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Vigiada, geração Y do futebol é mais "careta" que as anteriores

Vigiada, geração Y do futebol é mais "careta" que as anteriores

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:49

Aos poucos, a chamada geração Y, de pessoas nascidas no final da década de 80 e anos 90, vem conquistando mais e mais espaço no mercado de trabalho. E especialmente em profissões ligadas às áreas de tecnologia da informação e comunicação digital, o comportamento dos jovens no ambiente profissional sofre mudanças em relação às gerações anteriores. Além, é claro, das novas maneiras de se relacionar também fora do trabalho, com facilidade de acesso a uma série de tecnologias, como celular, internet e, especialmente, as redes sociais.

Entre os jovens dessa geração no mundo do futebol, a tecnologia também é um fator que vem contribuindo bastante para mudanças de comportamento dentro dos clubes. É quase uma unanimidade entre os jogadores, por exemplo, que o celular e a internet tornaram mais "suportáveis" as concentrações, transformando essa numa geração mais bem comportada. Por ter mais opções de passatempos e pelos perigos de qualquer deslize ser registrado por uma câmera de celular.

Por outro lado, se diminuíram os casos até folclóricos de jogadores que fugiam das concentrações ou que levavam mulheres para seus quartos, surgiu uma nova fonte de polêmicas, aparentemente inesgotável: o Twitter. Pelo microblog, não são poucos os casos de atletas que falaram mais do que deviam e acabaram sofrendo com as consequências.

Cortado até de uma Copa do Mundo por indisciplina, Renato Gaúcho diz que jogadores atualmente tem "uma baita mordomia" nos hotéis cinco estrelas usados como concentrações

O iG procurou representantes das gerações mais antigas e da mais nova safra de revelações do futebol brasileiro para mostrar o que mudou na vida dos jogadores de 20, 30 anos atrás para os dias de hoje. Ícones da "malandragem" dos velhos tempos como Renato Gaúcho e Serginho Chulapa, por exemplo, vêem uma geração "careta" e até um pouco mimada, principalmente por conta da internet. Enquanto os mais novos reconhecem que hoje tem mais facilidades.

"Na minha época a concentração era no estádio, hoje é em hotel cinco estrelas. Não falta nada, é uma baita mordomia. Quando eu concentrava nem a TV tinha tantos canais. Hoje, o jogador pega o telefone e chega tudo no quarto", compara o atual técnico do Grêmio, que não só admite como até costuma falar com orgulho de seus feitos fora de campo, mesmo que um deles tenha lhe custado até a presença em uma Copa do Mundo.

Chulapa é outro que não se envergonha do passado e fala como antes as coisas eram diferentes. "Tomando uma base por mim. Eu era da noite, saía todo dia, menos quando estava concentrado. Pô, eu frenquentava em São Paulo tudo quanto era casa de massagem. Não tinha esse negócio de celular, fotografia, podia ficar tranquilo que em todo lugar que chegava, tinha contato direto com as pessoas e não pegava nada", relembra.

Em uma ocasião, as noitadas fizeram César Sampaio se preocupar com o então companheiro de time, mas Chulapa soube como se livrar dos conselhos: "ele era louco pra me converter em atleta de Cristo. Mas eu falei ‘se você me converter, você vai pra uma noitada comigo, fazer tudo que tem direito?’. Aí ele desistiu. Falou ‘deixa como está que é melhor’".

Histórias como essa hoje ficam apenas no folclore do futebol. Conscientes de estarem vigiados por um verdadeiro big brother, os jogadores mais jovens tentam calcular cada passo. "Hoje são novos tempos. Se eu fizer uma dessas vou estar encrencado. A gente sabe que é coisa das antigas, damos risada com as histórias, mas é coisa do passado, hoje em dia tem que ser muito profissional", diz o zagueiro do São Paulo e capitão da seleção brasileira sub 20, Bruno Uvini.

"Nossa profissão é muito exposta. Eu procuro não twittar de cabeça quente, porque pode ter uma repercussão ruim muito grande. E os momentos de diversão também tem que ser tranquilos, controlados. Porque hoje em dia alguém tira uma foto e espalha rapidinho", completa.

Se mudaram os passatempos (dominó, baralho e sinuca x internet, video game e celular) nas concentrações, mudou até a maior origem de polêmicas envolvendo jogadores. O Twitter, citado por Uvini, é hoje um vilão maior até do que as fugas para baladas. Por isso, a maioria até evita a ferramenta. E quem usa, com algumas exceções, procura tomar cuidado.

"Sempre penso duas vezes antes de escrever alguma coisa. Comento mais sobre o jogo, um pouco do que estou fazendo no dia, se vou num boliche, no shopping. É tudo bem pensado o que eu escrevo, pra não dar nenhum problema, nenhuma polêmica", explica o meia Lucas, também do São Paulo, que assim como o companheiro de time, mal se lembra do mundo sem internet e celular.

Curioso é notar que com todas as diferenças, nem os jogadores antigos gostariam de viver nas condições atuais, mesmo com as supostas facilidades da tecnologia, nem os garotos conseguem se imaginar passando por longos períodos de concentração sem muitas essas facilidades.

"Nem consigo imaginar como era sem tantas opções. Devia ser uma coisa horrível a concentração para eles. Hoje tem internet, baralho. Naquela época também tinha, mas haja paciência ficar jogando dominó e baralho. Não tinha computador, notebook. Nem imagino como devia ser isso, tinham que falar para mim pra eu aprender como é que se fazia", brinca o atacante Dentinho, do Corinthians. Como os são-paulinos, outro exemplo de "bom-mocismo" dos tempos modernos.

"Hoje o jogador está mais vigiado, anda com segurança, mudou a relação entre jogador e torcida. Na nossa época a gente passava no meio da torcida. [Prefiro] como era antes. Hoje o jogador não tem nenhuma privacidade. Qualquer lugar que você vá tem celular com câmera, o cara filma, tira foto. É um lado ruim. Hoje você tem que ficar esperto, tem que ser malandro, senão pode aparecer uma foto sua no jornal tomando uma cerveja, fazendo alguma coisa", diz Serginho Chulapa, deixando claro que não trocaria a boêmia dos anos 70 e 80 por toda a tecnologia à disposição dos atletas nas concentrações de hoje.

Por: Levi Guimarães * colaboraram Bruno Winckler e Hector Werlang

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