Escatologia e o Reino de Deus - Parte 2

Escatologia e o Reino de Deus - Parte 2

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:26

No title V - A ESCATOLOGIA E A MISSÃO

Quando Daniel recebeu as revelações acerca dos acontecimentos escatológicos, ele ouviu a pergunta de um ser que dizia: "Quando se cumprirão essas maravilhas?" depois o próprio Daniel  indaga: "meu senhor, qual será o fim destas coisas?" Em nenhum momento Deus se deteve a responder acerca do tempo.

Jesus foi indagado por seus discípulos: "Dize-nos quando sucederão estas coisas e que sinal haverá da tua vinda e da consumação dos séculos." O Senhor Jesus lhes respondeu dando alguns sinais e eventos que precederiam a queda de Jerusalém e o tempo do fim. Um futuro imediato e a consumação escatológica. Após a  ressurreição de Jesus os discípulos voltaram a expor suas preocupações com o tempo da vinda do reino. "Senhor, será este o tempo em que restaures o reino a Israel? Respondeu-lhes: Não vos compete  conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou para a sua exclusiva autoridade." (At. 1:7) Mas, o homem continua a indagar: Quando será o fim?  A quase dois mil anos o apóstolo Pedro fala dos escarnecedores que diziam: "Onde está a promessa da sua vinda?" porque julgavam a promessa demorada. (IPd.3:4,9)  

O apóstolo João ouviu a voz dos mártires clamando em grande voz: "Até quando, ó Soberano Senhor, santo e verdadeiro, não julgas, nem vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra? (Ap. 6:10)

O retorno do Senhor Jesus, o estabelecimento final e concreto do seu reino, nós não sabemos o tempo, nem especulamos acerca disto, mas procuraremos entender como o Senhor Jesus e os apóstolos trataram o assunto, identificando o que de fato deve nos preocupar e dando algumas razões da sua aparente demora.

 "Jesus é movido em primeiro lugar pelo teocentrismo e não pela escatologia; em última análise revelar a Deus e o tornar visível no seu ser de Senhor e de Pai é mais fundamental para Jesus que anunciar a proximidade do reino(...) Cristo como Filho deste Pai, é o princípio hermenêutico de todas as afirmações escatológicas."  11. Ele é o amem para todas as promessas de Deus.

Porém, o Mestre divino não deixou os discípulos sem respostas e ofereceu-lhes alguns sinais escatológicos, mas assegura que ainda não é o fim, e, de imediato lhes propôs o que na verdade deveria preocupá-los. Antes da sua vinda, o mundo deveria ouvir o testemunho e a pregação do evangelho, que é na verdade a mensagem do reino  que está presente de um modo espiritual e que deve ser levado até a última fronteira. "O reino, era esperado para o final da história mas veio na história de um modo inaugural antecipando sua vinda apocalíptica." 12  

O Senhor Jesus traça, no entanto, alguns acontecimentos que servirão de indicadores do tempo do fim,  segundo o Dr. Russell Shedd, "Todos estes sinais apenas criam  o ambiente para a manifestação do grande sinal, a pregação do evangelho até aos confins da terra."  13 "E será pregado o evangelho do reino por todo o mundo, para testemunho a todas as nações. Então, virá o fim." (Mt. 24:14) Ele profetiza acerca do fim falando de um período muito mais distante que a destruição de Jerusalém. Ele aponta o período em que se dará a evangelização mundial, a profecia tem uma abrangência muito maior que Mateus poderia imaginar, nós, a Igreja apostólica podemos presenciar nesta geração uma expansão bem maior. Segundo o pesquisador Ralph Winter, nunca em toda história da Igreja  tem havido tantas conversões como em nossos dias.  Porém ainda temos 98 tribos brasileiras sem conhecer a Jesus. Temos milhares de povos ainda esperando o  anúncio da redenção pela primeira vez. São bilhões que ainda não creram. O fim virá quando o Evangelho se espalhar entre todas as nações, fato que haverá de preceder imediatamente o estabelecimento do reino eterno.

A Igreja em todos os séculos deve aguardar a vinda do Senhor Jesus como a Igreja primitiva, esperando o fim em nossos próprios dias. A expectativa do fim, deve ser um estimulante da ação missionária da Igreja. "Os discípulos de Jesus não deveriam esquecer sua grande tarefa por causa da expectação do reino. Esta tarefa é para ser realizada entre a ascensão de Jesus e parousia do Filho do Homem. Eles deveriam assumir a vocação à luz da salvação já revelada e doada na sua vinda ao mundo." 14

A nossa preocupação escatológica deve ser a preocupação Joanina. Segundo George E. Ladd a sua preocupação é com o destino dos homens, não com destino dos cosmos. O que inquietava o seu coração era a vida eterna, que é a entrada no reino de Deus, porque Deus se decidiu definitivamente pela salvação pela salvação dos homens.

Na perspectiva do Senhor Jesus, à luz de  Marcos 1:15, o reino de Deus é uma realidade presente para ser recebida agora, a qual defini a posição futura e prepara o homem para entrar no Reino de Deus, porvir. "Sendo assim, presente e futuro são inseparáveis, o reino de Deus presente, é também uma bênção escatológica." 15. A vida do reino é experimentada em dois estágios: presente e futuro. Ela é para ser gozada tanto aqui como na eternidade. Por isso, "Falando sobre o seu retorno, o Senhor Jesus não fala de um segundo evento escatológico, mas da consumação e da fruição que está sendo trazido ao cumprimento." 16

Fica claro então, que a Igreja deve lidar com a tensão do reino que já veio e o reino que virá. "Quando os profetas do Antigo Testamento declaravam: ‘O dia do Senhor está perto’(Is.56:11; Jl 3:14;Zc.1:14); eles ainda tinham uma perspectiva futura. Eles eram capazes de sustentar o presente e o futuro juntos numa tensão não resolvida. A tensão entre a iminência e a demora numa expectação do fim é uma característica de toda escatologia bíblica."  17

O Senhor Jesus trabalhou com seus discípulos para fazê-los entender essa tensão. Ele mesmo se colocou como o reino escatógico de Deus que  emergiu dentro da história. "Para Jesus, a vinda do Reino eqüivale à vinda de Deus em pessoa. A vinda do reino para Jesus, é, em primeiro lugar, a manifestação da soberania do que Deus mesmo fará, é a realização da santificação do seu Nome. E neste sentido o Reino de Deus, para Jesus, é exclusivamente obra de Deus." 18 A era messiânica chegou e as profecias nele se cumpriram.  Após a descida do Espírito Santo foi possível os discípulos perceberem essa verdade, mesmo, ainda sob a  tensão do tempo.

Quando o apóstolo Pedro se levantou no dia de Pentecostes explicou aos seus ouvintes a vinda do reino na pessoa de Cristo: "Deus cumpriu o que dantes anunciara por boca de todos os profetas: que o seu Cristo havia de padecer." E imediatamente revela a expectação da sua vinda: "(...) e que envie ele o Cristo, que já vos foi designado, Jesus, ao qual é necessário que o céu receba até aos tempos da restauração de todas as coisas, de que Deus falou pela boca de seus santos profetas desde a antigüidade" (At. 3:18,20,21).

Pedro anuncia que Ele veio e que Ele virá. O reino de Deus é o desenrolar da história, tem um já agora e ainda não. É a história que se cumpre desde os tempos passados em toda revelação véterotestamentária, que se cumpriu nos tempos da comunidade neo-testamentária, que se cumpre hoje com o avanço da Igreja no cumprimento da sua missão, e que se cumprirá até que Ele venha. Por isso, os que estão no reino não devem deixar de clamar: Venha o teu reino! Esta é a meta da história, o reino escatológico.

Refutando aos escarnecedores que julgavam a demora do cumprimento da promessa da sua parousia, com a qual viria o reino escatológico em sua plenitude, Pedro declara:

Primeiro - A fidelidade da  Palavra de Deus - A promessa da sua vinda é tão certa, como os céus e a terra que agora existem, porque a Palavra do Criador, que trouxe o universo à existência é a mesma que procede da boca do Senhor garantindo seu segundo advento. (II Pd. 3:5)

Segundo - O Juízo divino é inevitável! Assim como o dilúvio expressou o juízo divino para a geração de Noé, o juízo final é uma realidade, porque "Os céus e a terra estão entesourados para o fogo, estando reservados para o dia do Juízo e a destruição dos ímpios." (3:7)

Terceiro - A julgada demora da sua vinda é uma expressão da longanimidade de Deus em harmonia com o propósito de sua graça, necessária para a plenitude dos salvos ser alcançada."Não retarda o Senhor a sua promessa, (...)pelo contrário, Ele é longânimo para conosco." (3:9) O caráter misericordioso de Deus tarda a sua ira e o julgamento final, Ele espera para que o homem se arrependa e aguarda o retorno das ovelhas perdidas. Sua paciência também é aplicada à Igreja que tem sido falha na sua missão. Deus está trabalhando com longanimidade em suportar a nossa indiferença com a situação dos povos. Para entender a sua paciência, precisamos olhar para o seu caráter bondoso. "A bondade radical de Deus apareceu no meio dos homens através de Jesus(...) Ele integra a sua compreensão de Deus como Pai bondoso dentro do seu anúncio da vinda do reino, da sua mensagem escatológica." 19

Quarto - A sua aparente demora prova seu amor pelos pecadores. Porque Ele ama, Ele continua a dar oportunidade para o arrependimento. Só Ele na sua onisciência sabe o horror de uma eternidade, onde o fogo não queima e onde haverá choro e ranger de dentes.(Mt.13:42;25:41; Ap.21:8)

Sua compaixão pelos já alcançados, deve ser revelada aos bilhões que ainda estão sob a ira da condenação eterna. A misericórdia divina é tão infinita que ultrapassa qualquer cômputo de tempo.

Quinto -A sua longanimidade sustenta o seu querer: "não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento." (v.9) Como porém se arrependerão se não ouvirem do seu perdão?  E como ouvirão se não há quem pregue? E como pregarão se não forem enviados?  Diante desse desafio, Pedro fala que devemos esperar e apressar a vinda do Dia de Deus, (v.12) Só há uma forma de antecipar a sua vinda, pregar as Boas Novas a cada criatura, e fazer discípulos de todas as nações! Temos o grande privilégio e a grande responsabilidade de apressar a vinda do Senhor. "Lembrando que a  graça  preocupa o Senhor mais do que o juízo." 20 Por isso, a Igreja deve assumir o compromisso  da obediência missionária e cumprir a sua missão - evangelização mundial.

Sexto - A longanimidade é prova da sua justiça. O Senhor Jesus  declarou para Israel: "Enchei vós, pois, a medida de vossos pais(...) para que sobre vós recaia todo o sangue justo derramado sobre a terra." (Mt.23:32,35) O nosso Deus tem uma medida extensa para suportar a iniquidade, porque quando estabelecer o julgamento, terá todas as provas necessárias para aplicação da  sua justiça que é perfeitamente reta. A resposta divina ao clamor dos que tinham sido mortos por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que sustentavam foi que repousassem ainda por  pouco tempo, até que também se  completasse o número dos mártires. Então, Ele julgará o sangue dos justos. . (Ap. 6:9-11)

Sétimo - Pedro responde que Deus tem o tempo determinado, porque Ele não cronometra o tempo como nós, Ele é o Senhor do tempo. porque "(...)para o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos como um dia."(v.8) Então não há demora. A nossa fé, deve formar uma nova mentalidade, nos pondo em direção a uma nova categoria de tempo, a eternidade.

CONCLUSÃO:  

Que posição devemos tomar diante da realidade do reino já presente e do reino futuro, ou o reino espiritual e o reino escatológico?

Para o reino presente devemos: Ser responsáveis pela expressão do reino na era presente, isto é, não viver alienado do mundo, mas influenciá-lo com o nosso testemunho de vida, com uma conduta digna e uma ética cristã, que possa ser a expressão do reino de Deus. Com um compromisso sério com a missão integral da Igreja, lutando pela transformação social como sal e luz do mundo, fazendo diferença em todos os segmentos da sociedade. Expressar o caráter do reino  em todas as suas dimensões, e isso não significa fazer algo para Deus, mas o como fazemos. Porque servir a Deus está muito mais relacionado com o como fazemos  do que com o que fazemos. Não importa se  temos formação teológica e missiológica se usamos tecnologia de ponta no nosso ministério ou se somos um simples membro da igreja, se trabalhamos de tempo integral ou se usamos a nossa profissão à serviço do reino, o que importa é que tudo que façamos para Deus expresse as virtudes do seu reino. "Visto que, o reino de Deus não é  simples sinônimo de justiça e paz social, mas é uma nova ordem de todas as coisas, de tudo que é bom, justo, puro e de tudo que compõe a realidade da vida presente e porvir em todas as suas dimensões." 21

Para o reino futuro devemos: Ser responsáveis pela expansão do reino. Possuir um senso de urgência sentindo a pressão da iminência do tempo do fim. Estar consciente de que a vinda do reino escatológico em sua plenitude é precedida pela pregação do evangelho, por isso devemos dispor a nossa vida e tudo que temos para cumprir a missão de expandir o reino entre todas as nações. Comprometer-nos com a obediência missionária, como participante ativo na evangelização mundial, seja na missão de interceder, na missão de prover o sustento financeiro, na missão de enviar, na missão de ir e proclamar que as bodas do Cordeiro já está preparada, e que ainda há lugar, pois urge que a Casa do nosso Senhor se encha. Depender da sua presença até a consumação dos séculos, assegurando-nos que a tarefa continua inacabada até que Ele venha. Outro componente deve ter lugar em nossa perspectiva escatológica, a certeza, na linguagem apostólica, a firme esperança de que estaremos diante do trono de Deus e do Cordeiro, com aqueles que procedem de toda tribo, língua, povo e nação, porque cumprimos a nossa missão, poderemos proclamar juntos e em grande voz: "Digno é o Cordeiro, que foi morto de receber o poder, e riqueza e sabedoria, e força, e honra, e glória e louvor e domínio pelos séculos dos séculos." (Ap.5:9,12)

Bibliografia:

1 - Claus Schwambach. Escatologia. Apostila do Curso Avançado em Teologia e Bíblia. Faculdade Luterana de Teologia do CETEOL. S. Bento do Sul.2001. p.3

2 - Neutzling, Inácio, S.J. O Reino de Deus e os pobres. Ed. Loyola. São Paulo 1986. p.50

3 - Claus Schwambach. Escatologia. Apostila do Curso Avançado em Teologia e Bíblia. Faculdade Luterana de Teologia do CETEOL. S. Bento do Sul.2001. p.3

4 - Stephen Jay Gould. Entrevistas sobre o fim dos tempos. Ed. Rocco. Rio de Janeiro- 1999  p. 13,15,16

5 - Stephen Jay Gould. Entrevistas sobre o fim dos tempos. Ed. Rocco. Rio de Janeiro- 1999 p. 18

6 - Magno Paganèlli, "...E então virá o fim." Ed. Bom Pastor. São Paulo,1995, p.53

7 - Brakemeier. Gottfried . O Reino de Deus e  esperança Apocalíptica. Ed. Sinodal S. Leopoldo 1984  p. 26

8 - Linhares, Araújo, Osmir. Análise de Isaías. Apostila do curso de Bacharel em Teologia com concentração em Missiologia. Seminário do Betel Brasileiro. São Paulo. 2001

9 - - Brakemeier. Gottfried . O Reino de Deus e  esperança Apocalíptica. Ed. Sinodal S. Leopoldo 1984 p. 40

10 - Kirschner. Estevan, F. Mateus 28:18-20. Missão Conforme Jesus Cristo Revista Vox Scriptural vol. VI, n º2,Dez/1996.  P. 40

11 - Neutzling.Inácio, S.J. O Reino de Deus e os pobres. Ed. Loyola. São Paulo. 1986 p. 63

12 - Darci Dusilek. Missão Integral e Escatologia. In A Missão da Igreja. Missão Editora. 1994 p. 90

13 - Shedd,Russell. Bíblia Shedd. Ed. Vida Nova, 1998 p. 1370

14 -Ridderbos, Herman. The Coming of the Kingdom. The Presbyterian and Reformed Publishing Company, 1962 p. 517

15 -Ladd,George,Eldon. A Theology of the New Testament -Library of Congress Cataloging in Publication 1977 p. 301

16- Ladd,George,Eldon. A Theology of the New Testament -Library of Congress Cataloging in Publication 1977 p. 303

17 - Ladd,George,Eldon. A Theology of the New Testament -Library of Congress Cataloging in Publication 1977 p. 210

18 - Neutzling. Inácio, S. J.O Reino de Deus e os pobres. Ed. Loyola. São Paulo 1986 p.40

19 - Neutzling. Inácio, S. J.O Reino de Deus e os pobres. Ed. Loyola. São Paulo 1986  p.60-61

20 - Shedd,Russell. Bíblia Shedd. Ed. Vida Nova, 1998 p. 1744

21 -- Brakemeier. Gottfried . O Reino de Deus e  esperança Apocalíptica. Ed. Sinodal S. Leopoldo 1984 p.17

Durvalina Barreto Bezerra é teóloga pelo Seminário Betel. Missióloga pelo Centro de Treinamento da WEC-AMEM, na Austrália. Pedagoga formada pela Universidade Federal da Bahia. Mestre em Educação pela Universidade Mackenzie. Vice-presidente da AME - Associação Missão Esperança, integrante da diretoria da Missão Antioquia. Diretora do Seminário Betel Brasileiro em São Paulo e Coordenadora Geral do Ensino do Instituto Bíblico Betel Brasileiro. Professora nos Centros de Preparo Missionário da Missão Juvep - Juventude Evangélica Paraibana, Missão Priscila e Áquila e Jami - Junta Administrativa de Missões. Conferencista internacional.

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