Pequenas rachaduras

Pequenas rachaduras

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:23

Vendo a distância uma figueira com folhas, foi ver se encontraria nela algum fruto. Aproximando-se dela, nada encontrou, a não ser folhas. [...] Chegando a Jerusalém, Jesus entrou no templo e ali começou a expulsar os que estavam comprando e vendendo. Marcos 11. 13;15.

Quando estou cansado, tem uma coisa que gosto de fazer: assistir um bom filme! Isso me ajuda a relaxar e a refletir. Existe um filme chamado Alfie – Um Sedutor, que é interpretado pelo o ator Jude Law. Alfie é um homem independente, conquistador e que se afasta de qualquer mulher que queira compromisso. Sua filosofia de vida é a hedonista (vinhos e mulheres), onde só o prazer é que interessa. Segundo Alfie nos conta, certa feita, enquanto visitava um museu, vislumbrou-se com a estátua de uma deusa grega, ficou extasiado por ela: “a forma feminina perfeita” dizia. Porém, quando chegou mais perto, percebeu na lateral dessa escultura, pequenas rachaduras, lascas, imperfeições. Assim é também, segundo Alfie, com os relacionamentos, quando se chega perto demais, as imperfeições aparecem e o encanto se vai.

A passagem bíblica acima fala do ocorrido entre Jesus e a figueira, um episódio que sempre me chamou a atenção. Pensava: “tadinha da figueira, não era seu tempo de dar frutos e mesmo assim Jesus a amaldiçoa”. Por quê? As figueiras eram fontes de alimentação barata nas terras da Palestina, e em todo o território era plantada para alimentar os viajantes. O primeiro sinal de que uma figueira tem frutos é o surgimento das folhas. Jesus ao avistar aquela árvore frondosa, pensou que nela encontraria o fruto que saciasse sua fome. Mas não, chegando perto da árvore, viu que era somente aparência... de perto, viu as rachaduras!

O autor de Marcos, sabiamente, encaixa esse evento antes da purificação do templo, pois o acontecimento com a figueira é uma forma de prelúdio.

“Amaldiçoar uma árvore porque não dá frutos parece irracional para muitos, pois, como lembra Marcos, o tempo que antecede a Páscoa não era a estação de figos. Contudo, a maldição assemelha-se às ações proféticas do AT, cuja peculiaridade atrai a atenção para a mensagem que está sendo simbolicamente representada [...] A árvore estéril simboliza as autoridades judaicas cujos pecados estão demonstrados na ação interveniente de purificação do templo, que se havia transformado em um covil de ladrões, em vez de uma casa de oração para todas as nações (Jr 7.11; Is 56.7)”.[1]

O templo, visto de longe, aparentava atividades de adoração a Deus, piedade e devoção religiosa . O templo tinha boa aparência, mas sucumbiu ao olhar de Jesus. Esse episódio é tão importante no ministério de Cristo, que não escapou da pena de nenhum dos evangelistas canônicos.

O tema que une esses dois episódios é o do fruto: Jesus vai à árvore e não acha; vai ao templo, centro religioso do povo de Deus, e também não encontra. O fruto que o templo deveria dar, não foi encontrado por Cristo.[2]

A pergunta que fica no ar é: E se Jesus chegar mais perto de nós, o que encontrará ? Rachaduras, lascas e imperfeições com certeza, mas, também um coração desesperado em esconder e maquiar essas imperfeições? Encontrará um ser que luta desesperadamente para manter uma imagem de piedade e devoção, mas que no fundo não passa de um sepulcro caiado? O que ele encontrará quando chegar mais perto de nós?

De uma coisa tenho certeza, Jesus não espera encontrar em nós perfeição , mas, um ser humano disposto a ser honesto e dependente, que se entrega ao discipulado da cruz e não o troca por uma imagem evangélica barata e narcisista. No relacionamento com Deus nossas falhas aparecem, mas o Seu amor também, isso faz toda a diferença, e nos permite constituir com Ele, um relacionamento sincero e duradouro!

Por: Rodrigo Bibo de Aquino

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