é preciso ter mais confiança em si. Quando nos consideramos interessantes, as outras pessoas tendem a nos ver assim também. Por isso há tantas pessoas que fogem dos ideais de beleza e que são bastante felizes consigo mesmas e em seus relacionamentos. 

Em segundo lugar, é importante ter em mente que as oportunidades que surgem não são as únicas nem as últimas. Perder oportunidades que consideramos boas nunca é uma experiência agradável, mas é preciso pensar que outras igualmente boas podem estar ali adiante. 

Por último, não se pode deixar o desânimo tomar conta. Ainda que tenhamos algumas experiências frustrantes, elas não podem nos fazer pensar que não somos interessantes ou atraentes. É sempre importante lembrar que é impossível agradar a todos, assim como não são todos os que nos agradam. Por isso, se não deu certo com um, é essencial permanecer com a cabeça erguida, o orgulho em dia e a certeza de que é possível ser feliz no amor. Sem pressa, ansiedade ou afobação.

 

Por Dra. Mariana Santiago de Matos

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