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Saúde

As vilãs da saúde da mulher moderna

As vilãs da saúde da mulher moderna

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:53

Em cima do salto alto, a mulher brasileira tenta equilibrar três características que não deveriam caminhar em sincronia. Isoladas, a hipertensão, a obesidade e a inatividade física já aumentariam o perigo à saúde feminina, mas o retrato nacional evidencia que estes fatores de risco crescem juntos, ano após ano, sendo responsáveis pelo contorno contemporâneo dos cromossomos X.

Cada casa decimal avançada por estes vilões do bem-estar, aproxima as mulheres de uma lista extensa de outros problemas, entre eles os temidos câncer de mama, infartos e acidentes vasculares cerebrais (AVC). O sexo feminino pode estar mais forte do ponto de vista econômico, mas a saúde, mostra monitoramento do Ministério da Saúde, ficou mais vulnerável às doenças crônicas.

Fatores de risco e a mulher

Na mira do trio hipertensão, obesidade e sedentarismo, as mulheres não estão sozinhas. Apesar da epidemia afetar os dois gêneros – conheça os três inimigos do homem –, na fatura delas a cobrança pelo crescimento destes fatores de risco tende a ser mais abrangente, analisam os especialistas.

Por terem conquistado o mercado de trabalho e aumentado a carga horária trabalhista, as mulheres também são responsabilizadas pelos filhos estarem mais gordos e os maridos precisarem recorrer com mais frequência ao fast food – já que o jantar não os espera mais posto à mesa. Para todos – e por que não culpá-las por isso também? – o tempo ficou mais curto e não sobram horas extras para fazer exercícios físicos.

“A nova postura feminina trouxe um fardo pesado de carregar”, reconhece a psicóloga especializada em obesidade e síndrome metabólica do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP), Marlene Monteiro da Silva. “Para sobressair e não parecer frágil, as mulheres acreditaram ser preciso anular o papel do homem. Em vez de dividir, acumulamos funções e obrigações, entre elas a de ser a melhor mãe, a mais competente profissional e ainda ter um corpão perfeito.”

Este peso sobre os ombros repercutiu nos ponteiros da balança. Hoje 56,3% das brasileiras têm quilos a mais do que o saudável preconizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Os dados nacionais apontam que 89% da população feminina com mais de 18 anos não praticam atividades físicas e quase 28% delas convivem com a hipertensão.

Uma pesquisa feita pela Fundação Oswaldo Cruz entrevistou 1.819 mulheres do Rio de Janeiro e mostrou que todos estes fatores de risco estão de mãos dadas com o estresse profissional.

Ligações em teia

O objetivo inicial do estudo era apurar a relação entre trabalho e hipertensão feminina. Os resultados, no entanto, evidenciaram ligações em teia com a obesidade, sedentarismo e outros hábitos não saudáveis da mulher moderna.

As entrevistadas tinham que classificar o perfil do trabalho que realizam. Eram duas opções: pouca demanda psicológica ou muita demanda psicológica. Esta última opção, já comprovadamente mais danosa e influente na pressão arterial, refere-se àqueles serviços em que as mulheres teriam pouca possibilidade de controle, ou seja, não tinham suas opiniões respeitadas, pouco espaço para sugerir mudanças e para definir diretrizes.

Este perfil de serviço foi assinalado por 21% das participantes. Curiosamente, além das hipertensas estarem em maior número neste grupo, também foi significativamente maior a presença – em diferença estatística de quase duas vezes – aquelas que não praticavam nenhuma atividade física, as que consumiam álcool de forma moderada ou alta, as fumantes e as com sobrepeso.

Não é à toa

A doutora em saúde pública e a autora da pesquisa sobre hipertensão, Márcia Guimarães de Mello Alves, afirma que apesar dos achados de seu estudo não terem encontrado uma relação de causa e consequência bem definida, sua opinião pessoal é de que não é o trabalho que contribuiu para o aumento da pressão alta feminina e, sim, as dificuldades que as mulheres encontram para se inserir e se manter neste mercado de trabalho. Ela usa a sua experiência para explicar a avaliação.

“Do ponto de vista intelectual e profissional, almejei e consegui uma boa posição e que demandou muito desgaste físico, emocional, familiar. Nada foi de graça! Não me arrependo de nada, mas curiosamente, aos 40 anos, enquanto desenvolvia minha tese de doutorado (esta mesmo sobre hipertensão) passei a apresentar crises hipertensivas leves. Não deve ter sido à toa, né?”, diz ao justificar que apesar de estar no grupo das hipertensas, tem o privilégio de exercer a carreira que sonhou e tem apenas um filho (apesar de ter sonhado ter três).

O Delas entrevistou a empresária e advogada de Florianópolis, Neiva Kieling – que venceu o sedentarismo; a nutricionista Célia Maria Silva Amorim – que aprendeu a controlar a hipertensão, porém não consegue incluir as atividades físicas na rotina – e a médica, professora universitária e secretária de Estado Linamara Battistella que não está presente em nenhum dos três fatores de risco.

Para sair do alvo ou do sedentarismo, ou da hipertensão ou da obesidade, as receitas destas mulheres envolvem mais do que alimentação regrada ou uma rotina zen, duas condições tidas como impossíveis nos dias atuais porém escaladas para estarem nos próximos capítulos da mulher moderna.

“As projeções são otimistas, mas não haverá mudanças substanciais nos próximos dez anos”, acredita Linamara, que nocauteou o sedentarismo subindo lances de escada sempre com seu scarpin altíssimo .

“O que precisamos é de uma transformação geral de costumes, reinventar cardápios e quebrar alguns mitos, como fizemos com aquela história de que era chique fumar. Isso exige tempo”, completa a ela, ao reconhecer que o segredo vai muito além do que sua estratégia de “não comer pão para poder beliscar o chocolate” seu vício assumido.

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