Em uma indústria sufocada entre todo tipo de constrição (a maioria delas de marqueteiros dissimulados que falsificam, restringem e barateiam tudo o que tocam), a perfumaria de nicho de Nova York, Bond no. 9, é dona de - e exercita - sua liberdade de várias maneiras. Talvez a principal liberdade seja a de sacudir as convenções de gênero, "este é masculino, aquele é feminino".
Uma loja que faz negócios em seus próprios e inflexíveis termos, a Bond no. 9 pode se dar ao inestimável luxo de dizer aos marqueteiros - cuja doutrina é "os homens só compram porcaria, vamos continuar lhes dando porcaria" - que eles podem ir para o inferno. Isso significa que ela tem inteligência para tal.
Agora, será que se deve separar em gêneros os artigos para o mercado de massa? Claro, os executivos estão certos quanto a essa alegação. Armani, por exemplo, é como o exército, e quem compra seus produtos precisam receber ordens. Isto não significa que todos os Armanis são necessariamente ruins. Simplesmente são militares.
Bond no. 9, pelo contrário, é como a fábrica do Willy Wonka gerenciada pelo pessoal do New Museum: produz obras de arte - deleites (Little Italy), surpresas (Bryant Park), elegância urbana (Silver Factory) e coisas que são maravilhosas e impressionantes, como o New Haarlem, lançado em 2004.
Sob a direção criativa de Laurice Rahme, o perfumista Maurice Roucel criou um rico café com açúcar queimado, levemente condimentado pela elegância urbana da meia-noite, macio como creme, forte e luminoso como o (jogador de futebol americano) Reggie Bush.
Este perfume corre como uma Maserati. Bond criou uma fragrância extraordinária, inteligentemente proclamada unissex e então jogada no mercado. Tecnicamente perfeita - intensidade, fixação e evolução -, New Haarlem não precisa deixar todos os outros masculinos comendo poeira. Ele apenas está em uma corrida diferente.
Tradução: Érika Brandão
*O crítico de perfumes é autor de "O Imperador do Olfato: Uma História de Perfume e Obsessão" (Companhia das Letras), de "The Perfect Scent: A Year Inside the Perfume Industry in Paris and New York" e do recém-lançado romance "You or Someone Like You", (ambos sem tradução no Brasil).
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