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Saúde

Distúrbio do barulho é comum em crianças, especialmente nas com dislexia

Distúrbio do barulho é comum em crianças, especialmente nas com dislexia

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:39

“O DPAC é um defeito no canal do ouvido que leva o som para o cérebro. A criança ouve bem, porém, na hora de processar o som tem dificuldades. Ela não consegue lidar com os sons que escuta”, explica a fonoaudióloga e psicopedagoga Maria Angela Nico, da Associação Brasileira de Dislexia (ABD). A criança com o distúrbio tem dificuldade de separar os sons, por isso em ambientes barulhentos – como uma sala de aula – quando o professor fala e outros alunos também falam, fica difícil separar o que um e outro está falando.

“O colorido do som é perdido. É como se você tentasse ouvir música em um fone de ouvido de má qualidade e compensasse isso aumentando o som. É assim que uma criança com DPAC ouve”, explica a fonoaudióloga Liliane Desgualdo Pereira, da Universidade Federal de São Paulo, pioneira no diagnóstico da DPAC no Brasil.

Segundo Liliane, não existe um consenso sobre as causas da desordem, que podem estar relacionadas à falta de estímulos sonoros durante a infância, razões genéticas ou neurofisiológicas (agravos no sistema auditivo nervoso central). O certo é que não se trata de uma doença, mas pode ser resultado de doenças no ouvido como, por exemplo, uma inflamação que atrapalhe o desenvolvimento do sistema nervoso central. “Como o sistema público de saúde é falho em muitos lugares do Brasil, é comum uma criança ter otite uma, duas, três vezes – a otite de repetição. Isso pode causar um agravo no sistema nervoso central que gera o distúrbio de processamento”.

Estima-se que 10% das crianças em idade escolar apresentem a DPAC. Deste total, 1% tem dislexia. “Na evolução, quem ouve mal, fala, lê e escreve mal. Por isso a comorbidade entre os dois distúrbios”, diz.

Diagnóstico e tratamento

Alguns sinais indicam que a criança apresenta a DPAC. Se o seu filho tem dislexia, além das dificuldades de aprendizagem típicas do transtorno, a criança age como se não quisesse escutar ou apenas ouvisse quando há interesse. Nos primeiros anos de alfabetização, a criança não identifica sílabas e vogais, tem a memória atrapalhada, é desatenta, parece que tem preguiça. Por volta dos 2 anos de idade, a criança já tem capacidade de saber de onde vêm os sons. Caso você chame seu filho da sala e ele, no corredor, não consiga identificar onde você está, isso também pode ser sinal da DPAC. Um jovem com o distúrbio não compreende entonações de voz diferentes, piadas ou frases de duplo sentido. Uma tarefa simples como falar ao telefone se torna um tormento.

Segundo Maria Angela, durante o diagnóstico da dislexia é possível identificar o DPAC, já que a criança passa por exames com uma equipe multidisciplinar. “Durante os exames de fonoaudiologia é possível perceber se a criança pode ter o distúrbio”. Identificada a desordem, ela deve ser encaminhada para o profissional de fonoaudiologia especializado no DPAC. A partir daí, a criança passa por uma série de exames, além de uma avaliação neurológica, com o objetivo de identificar e quantificar o nível e o grau do distúrbio.

A reabilitação do paciente com DPAC é feita sem medicamentos. O objetivo é “arrumar” o caminho do som até o cérebro por meio de estímulos auditivos. O destaque deste processo de reabilitação diz respeito ao uso de recursos tecnológicos como o audiômetro – equipamento que permite apresentar sons de fala e tons puros por fones de ouvido. Quando acoplado a um aparelho de CD, ele reproduz estímulos diferentes um em cada orelha, a escuta dicótica. Este procedimento é feito em uma cabina acústica ou sala silenciosa.

Os resultados são animadores: em até 80% dos casos, os pacientes se recuperam totalmente. E os resultados podem ser vistos em até dois meses. Tem início, então, outro processo que visa a compensar o “tempo perdido”. O foco é aumentar o vocabulário, melhorar a linguagem, aprender o conteúdo curricular perdido e trabalhar as dificuldades emocionais de interação. “Este tratamento é mais longo e pode durar de seis meses a um ano ou mais, e necessita de uma equipe multidisciplinar de profissionais”, conclui Liliane.

por Marina Teles   

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