Entenda como se faz um perfume

Entenda como se faz um perfume

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 9:51

Como um compositor lida com as notas musicais, o pintor com as tintas, as pessoas envolvidas com o nascimento de uma nova fragrância também trabalham com componentes menores, que se juntam para dar origem a algo novo. Emprestado do mundo dos sons, a perfumaria usa os termos nota ou acorde, que recebem diferentes classificações. A de cabeça, por exemplo, traz o primeiro aroma que sentimos ao borrifar o perfume. A de coração traz o aroma dominante da fragrância e a de fundo é a mais duradoura, por trazer notas sensuais como sândalo e baunilha.

Seja como for, cada nota ou acorde é uma molécula - ou combinação delas - que tem um cheiro único. Na elaboração de uma fragrância usam-se componentes naturais - extraídos diretamente da natureza - ou sintéticos. Nesse segundo caso, os profissionais descobrem um novo cheiro na natureza e o recriam artificialmente. As técnicas são várias. Algumas vezes, por exemplo, carrega-se uma flor para o laboratório para descobrir qual é a molécula que lhe dá cheiro, para reproduzi-la.

"Nós, da Givaudan, temos um equipamento chamado 'head spacer'. Ele é levado para um determinado local e capta o cheiro do momento, que pode ser a mistura de várias coisas", diz Lúcia Lisboa. Foi assim que Roman Kaizer, um dos mais importantes químicos da Givaudan, captou o cheiro das Cataratas do Iguaçu que, em algum momento, poderá ser usado em uma das fragrâncias desenvolvidas pela empresa. Mas isso talvez nem aconteça. Das mais de 50 moléculas novas pesquisadas ao redor do mundo por ano, cerca de cinco vão parar na formulação de algum perfume. Hoje, estão disponíveis para os perfumistas cerca de 1.000 moléculas, 20% delas naturais. Quanto mais ingredientes naturais forem usados em uma fragrância, melhor e mais cara ela será.

"Atualmente, não utilizamos mais compostos animais naturais por questões éticas. A extração significa o sacrifício ou dor para um ser vivo", diz Julia Fernández, gerente do estúdio de design olfativo da IFF, outra grande fabricante mundial de essências para fragrâncias. As matérias-primas mais caras no passado eram de origem animal. Agora usam-se reproduções sintéticas com odor equivalente.

"É impossível criar um perfume belíssimo e de caráter, se você não tiver na sua base um composto animal", diz Júlia. Dois dos mais conhecidos são o almíscar e o âmbar gris. O primeiro é sintetizado com base no cheiro de uma substância secretada pelas glândulas do cervo-almiscarado. A segunda é feita de um líquido produzido no intestino da baleia-cachalote. Esse líquido é regurgitado e endurece em contato com o ar. Por isso, ele era encontrado boiando nos oceanos há séculos e foi considerado pelos gregos como tendo efeito curativo.

O fixador do perfume

É bom lembrar que não existe essa história de fixador de perfume. O produto se faz com a combinação do óleo essencial produzido com as notas escolhidas, água, álcool e corantes. Quanto mais óleo na fragrância, mais tempo ela permanecerá na pele. E é a quantidade de óleo que determina o tipo de produto. Uma deo-colônia, por exemplo, leva cerca de 10% de óleo, uma colônia de 10% a 15%, e um perfume 25%.

Nem usando todo o conhecimento químico do mundo, um perfumista será capaz de controlar exatamente o cheiro que terá a fragrância em contato com a pele de diferentes pessoas. "Essa é uma das coisas mais belas da perfumaria: a alquimia do acaso. O cheiro que alguém exala naturalmente é como se fosse uma impressão digital, cada um tem o seu próprio. No entanto, sabemos que alguns cheiros são característicos de alguns grupos, dependendo da região", afirma Julia Fernández.

Para criar um perfume em países de altitude elevada, o modo de avaliação é bem diferente do de países que estão ao nível do mar. Isso porque a maneira como o perfume vai exalar estará relacionada com as características ambientais, como temperatura, pressão atmosférica e estação do ano. E até com os costumes alimentares. No México, por exemplo, os produtos são bem mais fortes. Isso porque, com o hábito da população de consumir alimentos apimentados, o olfato é menos sensível.

Uma bela embalagem

Tão sedutor quanto o cheiro de uma fragrância deve ser o recipiente que o contém. Por isso, as duas coisas precisam ser pensadas de forma conjunta. O trabalho do perfumista corre em paralelo com o do criador do frasco. "Os dois têm de falar a mesma linguagem. Se o perfume é sensual, o frasco também deve ser, tanto na cor quanto na forma", diz Denise Coutinho, gerente de perfumaria da Natura. A tonalidade é fundamental e o perfumista deve estar a par - embora muitas vezes não opine - de como será a construção do frasco para que a cor do líquido não interfira na da embalagem, ou até se some a ela.

Muitas vezes a elaboração do frasco demanda tanta energia quanto a da própria fragrância. É o caso de J'Adore, da Dior. "Sua embalagem, assim como a fragrância, representa o conceito da feminilidade absoluta, expressa nas curvas femininas, no ouro reluzente, na beleza das flores. O frasco é a própria feminilidade", diz Ricardo Cosenza, treinador nacional da marca no Brasil.

Ao mesmo tempo em que o perfume era criado, o desenho foi encomendado ao designer francês Hervé Van der Straeten, famoso pelas joias e por objetos de decoração. Foi ele que desenvolveu o modelo em forma de ânfora, mantido no frasco de J'Adore L'Or, lançado para comemorar os dez anos da fragrância. A execução foi confiada a Baccarat, famosíssima por seus cristais.

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