Bom demais para ser verdade

Bom demais para ser verdade

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:33

Tendo concluído a série de quatorze semanas sobre o livro de Tiago na semana anterior (você pode acessar a série completa de graça   aqui ), comecei uma nova série de pregações de seis semanas, neste último domingo, intitulada “Figuras da Graça”. Estamos voltando aos Evangelhos e olhando para os vários acontecimentos na vida e no ministério de Jesus, em que a chocante e contra-intuitiva natureza da maravilhosa graça é mostrada. A cada semana, vamos observar atentamente como Jesus inundou as pessoas com a sua graça, deixando tudo aquilo que faz sentido em nosso mundo condicional de cabeça para baixo.

Eu comecei a série apontando que não há nada mais difícil para nós do que preenchermos nossas mentes com a graça incondicional de Deus; isso ofende as nossas mais profundas sensibilidades. Um mundo condicional é muito mais seguro do que um mundo incondicional, pois um mundo condicional nos mantém no controle, tudo é padrão – faça certas coisas e certas coisas acontecerão certamente. Nós entendemos condições. Condições fazem sentido. “Incondicionalmente”, por outro lado, é incompreensível para nós. Nós somos muito condicionados contra a incondicionalidade – somos informados de mil maneiras diferentes de que o cumprimento precede a aceitação; que a realização precede a aprovação.

A sociedade demanda amor de mão dupla. Tudo é condicional: se você realiza, apenas assim recebe significado, segurança, respeito, amor e assim por diante. Mas a graça, como Paul Zahl assinala, é amor de mão única: “Graça é o amor que te procura quando você não tem nada para dar em troca. Graça é amor que vem até você e que não tem nada a ver com você. Graça é ser amado quando você é indigno de ser amado”.

Como os amigos de Jó, nós naturalmente concluímos que pessoas boas conseguem coisas boas e pessoas más possuem coisas ruins. A ideia de que pessoas más conseguem coisas boas é profundamente contra-intuitiva. Isso se mostra terrivelmente injusto. Isso ofende o nosso senso de justiça. Mesmo alguns de nós que tenham experimentado a salvação radical pela graça de Deus, notamos que é intuitivamente difícil   não   colocar condições na graça – “não leve isso tão longe; seja equilibrado”. A verdade é, contudo, que uma postura “sim, graça, mas” é um tipo de postura que perpetua a escravidão em nossas vidas e na igreja. A graça é radicalmente desequilibrada. Não tem “mas”: é incondicional, incontrolável, imprevisível e indomesticável. Como Doug Wilson afirmou recentemente, “A graça é selvagem. A graça desacomoda tudo. A graça extrapola a economia. A graça bagunça seus cabelos. A graça não é subjugada. De fato, se não estivermos deixando os devotos tensos, não estamos pregando a graça como deveríamos”.

Com isso em mente, decidi começar com Lucas 7.36-50. Esse é o famoso relato da mulher pecadora (provavelmente uma prostituta) invadindo uma festa de líderes religiosos e lavando os pés de Jesus com suas lágrimas de arrependimento. Eu aponto dois livramentos que estão acontecendo nessa passagem: o livramento da pessoa imoral, mas também da pessoa moral.

Normalmente, quando pensamos nas pessoas em necessidade de Deus, nós pensamos nos ímpios e nos imorais. O que me fascina é que, em toda a Bíblia, são as pessoas imorais que entendem o Evangelho antes das pessoas morais; é a prostituta que entende a graça; e o fariseu não entende. O que vemos nessa história é que a graça de Deus perturba e depois resgata não apenas o promíscuo, mas também o piedoso. O fariseu nessa história não pode entender o que Jesus está fazendo ao permitir que essa mulher o toque porque ele assume que Deus é para o limpo e competente. Mas Jesus aqui mostra a ele que Deus é para o impuro e incompetente e que, quando comparados com a perfeita e santa vontade de Deus, nós somos todos impuros e incompetentes. Jesus mostra a ele que o evangelho não é para vencedores, mas para perdedores: é para a pessoa fraca e confusa, não para a pessoa forte e poderosa. Não é para os bem-comportados, mas para o morto.

Lembre-se: Jesus   não   veio para efetuar uma reforma moral, mas uma ressurreição mortal (uma reforma moral pode acontecer – e já aconteceu ao longo da história – sem Jesus. Mas apenas Jesus pode levantar da morte, mais e mais e mais uma vez). Como Gerhard Forde afirma: “Cristianismo não é uma mudança do vício para a virtude, mas mais propriamente uma mudança da virtude para a graça”.

Destruindo toda categorização religiosa que houvesse, Jesus diz ao fariseu que ele tem muito a aprender com a prostituta, não o contrário.

Jesus diz ao fariseu que ele tem muito a aprender com a prostituta, não o contrário.

A prostituta, por outro lado, caminha para a festa dos religiosos e cai aos pés de Jesus sem nenhuma preocupação com o que os outros iriam pensar ou falar. Ela está em seu limite. Mais do que esperar para escapar de uma situação desconfortável, ela queria ser limpa – ela precisava ser perdoada. Ela estava ciente de sua culpa e de sua degradação. Ela sabia que precisava de ajuda. Ela entendeu a profundidade do nível da graça de Deus, que não exige que você esteja limpo antes de ir até Jesus. Pelo contrário, nossa única esperança para ser limpo é ir até Jesus. Apenas no Evangelho o amor precede a amabilidade. Em todo lugar a amabilidade precede o amor.

Eu encerrei o sermão relembrando a história que Rod Rosebladt me contou quando estivemos juntos em uma conferência do Gospel Coalition,   em Chicago. É a história de uma mulher de meia idade que precisava da ajuda de seu pastor.

Ela foi até o pastor e disse: “Pastor, você sabe que eu tive um aborto há alguns anos?” “Sim”, o pastor respondeu. “Bem, eu precisava falar com você sobre o homem que eu conheci desde então”. “Tudo bem”, respondeu o pastor.

“Bem, nós nos conhecemos há um tempo, começamos a sair, e eu pensei: eu preciso dizer a ele sobre o aborto. Mas eu não pude. Então as coisas ficaram mais sérias entre nós dois, e eu pensei: eu preciso contar a ele sobre o aborto. Mas eu não pude. Um pouco depois nós ficamos noivos e eu pensei: eu preciso contar a ele sobre o aborto. Mas eu não pude. Então nos casamos e eu pensei: eu preciso contar a ele sobre o aborto. Mas eu não pude. Então eu precisava falar para alguém, pastor, e aí está você.”

O pastor respondeu, “você sabe, temos um processo para isso. Vamos pensar nisso juntos.” Então eles fizeram – o processo da confissão e da absolvição.

Quando eles terminaram, ela disse a ele: “agora eu acho que tenho coragem para dizer ao meu novo marido sobre meu aborto. Obrigada pastor”. E o pastor respondeu a ela, “que aborto?”

O que o fariseu, a prostituta e todos que estejam nesse intervalo precisam se lembrar todo dia que é Cristo que oferece perdão completo e gracioso tanto da nossa bondade auto-justificada quanto da nossa maldade injustificável. Essa é a coisa mais difícil para nós acreditarmos como cristãos. Nós achamos que é uma marca de maturidade espiritual nos agarrarmos à nossa culpa e vergonha. Estamos, de uma forma doentia, concluindo que quanto mais nos sentimos inferiores, melhores somos. A declaração de Salmos 103.12 é a mais difícil para nós compreendermos e aceitarmos: “e como o Oriente está longe do Ocidente, assim ele afasta para longe de nós as nossas transgressões”. Ou, como Corrie Ten Boom disse uma vez, “Deus pega os nossos pecados – do passado, presente, e futuro – despeja no mar do esquecimento e põe uma placa que diz ‘Proibido pescar’”. Isso parece bom demais para ser verdade… Isso não pode ser tão simples, tão fácil, tão real!

Deus pega os nossos pecados, despeja no mar do esquecimento e põe uma placa que diz ‘Proibido pescar’.

Isso é verdade! Sem restrições. Nem “mas”. Sem condições. Não precisa de um contrapeso. Se você é cristão, agora você é justo debaixo da completa e suficiente justiça imputada de Cristo. Seu perdão é completo e definitivo. Em Cristo, você é perdoado. Você é limpo. Está consumado.

Que aborto?

por Tullian Tchividjian   Via  iPródigo.com

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