Perfume Malibu by Pamela Anderson

Perfume Malibu by Pamela Anderson

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:35

Na cultura popular, as celebridades podem escolher entre virar referência cultural bem popular, até mesmo degradante, alvo de piadas ou coisa pior. Várias delas optaram conscientemente por preencher essas vagas, já que ser alvo de piadas se transformou em um autêntico direito à celebridade, equivalente à posse de talento verdadeiro, genialidade ou heroísmo.

Os perfumes transformam celebridade em dinheiro com mais eficiência do que qualquer outra coisa, e agora talento, beleza, heroísmo e piadas, na mesma medida, transformam suas identidades em dinheiro num ritmo frenético (podemos esperar que a genialidade seja a próxima vítima; suponho que a Coty e a Lauder logo comecem a licenciar vencedores de prêmios como Nobel e Pulitzer). As celebridades dão início ao processo alquímico de transformar fama em dinheiro ao vender seus nomes para licenciados, que então fazem suas fragrâncias – e fazem chover.

Não é nenhuma surpresa que Pamela Anderson também queira monetizar assim a sua celebridade. Ela é uma grande referência cultural, e tem visibilidade. Suas fragrâncias Malibu e Malibu Night foram lançadas em revendedores de grande escala como CVS, Rite Aid, Walgreens, Sears e Overstock.com. Isso significa que a qualidade do perfume vai servir como única fonte de informação sobre um perfume para um público imenso – muitos dos quais normalmente não usariam nada.

Ao permitir que Malibu by Pamela Anderson fosse criado e lançado no mercado, Anderson se transformou ainda mais enfaticamente em alvo de piadas (de qualquer modo, é este o tipo de celebridade que vem lhe caindo bem). Ela e a International Beauty Brands, a empresa licenciada que supervisionou a criação destas fragrâncias, participaram do massacre da perfumaria como ela é percebida, comercializada e usada.

Esnobismo direcionado para qualquer produto é uma estupidez; interesse pela qualidade do produto, em qualquer nível que seja apropriado para a renda e o gosto de quem compra, não. Se você tem a sorte de comprar na Barneys, na Aedes ou na Lafco, tem sorte de poder comprar l’Eau d’Italie, l’Artisan ou Editions de Parfums. Se compra na Sears ou na Rite Aid, provavelmente não tem a sorte de conhecer esses perfumes de nicho, mas merece – se não moralmente, pelo menos de acordo com a lógica amoral do capitalismo – um produto que não seja um engano comercial que chega ao ponto de diminuir seu mercado.

As fragrâncias de Anderson têm cheiro de coisa barata, feia e mais química do que as fragrâncias funcionais criadas para marcas de descolorantes de pelos. Do ponto de vista técnico, estes perfumes não têm fixação, intensidade ou estrutura. Do ponto de vista estético, qualquer xampu das gôndolas da Rite Aid (aí inclusas as marcas genéricas) está aromatizado com uma fragrância de qualidade superior. Se a IBB simplesmente engarrafasse a fragrância funcional do Purell, o resultado seria amplamente superior.

O release para imprensa regurgita as aspas de praxe do presidente da IBB, Tony Eluck: As fragrâncias “incorporam o estilo de vida de Pamela em Malibu”. E ele complementa com a seguinte observação: “Ao ser vendido por US$39 e US$49, Malibu é um produto de luxo, a um preço razoável.” Mas os fãs de Anderson - que não suspeitam de nada - que comprarem estes produtos vão perceber que compraram lixo, e um grande número deles nunca mais vai usar novamente um perfume, acreditando piamente, mas não sem uma certa lógica, que esta porcaria representa um perfume.

*O crítico de perfumes é autor de "O Imperador do Olfato: Uma História de Perfume e Obsessão" (Companhia das Letras), de "The Perfect Scent: A Year Inside the Perfume Industry in Paris and New York" e do recém-lançado romance "You or Someone Like You", (ambos sem tradução no Brasil).    

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