Infusion de Tubereuse reforça tendência minimalista da Prada

Infusion de Tubereuse reforça tendência minimalista da Prada

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:36

Se extrapolarmos a estética das criações de Miuccia Prada – bolsas arredondadas e multicoloridas, cheias de ornamentos ao lado de um menswear linear, seco e clean – pode ser surpreendente o fato de a maison ter se tornado a “futura eminente” concorrente da maison Hermés no campo da escola neo minimalista de perfumes.

Mas tivemos algumas pistas. A Prada sempre intelectualizou a construção de suas roupas através de uma abordagem quase arquitetônica: ela considera não só como um tecido sintético deve parecer quando usado em uma jaqueta, mas também como ele pode, fisicamente, estruturar a peça. Por mais contra intuitivo que isso possa parecer, este tipo de intelectualização frequentemente indica um caminho em direção à purificação. Tire a ornamentação, simplifique o estilo e diminua o volume para que a voz mais suave do trabalho possa ser ouvida com mais clareza.

Arquitetos e perfumistas são bastante parecidos em suas abordagens para os respectivos meios. Tomemos um material (cabos de fibra de carbono, altamente resilientes, ou moléculas sintéticas florais e verdes com duas ligações de Hidrogênio) e o deixemos ao lado de outro material (cerejeira ou óleo de rosa). Se tiver alguma influência pós-modernista, o trabalho resultante vai se desconstruir, exibindo seus vários materiais. Com um número crescente de materiais de alta tecnologia à disposição, arquitetos do primeiro escalão, como Tadao Ando e Rem Koolhaas, incorporaram o adágio de que menos é mais. Do mesmo modo, as novas fragrâncias Prada são ao mesmo tempo coerentes e desconstruídas.

Começando pelo Infusion d’Iris, que a perfumista Daniela Andrier construiu com a intensa colaboração de Miuccia e que foi lançado em 2007, a Prada distanciou sua coleção do perfume epônimo de 2004 – que era uma obra de arte esbanjando neo-romantismo – em favor de uma roupagem cada vez mais minimalista e pós-moderna. Com os dois mais novos perfumes, Infusion de Tubereuse e Infusion de Vetiver, a coleção cresceu um pouco, e a mudança está mais interessante. (Tubereuse vem sendo comercializado como feminino e Vetiver, como masculino. Ignore esta classificação.)

Vetiver é um tipo de grama tropical com aroma adstringente, limpo, maravilhosamente orgânico e que, dependendo do tipo, também carrega sugestões de terra argilosa, putrefata, úmida e adocicada, além de uma secura que lembra feno. Ele vem do Haiti, e é um produto de exportação significativo o bastante para o país, a ponto de a compra de um vidro de Infusion de Vetiver ou do Vetiver Guerlain de 1959 – o primeiro perfume a explorar a matéria-prima – significar uma ajuda real para os haitianos. (O cheiro do vetiver ficou famoso recentemente. Um exemplo particularmente deslumbrante é Fat Electrician, de Etat Libre d’Orange, com suas matérias-primas expressas num barítono limpo e forte.)

Não surpreende o Infusion de Vetiver estar para o vetiver assim como o excelente Infusion d’Iris da Prada está para a íris: uma meditação Steve Reichiana em um único tema. Andrier escolheu estragão, pimenta e gengibre como seus materiais, mas a estrutura que fornecem é extremamente oblíqua: eles existem somente para sustentar o vetiver, assim como aço e concreto envolvem uma pele de vidro em um prédio. O cheiro é limpo, conciso, um pouco vago e um pouco austero. Como o projeto de Koolhaas para a loja da Prada em Beverly Hills, seus componentes são evidentes.

Até agora, Infusion de Tubereuse é o perfume mais interessante dos dois, pois se vale da abordagem cristalina e minimalista da Prada em uma matéria-prima densa e feroz. A tuberosa, uma flor tropical branca, é como um creme de mil calorias e que tem uma força exoticamente doce, quase violenta. A fragrância-referência da tuberosa, Fracas, de Robert Piguet (criada, entretanto, por Germaine Cellier em 1948), é um trabalho concretista. Sua beleza está em sua agressão, e ao mesmo tempo em que Fracas é belíssimo, ele não tem nada de sutil.

Com uma abordagem bastante diferente, Andrier e Prada fazem com que você enxergue o material com outros olhos. Em 2000, os perfumistas Alain Alchenberger e Laurent LeGuernec tentaram uma reinvenção mais comercial do perfume epônimo de Michael Kors. Um perfume excelente e que atenuou o impacto do material a quase nada ao vesti-lo com um veludo olfativo doce, que agia como um amortecedor. Mas com Infusion de Tubereuse, Andrier produziu um realismo fotográfico – você poderia se sentir colhendo a flor no jardim – e ao mesmo tempo lhe deu uma estrutura linear e fresca.

Tubereuse tem uma falha técnica, talvez inevitável dada a aplicação dos princípios minimalistas ao perfume, isto é, a falta de fixação na pele. Ninguém conseguiu resolver este problema. Mas a reaplicação do perfume é uma solução simples: experimente, e sinta a estrutura toda do cheiro ressurgir. Toda e em partes. Sutilmente regulado. A beleza presente no equilíbrio.    

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