Uma Igreja sem portas, nem janelas

Uma Igreja sem portas, nem janelas

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:25

Frequentemente me pergunto o que Deus sente ao presenciar nossos cultos e celebrações. Por diversas vezes, tenho a sensação que estamos tão distantes das intenções que Jesus tinha para sua Igreja, quando falou a Pedro que a iria edificar, que deveríamos adotar até mesmo outra nomenclatura. É o incômodo de viver representando uma obediência ao Evangelho, que, na prática, não traz fruto algum. Vivemos, como um todo, a Igreja do bem-estar, das políticas, das honras. De atividades ocas, que sempre privilegiam a figura de seus líderes e fazem daqueles que trabalham ''pra Deus'' pessoas importantes e notáveis, dignas de elogios públicos. Meu coração se entristece e se enoja ao ver tanta gente cheia de potencial se empenhando para que o sistema se mantenha engessado e beneficiando apenas os ''de dentro''. Cantamos nos nossos louvores que queremos viver só pra Deus, cantar Seu amor pra sempre, anunciar entre as nações a Sua glória, mas empenhamos nossos esforços pra execução das nossas próprias programações que não alcançam ninguém, além de nós mesmos.

Sou a 5a. geração de cristãos da minha família. Nasci e cresci na Igreja Presbiteriana (e a amo) e, por diversas vezes, acompanhei meu pai, pastor, lutando, incansável e solitário, contra as práticas ensimesmadas da Igreja. Atividades que não tocam os de fora, que não curam os feridos, que não anunciam a ano aceitável do Senhor, que não exercem voz profética nessa sociedade perdida e muito menos alcança o homem em suas necessidades. E a resposta a essa luta, quase sempre, são concílios inteiros reunidos para julgar o quão longe dos manuais ele está! E desde quando Deus segue nossos manuais? Enquanto discutimos o sexo dos anjos, uma nação inteira perece em cegueira espiritual.

Há um tempo, tive conhecimento de uma igreja em Olinda que não tem portas, nem janelas. Sua história é bela! Um pastor chegou numa comunidade paupérrima e começou com um trabalho de discipulado e ação social. Com o tempo, eis que sugiu a necessidade de um templo para a Igreja que nascia se reunir. Aos poucos, conseguiram levantar as paredes e os tetos, até que chegou o tempo de colocarem portas e janelas. Na mesma epoca, seis candidatos se apresentaram como vocacionados ao ministerio pastoral e a Igreja precisou decidir entre envia-los ou colocar as portas e janelas. Sabiamente, aqueles líderes optaram por investir em pessoas, ao invés de coisas, e mal sabiam que aquele seria apenas o início do que Deus estava preparando para aquele lugar.

Com o tempo, começaram a perceber que pela Igreja nao ser fechada, a comunidade tinha livre acesso e, aos poucos, o templo começou a ser oásis para muitos. Famílias sem teto tinham onde se abrigar das noites chuvosas e frias; garis tinham uma sombra boa para a cesta pós almoço; os membros começaram a servir sopão para os mais carentes; e, assim, a comunidade se abriu para essa Igreja que optou por não se fechar em si mesma.

Não faço aqui uma apologia a templos sem portas e janelas físicas. Certamente este encontra dificuldades outras por essa opção. Muito menos a favor do Evangelho sem doutrina, nem diretrizes que está sendo pregado aos ventos no nosso país. Meu grito é por uma Igreja que priorize as vidas que estão se perdendo e tenha intrepidez de avançar as portas do Inferno para resgatar aqueles que sofrem.

Minhas lágrimas são por práticas ousadas para revolucionar uma cidade, um estado, um país com as boas novas de salvação. E meu desejo é que sejamos um povo que conheça mais ao Deus que serve e que invista mais tempo perguntando o que Ele quer de nós do que pedindo para que abençoe nossas programações insípidas e sem resultado algum, planejadas por nós mesmos.

Eu me alegro de frequentar uma Igreja que está disposta a ousar e levar a Igreja do Senhor Jesus a todos os lugares. A minha oração é que cada vez mais sejamos corajosos para nos recusar a ficar trancados em nossos grandes templos confortáveis e inacessíveis. Que abramos as portas e janelas da nossa casa para que entrem os leprosos, para que entrem as prostitutas, os drogados e politicos. Para que entrem os homessexuais, os empresários e nossos vizinhos. Para que entrem as viúvas e os órfãos, os pobres e ricos. E acima de tudo, para que entre o Rei, o Rei da Glória!

Lia Temple Ciribelli Honório é psicóloga clínica, formada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP). Atualmente, mora em Macaé e está se especializando em Terapia Familiar Sistêmica no Rio de Janeiro. É casada com Marcelo e membro da Igreja Presbiteriana de Macaé (RJ).

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