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Depressão também pode atingir crianças

Depressão também pode atingir crianças

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:28

Ao contrário do que muitos pensam, crianças também sofrem de depressão. A doença que sempre pareceu um mal exclusivo dos adultos hoje em dia, segundo o National Institute of Mental Health,  afeta cerca de 1% a 3% das crianças na fase da pré - adolescência (11 aos 13anos) e  3% a 9% dos adolescentes (13 aos 18 anos).

Diagnosticar depressão é mais difícil nas crianças, pois os sintomas podem ser confundidos com irritabilidade, birras, mau humor e agressividade. O que diferencia a depressão das tristezas do dia a dia é a intensidade, a persistência e as mudanças nos hábitos normais das atividades da criança.

A depressão infantil é um transtorno do humor capaz de comprometer o desenvolvimento da criança ou do adolescente e interferir no seu processo de maturidade psicológica e social. As manifestações da depressão em crianças e em adultos são diferentes, possivelmente devido ao processo de desenvolvimento que existem na infância e adolescência.

A etiologia da depressão tem sido estudada por vários autores e não se encontrou uma causa específica que possa justificar quadros de depressão na infância. Entretanto, existem vários fatores de risco associados ao aparecimento da doença, que podem ser encaixados em três categorias: biológica, psicológica e social/ambiental.

Dentre as causas biológicas, a mais significante e bem estudada é o fator genético ou a hereditariedade para a depressão. Vários estudos têm mostrado altas taxas de depressão nos parentes adultos de crianças ou adolescentes com o problema. Estudos também mostram que o tratamento da depressão da mãe pode ajudar no desenvolvimento dos filhos.

Em relação aos aspectos psicológicos sabe-se que situações traumáticas, tais como separação dos pais, mudança de colégio, morte de uma pessoa querida ou animal de estimação podem desencadear quadros de depressão. Com relação aos aspectos sociais e ambientais imagina-se que a pobreza pode estar relacionada com a depressão.

O psicanalista inglês John Bowlby contribuiu com as suas investigações para o estudo das reações da criança frente a uma separação materna e relaciona estes comportamentos como uma primeira depressão. O autor defende que a fase considerada mais crítica situa-se entre os cinco meses e os três anos de idade.

Numa primeira instância, o bebê atravessa uma fase de protesto no momento de separação, apresentando choro, agitação, com manifestações que persistem até dois ou três dias; posteriormente segue-se a fase de desespero (bebê rejeita comer, ser vestido e tudo que o rodeia, assemelhando-se a um estado de grande luto); por último, aparece a fase de desvinculação, quando recusa a presença de enfermeiros e não aceita os seus cuidados sem a presença da mãe. Este tipo de depressão infantil pode ocorrer muito precocemente e está relacionada à ausência dos cuidados maternos.

Apesar de a depressão poder aparecer em qualquer idade, o risco de desenvolver a doença aumenta significantemente com a puberdade. A prevalência de depressão nos adolescentes chega a 25%, de acordo com a Academia Americana de Psiquiatria da Infância e Adolescência. Os principais sintomas de depressão na infância são sentimentos de desesperança, dificuldade de concentração, memória ou raciocínio, angústia, pessimismo, agressividade, falta de apetite, tronco arqueado, falta de prazer em executar atividades, isolamento, apatia, insônia ou sono excessivo que não satisfaz, desatenção em tudo que tenta fazer, queixas de dores, baixa autoestima e sentimento de inferioridade, ideia de suicídio e pensamento de tragédias ou morte, sensação frequente de cansaço ou perda de energia, sentimentos de culpa e dificuldade de se afastar da mãe.

Os pais ou responsáveis podem perceber a depressão infantil quando ocorrer uma mudança significativa no comportamento da criança que envolva os sintomas acima descritos.

Relações parentais desestruturadas, cobranças excessivas e a falta de tempo livre podem ser fatores causadores da depressão infantil. A preocupação excessiva com o futuro da criança também tem influenciado as decisões dos pais na hora de conduzir o cotidiano dos filhos.

Muitos pais acham que as crianças devem se preparar para a concorrência profissional desde cedo e concordam que para estarem preparadas para a vida devem estudar mais do que brincar. Só que é preciso ficar atento. As crianças estão cada vez assumindo mais responsabilidades e compromisso, além do que podem suportar, brincando menos do que deveriam.

O excesso é prejudicial ao desenvolvimento infantil e gera desinteresse pelos estudos, brincadeiras, além de problemas na aprendizagem, queda no rendimento escolar, estresse, cansaço e até depressão.

Há vários estudos a respeito da relação entre depressão infantil e rendimento escolar. As principais alterações estão nas funções cognitivas como atenção, concentração e memória. É alta a incidência de sintomas depressivos em crianças com dificuldades escolares.

O baixo rendimento escolar decorrente da depressão parece estar associado com as dificuldades destas crianças em prestar atenção na explicação, apesar de terem habilidades cognitivas correspondentes à faixa etária.

Dificuldades de aprendizagem e sintomas de desordem afetiva costumam ser confundidos e essa situação demanda uma investigação cuidadosa. É necessário verificar qual o quadro primário, a depressão ou a dificuldade de aprendizagem para que o encaminhamento de tratamento seja adequado.

Para o diagnóstico de depressão na infância é importante que os sintomas estejam presentes durante as duas últimas semanas e que representem uma mudança significativa do funcionamento da criança com pelo menos um dos sintomas.

Para as crianças, o tratamento da depressão pode incluir psicoterapia isoladamente ou em combinação com medicação antidepressiva. Embora as opiniões variem sobre qual o tratamento da depressão deve ser julgado em primeiro lugar, um crescente corpo de evidências indica que a melhor abordagem para a maioria das crianças é uma combinação de ambos.

O plano de tratamento deve ser adaptado para a gravidade dos sintomas da criança e como eles afetam o seu desenvolvimento.

Muitos tipos de psicoterapia estão disponíveis. Para tratamento da depressão, a terapia cognitivo-comportamental pode ser especialmente eficaz. Crianças que estão deprimidas muitas vezes têm uma visão negativa de si mesmas. Com a terapia elas aprendem a desenvolver uma perspectiva mais positiva, o que pode ajudar a aliviar a depressão. É sempre útil as famílias estarem igualmente envolvidas na terapia.

Algumas pesquisas indicam uma ligação entre uso de antidepressivos e aumento de pensamentos suicidas e comportamentos em crianças em tratamento com esses medicamentos, por isso é importante que os médicos avaliem cuidadosamente os riscos e benefícios antes de prescrever antidepressivos para crianças. Ainda assim, para muitas delas, os benefícios dos antidepressivos superam os riscos.

Mesmo quando os sintomas de depressão vão embora, a psicoterapia ou os antidepressivos devem continuar por algum tempo, pois isso irá reduzir o risco da depressão se repetir. A detecção precoce e tratamento da depressão são importantes em qualquer idade e o apoio da família é essencial. Se você suspeitar que seu filho está deprimido, entre em contato com o seu médico ou um profissional de saúde mental.

O médico, o psicólogo, pais e professores devem estar envolvidos nesse processo. Deve-se buscar o maior número possível de informações, pois somadas ajudarão os profissionais a realizar uma intervenção mais eficiente. Conhecer as amizades da criança, seus gostos e desejos, suas críticas e fantasias é fundamental para todos os que interagem com a criança.

Para o tratamento das crianças é fundamental a participação dos pais, pois todos precisam "remar" na mesma direção. Os pais precisam receber orientações de como lidar com a criança deprimida dentro de casa e ajudá-la a sair desta condição o mais rapidamente possível. A depressão é uma condição crônica e recorrente, e em caso de não ser bem tratada pode ter recaídas.

Às vezes é mais fácil negar que seu filho tenha depressão. Você pode adiar a procura de um profissional de saúde mental devido a estigmas sociais, no entantoé muito importante entender a depressão e perceber a importância do tratamento para que a criança possa continuar a crescer fisicamente e emocionalmente de uma forma saudável. Também é importante procurar informações sobre depressão e seus efeitos futuros durante a adolescência e idade adulta.

Se você é um pai de uma criança ou adolescente, está ciente dos desafios envolvidos na comunicação com os filhos. Aqui estão algumas dicas para tornar seu contato mais fácil:

• Ao disciplinar o seu filho, substitua a punição pelo reforço positivo. Vergonha e punição podem fazer uma criança e um adolescente se sentirem inúteis e inadequados. Autorize o seu filho a cometer erros. Superproteção pode ser percebida como uma falta de confiança nas suas capacidades. Isso pode torná-los menos confiantes.

• Dê espaço para o seu filho. Não espere que eles façam exatamente o que você diz o tempo todo.

• Não force seu filho a um caminho que você gostaria de seguir. Evite tentar reviver sua juventude por meio de atividades e experiências do seu filho.

Se você suspeitar que seu filho está deprimido, permita ouvir suas preocupações. Mesmo se você não acha que o problema é uma preocupação real, lembre-se que algumas queixas podem ser muito reais para eles. É importante manter a linha de comunicação aberta. Tente evitar dizer ao seu filho o que fazer. Em vez disso, ouça atentamente e descubra quais as causas dos problemas.

Se você se sente incapaz de chegar perto de seu filho, procure ajuda de um profissional de saúde mental qualificado para auxiliar essa relação.

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