O número de transplantes de órgãos no Rio Grande do Sul cresceu 30% nos últimos meses. Desde julho, são realizadas cerca de 130 cirurgias mensais, enquanto no primeiro semestre do ano a média era de 100 procedimentos por mês. Em compensação, aumenta também a lista de espera por um transplante e, por consequência, a demora para receber um órgão, que pode levar até sete anos. O assunto foi abordado ontem pela coordenadora da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos (CIHDOTT), a médica Cynthia Caetano, durante palestra no Hospital Santa Cruz. O evento integrou a programação da Semana Nacional de Doação de Órgãos e Tecidos.
Segundo Cynthia, os índices podem ser explicados pelo fato de a morte encefálica não ser um evento comum, o que por outro lado é considerado positivo. "No Brasil ocorrem cerca de 60 mortes cerebrais por milhão de população. A ideia não é aumentar esse número, e sim trabalhar para que as pessoas nesta situação sejam doadoras", explica.
A negativa familiar, ou seja, o não consentimento da família para que ocorra a captação de órgãos, ainda é expressiva. Só em Santa Cruz do Sul, em 40% dos casos a cirurgia não é autorizada pelos parentes. No Brasil, são 33% de negativas. A Argentina lidera o ranking, com 66%, e a Espanha tem a melhor situação, com 25% de negativas. Cynthia acredita que a falta de informação e confiança acerca dos procedimentos são as principais motivações para as recusas. "Por isso a divulgação dentro das instituições é de extrema importância", destaca.
Para mudar essa realidade, participaram da atividade no Hospital Santa Cruz cerca de 60 funcionários, residentes e acadêmicos, que foram orientados sobre o protocolo da doação, desde o diagnóstico da morte encefálica, o contato com a família até a retirada dos órgãos.
AMOR INCONDICIONAL
Cynthia destaca, ainda, a importância de manifestar o desejo de doar órgãos ainda em vida. "Isso facilita a decisão da família. Sem essa informação, as chances de ocorrer a doação são menores de 30%", afirma. Para o procedimento ser concretizado, a morte encefálica precisa ser diagnosticada por meio de dois exames, realizados por médicos diferentes com um intervalo de, no mínimo, 6 horas. Além disso, um terceiro exame é feito para comprovar que não existe mais atividade cerebral. Nessa etapa, devem ser descartadas doenças transmissíveis e comprometimento dos órgãos. "Este é o momento do óbito. Mesmo que o coração continue batendo, o quadro não pode mais ser revertido. O máximo que pode ser feito é manter o corpo com aparelhos até que a família decida sobre a doação", esclarece Cynthia.
A decisão, inclusive, não admite muito tempo, já que com o coração parado a doação de múltiplos órgãos é inviabilizada, sendo possível aproveitar somente as córneas e os tecidos. "O processo é simples e não possui muitas contraindicações, salvo algumas doenças, como determinados tipos de câncer e HIV. Não há limite de idade, tanto órgãos de bebês quanto de pessoas com mais de 70 anos podem ser aproveitados", complementa.
Conforme a médica, aqueles que necessitam de transplante de córneas aguardam em uma lista de espera regional, formada por municípios atendidos pela 13ª Coordenadoria Regional de Saúde. No caso de transplante de órgãos, existe uma lista única para todo o Estado, organizada pela Central de Transplantes do Rio Grande do Sul. "As 10 pessoas que estão há mais tempo na lista têm sempre prioridade nos testes de compatibilidade", salienta.
Efetuada a doação, a família pode obter informações como o nome, sexo e idade da pessoa que foi beneficiada com o órgão. A identidade, contudo, é preservada pela Central com o intuito de evitar a possibilidade de relações patológicas, comuns por parte dos enlutados. "A doação deve ser um ato de amor incondicional. Quem colabora, não destina o benefício a alguém em especial, mas ajuda quem está precisando", finaliza.
Corrida contra o tempo
O tempo de isquemia fria, isto é, o período máximo em que é possível conservar um órgão entre a sua extração e o transplante, é variável e geralmente não muito extenso. Por isso, a distância muitas vezes é um obstáculo a ser superado para o sucesso dos procedimentos. São comuns casos de transporte de órgãos por avião e a simultaneidade das cirurgias de retirada e recebimento do órgão. Confira a tolerância dos principais órgãos:
Coração: de 4 a 6 horas
Pulmão: de 4 a 6 horas
Fígado: de 12 a 18 horas
Pâncreas: de 12 a 24 horas
Rim: de 24 a 36 horas
O número de transplantes de órgãos no Rio Grande do Sul cresceu 30% nos últimos meses. Desde julho, são realizadas cerca de 130 cirurgias mensais, enquanto no primeiro semestre do ano a média era de 100 procedimentos por mês. Em compensação, aumenta também a lista de espera por um transplante e, por consequência, a demora para receber um órgão, que pode levar até sete anos. O assunto foi abordado ontem pela coordenadora da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos (CIHDOTT), a médica Cynthia Caetano, durante palestra no Hospital Santa Cruz. O evento integrou a programação da Semana Nacional de Doação de Órgãos e Tecidos.
Segundo Cynthia, os índices podem ser explicados pelo fato de a morte encefálica não ser um evento comum, o que por outro lado é considerado positivo. "No Brasil ocorrem cerca de 60 mortes cerebrais por milhão de população. A ideia não é aumentar esse número, e sim trabalhar para que as pessoas nesta situação sejam doadoras", explica.
A negativa familiar, ou seja, o não consentimento da família para que ocorra a captação de órgãos, ainda é expressiva. Só em Santa Cruz do Sul, em 40% dos casos a cirurgia não é autorizada pelos parentes. No Brasil, são 33% de negativas. A Argentina lidera o ranking, com 66%, e a Espanha tem a melhor situação, com 25% de negativas. Cynthia acredita que a falta de informação e confiança acerca dos procedimentos são as principais motivações para as recusas. "Por isso a divulgação dentro das instituições é de extrema importância", destaca.
Para mudar essa realidade, participaram da atividade no Hospital Santa Cruz cerca de 60 funcionários, residentes e acadêmicos, que foram orientados sobre o protocolo da doação, desde o diagnóstico da morte encefálica, o contato com a família até a retirada dos órgãos.
AMOR INCONDICIONAL
Cynthia destaca, ainda, a importância de manifestar o desejo de doar órgãos ainda em vida. "Isso facilita a decisão da família. Sem essa informação, as chances de ocorrer a doação são menores de 30%", afirma. Para o procedimento ser concretizado, a morte encefálica precisa ser diagnosticada por meio de dois exames, realizados por médicos diferentes com um intervalo de, no mínimo, 6 horas. Além disso, um terceiro exame é feito para comprovar que não existe mais atividade cerebral. Nessa etapa, devem ser descartadas doenças transmissíveis e comprometimento dos órgãos. "Este é o momento do óbito. Mesmo que o coração continue batendo, o quadro não pode mais ser revertido. O máximo que pode ser feito é manter o corpo com aparelhos até que a família decida sobre a doação", esclarece Cynthia.
A decisão, inclusive, não admite muito tempo, já que com o coração parado a doação de múltiplos órgãos é inviabilizada, sendo possível aproveitar somente as córneas e os tecidos. "O processo é simples e não possui muitas contraindicações, salvo algumas doenças, como determinados tipos de câncer e HIV. Não há limite de idade, tanto órgãos de bebês quanto de pessoas com mais de 70 anos podem ser aproveitados", complementa.
Conforme a médica, aqueles que necessitam de transplante de córneas aguardam em uma lista de espera regional, formada por municípios atendidos pela 13ª Coordenadoria Regional de Saúde. No caso de transplante de órgãos, existe uma lista única para todo o Estado, organizada pela Central de Transplantes do Rio Grande do Sul. "As 10 pessoas que estão há mais tempo na lista têm sempre prioridade nos testes de compatibilidade", salienta.
Efetuada a doação, a família pode obter informações como o nome, sexo e idade da pessoa que foi beneficiada com o órgão. A identidade, contudo, é preservada pela Central com o intuito de evitar a possibilidade de relações patológicas, comuns por parte dos enlutados. "A doação deve ser um ato de amor incondicional. Quem colabora, não destina o benefício a alguém em especial, mas ajuda quem está precisando", finaliza.
Corrida contra o tempo
O tempo de isquemia fria, isto é, o período máximo em que é possível conservar um órgão entre a sua extração e o transplante, é variável e geralmente não muito extenso. Por isso, a distância muitas vezes é um obstáculo a ser superado para o sucesso dos procedimentos. São comuns casos de transporte de órgãos por avião e a simultaneidade das cirurgias de retirada e recebimento do órgão. Confira a tolerância dos principais órgãos:
Coração: de 4 a 6 horas
Pulmão: de 4 a 6 horas
Fígado: de 12 a 18 horas
Pâncreas: de 12 a 24 horas
Rim: de 24 a 36 horas
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