As marias brigadeiros

As marias brigadeiros

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 10:08

Eles viraram febre no Brasil. Preparados com ingredientes de primeira e em sabores diferentes do original – como pistache, chocolate amargo, café, gengibre – os docinhos de festa 100% nacionais tomaram conta de mesas elegantes e adquiriram status de sobremesa chique. Em recente entrevista, Juliana Motter, primeira a lançar os brigadeiros gourmets em versões luxuosas, declarou que considera a concorrência positiva. Mas fez a ressalva: “Se alguém cria algo diferente, está agregando. Agora, se copia, está reproduzindo um modelo, e isso não traz valor, só visa o lucro.” E, afinal, quem são elas, as marias brigadeiros que se multiplicaram pelo país? Covers, seguidoras de Juliana, ou simplesmente pessoas que souberam pegar a onda que a Maria Brigadeiro levantou?

Taciana Kalili segue os princípios culinários da doceira, mas inventa as próprias modas na paulistana Brigaderia. "Nosso trabalho é diferente. O estilo dela é mais delicado, o meu mais colorido, com estampas fortes", diz a ex-designer de moda. Para ela, as semelhanças acabam no produto com que ambas trabalham -- o brigadeiro. Mas a receita, o invólucro, os sabores, até o tipo de negócio, são outros. "O meu doce é mais molinho e cremoso, faz parte da minha tradição de mineira."

Acredita-se que um dos grandes pulos do gato para a entrada da Maria Brigadeiro no mercado foi o conceito bem definido com que a marca foi apresentada. Além da alta qualidade, o doce tem excelente apresentação e uma história de Cinderela ao contrário, mas com final feliz, da dona da empresa. A da mocinha inteligente e com um bom emprego que larga tudo para fazer docinhos de festa e vira um fenômeno de vendas. Taciana não parece ter arriscado tanto, mas também empresta sua personalidade à nova profissão. "Enquanto ela trabalha num ateliê e só por encomenda, eu estou nos shoppings, meu dia a dia é com o cliente." A empresária, que está ampliando a oferta de seus quiosques e passará a servir cafés, porém, não esconde a gratidão pelo o que a Maria Brigadeiro trouxe à tona. "Ela não é meu modelo, mas o brigadeiro que ela revelou foi, sim, uma inspiração."

No caminho oposto, Cristiane Campos, da Brigaderia & Cia. enche a boca para falar: "Sou a Maria Brigadeiro genérica!" A até então dentista descobriu qual seria sua próxima ocupação quando viu fotos das guloseimas de Juliana na revista que folheava. "Passei a preencher minhas insônias fazendo brigadeiros", diz ela. Quando viu que tinha jeito para a coisa, correu para comprar os quitutes da doceira. "Como tenho facilidade em desvendar receitas através do paladar, fui testando as que eu mais gostava até ficar igualzinho."

Coisa de fã mesmo. Daqueles que correm quando o ídolo apresenta uma novidade. "Se a Juliana lança um sabor, quero ser a primeira a comprar!" Não se pode dizer que é igual ao original, mas o brigadeiro de Cristiane satisfaz o desejo do consumidor de Guarulhos, região Metropolitana de São Paulo. "São pessoas de classe A e B, que conhecem e gostam do trabalho da Maria Brigadeiro, mas não vão a São Paulo só para comprar doces", afirma em território próprio.

A Donna Brigadeiro, ao contrário, não quer ouvir falar de cópia. "Por que você está me interrogando? Você trabalha para ela?", perguntou referindo-se à Juliana, quando procurada pela reportagem do iG Comida. Beth Veloso acha indigno que seu trabalho de mais de 20 anos como doceira seja comparado ao da moça. Mesmo usando como embalagem as emblemáticas marmitas embrulhadas em paninhos fofos, lançadas pela Maria Brigadeiro. Mesmo utilizando confeitos similares. Mesmo fazendo sabores parecidos com os de Juliana. Mas a confeiteira explica que seu destaque são as tortas -- de brigadeiro, brigadeiro branco, chocolate amargo (!) -- e que "brigadeiro é apenas um nome que vende mais".

Diferente disso, Carol Sales, da carioca Brigaderia Chic, assume que está sempre de olho nos produtos de Juliana, não para copiar e sim na busca de fazer diferente. “Eu a uso como modelo justamente para não correr o risco de lançar algo igual”, afirma. Suas embalagens são feitas sob encomendas e com exigência de exclusividade. “É legal porque o cliente identifica que aquele é o meu brigadeiro”, diz a moça, que nunca tinha ouvido falar em Maria Brigadeiro quando decidiu abrir sua loja. A ideia de fazer algo assim surgiu numa brincadeira de amigas. Uma vez por mês, um grupo de meninas se reúne e festejam o que chamam de “dia da gordinha”.

Na ocasião, balas, doces e jujubas são liberados e acompanham o bate-papo feminino. “Comecei a viajar na história do brigadeiro, pesquisar sabores e só aí fiquei sabendo da existência da Juliana”, afirma. O que era um balcão em sua loja de lembrancinhas para festa tomou conta do estabelecimento que se transformou numa casa só de brigadeiros.

Outra empresária que ampliou os negócios foi a brasiliense Carol Ludwig. Junto do irmão Fábio a moça abriu a Puro Brigaderia. Seu discurso é engajado: “Estamos vivendo um momento na gastronomia de valorização dos nossos produtos e o brigadeiro tem tudo a ver com isso. Ele está na vida de todo brasileiro”, diz Carol. Apesar de não ser seguidora de Juliana, a doceira, que também trabalha com educação, reconhece sua importância no mercado. “Sem dúvida, ela abriu um caminho no universo culinário.”

Serviço

Maria Brigadeiro. R. Capote Valente, 68, Pinheiros, São Paulo, (11) 3085-3687 Puro Brigadeiria. CCSW5, bloco A, Ed. Ômega Center, loja 20, Brasília, (61) 3341-3027 Brigaderia Chic. Encomendas pelo telefone (21) 3325-7874. Rio de Janeiro Brigaderia & Cia. Encomendas pelo telefone (11) 8438-2053, Guarulhos, São Paulo Donna Brigadeiro. Shopping Recife, Recife, (81) 3226-1563 Brigaderia. Av. Doutor Chucri Zaidan, 902, Brooklin, São Paulo, (11) 5181-3901. Sábado inaugura nova loja no Shopping Higienópolis

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