MENU

Geral

Teve aumento? Não torre tudo

Teve aumento? Não torre tudo

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 3:25

O brasileiro está ganhando mais, mas ainda não aprendeu a organizar as finanças para consumir bem e poupar mais. Saiba como aproveitar melhor seu dinheiro

Você já parou para pensar nas transformações que aconteceram na economia brasileira que impactaram no seu bolso? O real se tornou uma moeda estável e a taxa básica do juro da economia baixou. Essas mudanças deram maior poder de compra a seu salário e tornaram o financiamento mais acessível. Mas não é só. Há mais empregos, com melhor remuneração, e a inflação é bem menor do que a registrada nos anos 80 e 90.

Está muito mais fácil poupar. Na Caixa Econômica Federal (CEF), instituição que detém o maior volume de depósitos no Brasil, a quantidade de pessoas com aplicações entre 7 000 reais e 8 000 reais cresceu 61% nos últimos dois anos. Se olharmos para o segmento mais endinheirado dos correntistas, também houve melhora. De 2008 para cá, o número de clientes da CEF com investimentos acima de 500 000 reais cresceu 80%. Esses números mostram que quem soube poupar viu seu patrimônio crescer nos últimos anos. 

O economista e pesquisador da Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro (FGV-RJ), Marcelo Neri, vem medindo essas mudanças ao longo dos últimos anos. Segundo ele, o número de pessoas nas classes A e B, da qual fazem parte as famílias que têm renda superior a 4 807 reais, cresceu 43,8% de dezembro de 2003 a dezembro de 2008.

Já a classe C, que representa as famílias com renda entre 1 115 a 4 807 reais, cresceu 25,2%. De acordo com o pesquisador, 32 milhões de pessoas ingressaram nas classes A, B e C entre 2003 e 2008 e outras 36 milhões devem se juntar a esse contingente nos próximos quatro anos, mantidas as condições econômicas do país.

Ele está pagando um apartamento que comprou por 600 000 reais, que fica pronto em 2012, e tem uma grana investida, que possibilita viajar e fazer pequenas extravagâncias. "Faço pequenos resgates para curtir as coisas que gosto, como mergulhar." Nem todo mundo, porém, tem o mesmo controle sobre as finanças pessoais. E aí, mesmo ganhando mais, há a sensação de que o dinheiro está sempre curto.

QUANDO O CONSUMO SE TORNA UM PROBLEMA

O descontrole fi nanceiro, além de causar dor de cabeça para a pessoa, compromete o desempenho no trabalho. O professor William Eid, coordenador do Centro de Estudos em Finanças, da Fundação Getulio Vargas de São Paulo (FGV-SP), fez uma pesquisa, em 2008, com 135 funcionários endividados da instituição - a amostra corresponde a 20% do total de empregados da FGV-SP.

A análise mostrou que há uma relação entre estresse fi nanceiro e alguns indicadores de produtividade e planejamento econômico desse pessoal. Colaboradores com maior estresse fi nanceiro não se fi liam ao GV Previ, isto é, não conseguem planejar adequadamente seu futuro, faltam mais e usam mais o abono concedido pela chefi a. Algumas empresas já se deram conta disso e passaram a oferecer cursos de administração em fi - nanças pessoais para seus funcionários. Um exemplo é a Vivo. Lá, qualquer profi ssional que esteja com as fi nanças descontroladas tem acesso a um consultor particular. Existem duas armadilhas que são comuns quando você começa a ganhar mais.

A primeira é passar a usufruir de bens e serviços muito mais caros. Exagerando, signifi caria trocar o seu cabeleireiro do bairro pelo mesmo salão de uma celebridade da Rede Globo. A troca passa a comprometer um naco maior dos seus rendimentos. A segunda armadilha é passar a consumir com maior voracidade. A pesquisa realizada pelo professor Marcelo Neri, da FGV-RJ, mostra que o potencial de consumo, que é basicamente a renda transformada no poder de compra, cresceu 4,9% ao ano nos últimos cinco anos. Nesse período, as viagens para o exterior, a venda de carros importados no Brasil e a venda de artigos de luxo registram recordes. O brasileiro adquiriu hábitos de consumo mais sofi sticados.

Não há problema nenhum nisso, o segredo é aproveitar esses mimos com parcimônia. A agência Maktour, de São Paulo, que atua no segmento de viagens internacionais para as classes A e B, projetou para fevereiro deste ano um crescimento de 30% nas vendas sobre o mesmo mês em 2009. O resultado foi muito além do esperado. "Crescemos 90%. As pessoas estão com maior poder aquisitivo", diz Marcus Di Tommaso, diretor-geral da Maktour. Outro dado que revela o aumento de poder de compra do brasileiro é a expansão nas vendas de carros importados, que no ano passado cresceu 150,13% em relação a 2008, segundo a Abeiva, associação das importadoras de veículos.

RELAÇÃO CUSTO/BENEFÍCIO

"O consumo implica uma escolha que esbarra no funcionamento psíquico, regido pelas emoções que nos guiam a buscar uma satisfação instantânea", diz Vera Rita de Mello, doutora em psicologia econômica. Portanto, a dica é: resista ao primeiro impulso. Faça as contas, veja se o objeto de desejo cabe no seu orçamento é só então tome a decisão de compra. Quem quer guardar mais dinheiro precisa ter disciplina. Primeiro, é importante tentar manter as despesas fi xas (como aluguel) no mesmo nível anterior ao aumento do salário. "Ganhar bem é importante, mas a arte está em gastar bem", diz Lauro Araújo, diretor da área de investimentos da consultoria Mercer.

Além do desejo de consumir mais e melhor, o que pode impedir alguém de aumentar a capacidade de poupar é o comprometimento com gastos essenciais, que não podem ser adiados. Veja um exemplo: se você precisa de um fogão, vai à loja e o vendedor lhe dá duas opções - comprar o modelo mais caro, que tem mil funcionalidades, ou outro mais barato. Se optar pelo produto mais caro, o gasto não é mais considerado básico. Sua necessidade era comprar um fogão, e não o melhor fogão. Claro, isso não signifi ca dizer que você tem de comprar um produto sem qualidade. "É essencial pensar na relação custo-benefício, ou seja, ponderar a decisão do que comprar olhando a qualidade e o preço", diz Mario Amigo, professor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi ) e consultor de investimentos da Mercer.

Um casal que tem fi lhos também pode sentir mais difi culdades para poupar, mesmo tendo um acréscimo de renda. "Muitas vezes o ganho a mais é transferido diretamente para o consumo da família. O que nem sempre é ruim, porque há mais condições de investir na educação do fi lho", diz Raphael Cordeiro, consultor fi nanceiro de Curitiba, no Paraná. Caso decida aproveitar o aumento do salário para bancar o intercâmbio de seu fi lho ou reformar seu imóvel, é importante que você faça as contas para não deixar que seus gastos se igualem ao valor a mais no salário.

"Ganhar bem é importante, mas a arte está em gastar bem", diz Lauro Araújo, diretor de investimentos da consultoria Mercer

Quanto mais comprometido estiver seu orçamento, menos fl exibilidade terá para lidar com imprevistos. "Quando não há fl exibilidade, a pessoa não pode se dar ao luxo de, por exemplo, deixar o emprego para tentar uma nova oportunidade", diz Raphael. Quando os gastos fi xos chegam a representar 60% do salário é sinal de que é preciso rever os hábitos de consumo. "É um limite de alerta", diz Mario Amigo, da Fipecafi e consultor da Mercer.

PADRÃO DE VIDA CONFORTÁVEL

Se está decidido a poupar, precisa primeiro organizar uma planilha com o valor do novo salário e seus gastos fi xos. Você vai saber então qual é sua real capacidade de investimento mensal. Com isso fi ca mais fácil defi - nir objetivos de médio e longo prazo, como comprar uma casa na praia ou fazer uma especialização. Você também deve defi nir em quanto tempo quer atingir cada um de seus sonhos.

Se a capacidade de poupar ainda é pequena em relação ao que quer alcançar, vai precisar diminuir as despesas. Caso contrário, vai demorar mais para alcançar cada uma de suas metas. Para o professor e consultor Mario Amigo, o ideal é poupar pelo menos 30% de sua renda mensal. Você pode colocar 20% em investimentos de longo prazo e 10% em aplicações de médio e curto prazo.

"É o que vai ajudar a manter seu estilo de vida no futuro", afi rma Mario. Se você tem apetite por rendimentos maiores, a dica é assumir mais riscos agora e investir em fundos de renda variável e multimercado. "Se o investidor souber lidar com os momentos difíceis e não se assustar, o investimento de risco é um ótimo aliado, já que há a possibilidade de mais retorno", diz Lauro, da Mercer. Em períodos de instabilidade, aproveite para acessar investimentos de maior risco por um preço menor. Uma opção é comprar ações de companhias sólidas cujos papéis se desvalorizaram. Se souber esperar, você vai ganhar uma graninha na hora de vender as ações.

RENDA FIXA OU POUPANÇA: Se vai usar o dinheiro no curto prazo e quer fazer uma aplicação, a sugestão é usar a poupança, que ainda é isenta de Imposto de Renda. Se optar por fundos de renda fixa, você vai arcar com uma alíquota de até 22,5%, caso o resgate seja feito em até 180 dias. Se a ideia é usar o dinheiro do fundo e, por algum motivo, você decidir resgatá-lo antecipadamente, analise se a retirada não vai comprometer uma parte desnecessária de seus rendimentos. Não se esqueça que a alíquota varia de acordo com o tempo de permanência da grana no fundo. Caso seja necessário, adie o resgate.

DIVIDENDOS: Se você for um investidor interessado nos dividendos, a sugestão é aplicar diretamente em ações, para não precisar pagar o imposto de 15% na hora de receber o benefício. "Quando as ações estão no nome do investidor, o valor do dividendo vai direto para a conta dele", diz o consultor Raphael Cordeiro.

PGBL: O Plano Gerador de Benefício Livre é indicado para quem faz a declaração do Imposto de Renda no modelo completo. Quem faz a aplicação tem o benefício de abater ou de restituir os impostos sobre o valor poupado. Os aportes feitos podem ser deduzidos da base de cálculo do Imposto de Renda até o limite de 12% da renda anual.

VGBL: No Vida Gerador de Benefício Livre, os aportes não podem ser abatidos da declaração do Imposto de Renda. Vale mais a pena para quem faz a declaração simplificada. Apesar de não ter o abatimento, a vantagem é que o rendimento só é tributado quando você faz o saque. "Além disso, só é pago os impostos sobre o rendimento, e não sobre o valor total, como acontece com o PGBL", explica Lauro Araújo, da Mercer. Se você quer deixar o dinheiro aplicado no longo prazo, escolha a tabela regressiva. Quanto mais tempo demorar para sacar a grana, menos impostos vai pagar.

AÇÕES OU FUNDOS: Para quem vai investir na renda variável e quer pagar menos impostos, a alternativa é o investimento direto em ações. Ao aplicar na bolsa, você pode vender até 20 000 reais a cada mês de suas ações sem pagar nada de imposto. Se o valor for maior, vai pagar 15% sobre o lucro conseguido. Em um fundo de ações, o investidor paga 15% sobre o lucro, independentemente do valor vendido.

IMÓVEIS: Se há apenas um imóvel em seu nome, você pode vendê-lo por até 440 000 reais - caso não tenha negociado nenhum outro no período de cinco anos - sem se preocupar com o Imposto de Renda. Se tiver plano de trocar um imóvel residencial, é importante vendê-lo antes para depois fazer uma nova compra. Com isso, estará apenas trocando de moradia, e não aumentando seu patrimônio. Quem troca de residência não precisa pagar imposto sobre o ganho.

Postado por: Cristiano Bitencourt

Este conteúdo foi útil para você?

Sua avaliação é importante para entregarmos a melhor notícia

Siga-nos

Mais do Guiame

O Guiame utiliza cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência acordo com a nossa Politica de privacidade e, ao continuar navegando você concorda com essas condições