Além das aparências

Pessoas são desprezadas devido aos seus costumes, roupas que vestem, ou classe social. Não consigo compreender a lógica que leva algumas pessoas a se considerarem “melhores” do que as outras.

Fonte: Alexfábio CustódioAtualizado: segunda-feira, 26 de janeiro de 2015 às 15:26

 

Noite passada eu estava na estalagem Rio Preto e presenciei uma cena inusitada. Um grupo de homens bem vestidos bebia em comemoração a um acordo comercial fechado com uma nação distante. Champanhe e outras bebidas desse naipe eram distribuídas, tudo por conta de um grande cafeicultor, maior favorecido pelo acordo.

Lá pelas nove horas um homem de meia idade, muito forte e com roupas cobertas de serragem, entrou no estabelecimento. Da porta mesmo ele pediu uma garrafa de vinho ao dono do local. A cena chamou a atenção dos comerciantes, que viram o homem receber a bebida e sentar-se perto do balcão. Um almofadinha com monóculo e uma voz pedante comentou em alta voz:

- Onde já se viu um sujeito rude como esse interromper de maneira tão boçal a nossa comemoração. Será que você não percebe que só tem pessoas distintas e importantes nesse estabelecimento hoje? Principalmente o maior cafeicultor do país. Você deveria ter mais modos e respeito pelas autoridades presentes!

Antes que qualquer outra pessoa pudesse reagir, um rapaz vindo da rua entrou correndo e, ao ver o homem no balcão, disse em alta voz:

- Senhor Noé, que bom que te encontrei. Sinto muito perturbar o senhor depois do horário do trabalho, mas um mensageiro que está de partida para a capital trouxe um documento que precisa de sua assinatura. É sobre os trinta novos navios para a frota nacional.

Um silêncio sepulcral tomou o ambiente enquanto o senhor assinava o documento. Depois que o rapaz saiu com a mesma pressa que havia chegado, o mesmo almofadinha de antes perguntou:

- Noé? O Noé? O maior e mais bem sucedido construtor de navios do mundo? O senhor não quer se juntar a nós em nossa comemoração?

Após pagar pela sua bebida o homem levantou-se e respondeu enquanto saia.

- Talvez em outra oportunidade cavalheiros. Tenho que descansar por que amanhã preciso continuar construindo os navios que possibilitam o transporte de seus grãos. Boa noite a todos.

É triste amigos, infelizmente, mesmo em uma sociedade cada vez mais desenvolvida, ainda podemos encontrar esse tipo de preconceito. Pessoas são desprezadas devido aos seus costumes, roupas que vestem, ou classe social. Não consigo compreender a lógica que leva algumas pessoas a se considerarem “melhores” do que as outras.

Homens bem vestidos desprezam os maltrapilhos, garotos ricos exibem seus brinquedos caros para pobrezinhos que brincam com bolas de meias, e pessoas cobertas de tradições religiosas menosprezam os pecadores.

O último exemplo pode parecer esdrúxulo, mas o próprio Senhor Jesus teve que lidar com essa gente orgulhosa:

“E disse também esta parábola a uns que confiavam em si mesmos, crendo que eram justos, e desprezavam os outros: Dois homens subiram ao templo, a orar; um, fariseu, e o outro, publicano. O fariseu, estando em pé, orava consigo desta maneira: Ó Deus, graças te dou, porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano. Jejuo duas vezes na semana e dou os dízimos de tudo quanto possuo. O publicano, porém, estando em pé, de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador! Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque qualquer que a si mesmo se exalta será humilhado, e qualquer que a si mesmo se humilha será exaltado” (Lucas 18. 9 a 14).

O orgulho realmente precede a ruína marujos! Ele fecha nossos olhos para as necessidades de nossos semelhantes, seca a fonte do amor ao próximo, criando uma máquina geradora de preconceito e discursos hipócritas.

Pessoas assim olham os erros dos outros e, ao invés de se compadecerem, e chorarem com os que choram, desprezam pessoas que precisam de compreensão e amor para continuar caminhando.

Talvez eu esteja falando com você, que já está torcendo o nariz e pensando: “Por que eu preciso aturar a fraqueza dos outros?”. Só posso dizer que eu me compadeço de você companheiro. O orgulho do seu cristianismo te fez esquecer-se do próprio Cristo! Por um acaso você se esqueceu da criatura terrível que você era antes de se encontrar com Deus? Ou, pior ainda, você não tem vergonha da criatura terrível que você continua sendo debaixo dessa “maquiagem santa”?

Será que eu preciso te lembrar de princípios tão básicos do evangelho? Preciso ficar aqui citando dezenas de trechos bíblicos que afirmam a nossa incapacidade de adquirir “status” com Deus através de nossas obras?

Não preciso. Dispa-se desse orgulho, é momento de bater no peito e clamar por misericórdia, enquanto ainda pode sentir algo.

Por outro lado, pode ser que minhas palavras estejam alcançando almas quebrantadas. Pessoas marcadas por deslizes e feridas pelo orgulho de quem deveria lhe estender a mão.

A palavra mais importante para você é: Não desista! Não importa o que você fez ou continua fazendo, o próprio Senhor nos ensina que basta um arrependimento sincero para que ele receba suas orações. E, se o próprio Deus Santo pode restaurar esse pecador, quem somos nós, a sua igreja, para virarmos nossas costas para você?

Está na hora de fazer valer o “amar ao próximo como a você mesmo”. Viver esse amor além da posição social, da cor da pele, ou de qualquer outra coisa que cria separações ou castas. Ser um em Cristo só terá sentido quando sentirmos as dores dos demais membros.

Que Deus nos ajude nessa árdua tarefa.

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