Há três estados de beleza: ser bonita, estar bonita e sentir-se bonita

Há três estados de beleza: ser bonita, estar bonita e sentir-se bonita

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:36

Nas duas partes anteriores da reportagem, "A beleza utópica" e "A beleza real", mostramos como os atuais padrões de beleza podem ser inalcançáveis para a maioria da população. E como o estudo promovido pela Dove em dez países mostrou que a insatisfação feminina advém, em grande parte, do modelo transmitido pela mídia e por valores culturais. Mais importante, o relatório apontou para um caminho: as mulheres querem que beleza esteja dissociada de atratividade física. Buscam ampliar o conceito, e, aprofundando-o, dar sentido a uma filosofia de "beleza plena" - que se consegue trabalhando a autoestima.

O psicólogo clínico e psicoterapeuta Marco Antonio De Tommaso é especializado em Psicologia Clínica Geral, transtornos de ansiedade, de personalidade e alimentares. É também psicólogo das agências de modelos Elite e L'Equipe. Para ele, o início da conversa é que não existe um "padrão" de beleza. "Nem existe um aparelho para medir se esta mulher é mais bonita do que aquela, um ‘belezômetro'. Uns podem achar que Ana Paula Arósio é mais bonita que Gisele Bündchen. Aí outro chega e diz: ‘prove'. Como fazer isso?", afirma Tommaso.

“Há três estados de beleza: ser bonita, estar bonita e sentir-se bonita”

De qualquer forma, são a estes padrões - inatingíveis, não custa lembrar - que as mulheres se referem quando, diante do espelho, se vêem diferentes. Não há como negar a influência da mídia ao alimentar este ideal. "A mulher virou refém disso. É um movimento da cultura ocidental, e onde chega o movimento, chega o problema", diz Tommaso, que cita um caso bastante esclarecedor. "Houve recentemente um estudo de Harvard nas Ilhas Fuji, local onde, até 1995, não havia televisão. Pois bem: três anos após a chegada da TV, 69% das mulheres faziam dieta e 1/8 das mulheres pesquisadas tinha bulimia".

Mesmo entre os chamados "padrões", as modelos, o grau de exigência beira o insano: "Fiz um levantamento com 140 modelos. Absolutamente todas questionam a própria beleza e o próprio corpo", conta Tommaso.

Só resta a pergunta: o que fazer? O psicólogo explica que há três estados de beleza:

O SER bonita, que é um fator genético. A pessoa se adapta naturalmente ao modelo porque nasceu assim.

O ESTAR bonita, que é a beleza potencializada pela roupa, pela maquiagem, pelo cuidado com o corpo, tratamentos e cirurgia.

E o SENTIR-SE bonita, que é onde entra a autoestima. A autoestima é um potencializador da beleza.

É aí que está o caminho. Autoestima, conhecimento de nós mesmas, valorização do que temos de melhor. Tommaso conta que o ícone máximo de beleza, Gisele Bündchen, logo que chegou a São Paulo no começo da carreira, passou os primeiros nove meses ouvindo, nos castings, que era nariguda, sardenta e feia. “Ela ouvia, levantava a cabeça e seguia adiante para outro casting. O que é isso? Ela passava por cima do que diziam, acreditava nela. Isso é autoestima elevada. Não importa o que digam, importa como você se vê.”

Se a iniciante Gisele tivesse acreditado em seus primeiros testes, hoje não teríamos Gisele Bündchen. Quem sabe, as mesmas pessoas que a criticaram no início seja aquelas que hoje não acham Gisele Bündchen apenas lindíssima, mas a mais linda de todas.

A jornalista e apresentadora de TV Mauren Motta, 38 anos, não é Gisele Bündchen. Mauren é linda, inteligente, tem um senso de humor ótimo, é moderna, antenada com todas as novas tendências. Mas foge totalmente ao padrão exigido, principalmente no meio em que vive: Mauren tem alguns quilos a mais do que suas colegas de profissão. Só que, para ela, "estar bem consigo mesma, ter uma energia boa e positiva é uma forma de ser linda, só que de dentro pra fora". Lembra do terceiro ponto apontado pelo dr. Tommaso? Pois é. Mauren é linda porque tem autoestima elevada.

Para o médico, "autoestima é um retratinho mental que cada um tem de si mesmo". Em seu site http://www.tommaso.psc.br/site/ há uma série de artigos sobre o assunto. Em um deles, "A importância da autoestima", Marco Antonio De Tommaso explica que autoestima é confiança em nossos próprios valores, crenças e regras interiorizadas, que são referenciais externos. Com estes bem "cimentados", os referenciais externos passam por um filtro pessoal que determina o que deve ou não ser aceito - e isso vale para os modelos de beleza.

"Pessoas com autoestima elevada (...) são estimuladas pelos desafios pois confiam na própria capacidade de enfrentá-los. Superar desafios aumenta a autoestima o que, por sua vez, aumenta a capacidade de enfrentamento. Importante salientar que pessoas com autoestima elevada (...) são atentas aos sinais internos de intuição e de criatividade, acreditam nelas", escreve Tommaso.

O contrário, a baixa autoestima, acarreta problemas em vários campos da vida. O estudo da Dove mostrou que 70% das entrevistadas evitam situações cotidianas - como ir a um evento social, a uma reunião de trabalho ou mesmo emitir alguma opinião - quando estão brigadas com o espelho. E que 48% disseram que, quando se sentem menos bonitas, sentem-se pior de forma geral.

“A beleza pode ser alcançada através de atitude, espírito e outros atributos que não têm nada a ver com aparência física”

"O movimento deveria ser justamente o oposto", diz o dr. Tommaso. "Dizem que beleza traz consigo a felicidade. Não. A felicidade é que traz a beleza. A depressão, a tristeza, a raiva desmontam um rosto". Para ele, o cerne da questão é a confusão que se faz entre beleza e atração física, quando ela se compõe de tantas outras características como comunicação, simpatia, realização em outras áreas da vida. "Quem tem essas características é mais tolerante na avaliação da própria beleza".

Mauren Motta concorda em gênero, número e grau: "Eu sou vaidosa, me cuido. Faço as unhas dos pés e das mãos todas as semanas, faço hidroginástica, amo maquiagem, hidratação, escova, roupas. Mas não sou magra! E daí? Vou me matar? Existem milhões de mulheres como eu. Esse é o ponto: pessoas que não são padrão 1.70m X 50kg, mas que são lindas do jeito delas".

Mauren chegou a fazer a cirurgia para redução do estômago. Mas sem nóias. "Estava muito pesada, queria ver como era poder ser diferente. Foi lindo, rápido, sem drama", conta Mauren, que não ficou magra, mas ficou bem. "Pra mim, estava super ótima! Nem precisava mais". Na época, Mauren emagreceu 70% do sobrepeso, mas, devido a uma operação no joelho que a imobilizou, recuperou cerca de 25%. "Agora quero emagrecer e tenho mais dificuldades. Nada para ficar deusa-pau-de-magra. Apenas para ser melhor para mim e para os meus projetos - que são muitos".

O estudo realizado pela Dove aponta para uma nova postura das entrevistadas, que bate com a filosofia de vida de Mauren. A maioria das mulheres acredita que "beleza inclui muito mais do que uma pessoa é", e que "a beleza é algo que pode ser encontrado em tipos diferentes de mulheres". Algumas afirmações da pesquisa mostram que:

"Uma mulher pode ser bonita em qualquer idade" (89%);

"Toda mulher tem algo em si que é bonito" (85%);

"A beleza pode ser alcançada através de atitude, espírito e outros atributos que não têm nada a ver com aparência física" (77%);

"A felicidade é o elemento primário que faz com que uma mulher seja bonita, mas que elas mesmas aparentam ser mais bonitas quando estão felizes e realizadas em suas vidas" (86%).

A gerente de marketing da Dove, Fernanda Conejo, vê que o objetivo da marca foi atingido com a pesquisa. "Dove acredita que beleza é algo mais abrangente do que hoje é estabelecido pela mídia e com isso busca reconstruir o conceito de beleza destas mulheres, favorecendo o fortalecimento de sua autoestima", diz ela.

Não é fácil - e nem se consegue de uma hora para outra - mudar o conceito que está há tanto tempo arraigado em nossos corações e mentes. Mas se quisermos, podemos mudar o que vemos diante do espelho. O psicólogo e psicoterapeuta Marco Antonio De Tommaso dá algumas dicas em seu site:

- Busque a autoestima DENTRO DE VOCÊ. Banho de loja ou carro novo podem ser momentaneamente prazerosos, mas não recuperam a autoestima.

- Procure o autoconhecimento. Quais são as suas qualidades? Seus pontos fortes? Quais são seus limites? Como isso a preocupa e o que faz diante desses limites?

- Pratique a autoaceitação incondicional. Incondicional não quer "passivo". Você pode ter déficits em alguns assuntos, mas isso não a desqualifica como pessoa. Autoaceitação incondicional quer dizer ser "sua melhor amiga", mesmo não sendo perfeita.

- Se você não está satisfeita com seus déficits, vamos ao mandamento maior. NÃO SE LAMENTE, FAÇA! Transforme os lamentos em ação. Estabeleça metas viáveis e vá atrás. Persevere e não se compare com ninguém.

- Diga "não" ao perfeccionismo. Faça o melhor que puder. Procure melhorar sempre, mas não seja algoz de si própria. Assuma o risco do erro. Erros não são insucessos. São oportunidades de aprendizagem. Errou? Corrige. Caiu? Levanta. Quando almejamos a perfeição estamos a um passo da frustração.

- Cultive a assertividade. A capacidade de expressar seus direitos, sentimentos e emoções sem hostilidade e levando em conta o direito do outro. Desenvolva a empatia. Procure se colocar no lugar do outro. Trabalhe a capacidade de dizer "não" sem se sentir culpada.

- Redescobrir a autoestima habitualmente é um processo longo. Mas vale a pena.

- Caso essas dicas lhe pareçam difíceis, não se envergonhe. Procure ajuda psicoterápica.

Estes podem ser os primeiros passos para um caminho um pouco longo. Mas que será muito prazeroso quando você puder se olhar no espelho e perguntar, com um largo sorriso no rosto: "Espelho, espelho meu: existe alguém no mundo mais bonita do que eu?". Pode ter certeza que ele responderá que NÃO!    

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