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Estudo questiona subestimação da pobreza como fator de risco à vida

Estudo questiona subestimação da pobreza como fator de risco à vida

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:34

 A pobreza é frequentemente citada como fator contribuinte para as más condições de saúde. Agora, em uma abordagem nada comum, pesquisadores calcularam quantas pessoas a pobreza mata e apresentaram suas descobertas, juntamente com um argumento de que fatores sociais podem causar morte da mesma forma que comportamentos como o tabagismo. Em um artigo publicado online para a edição de 16 de junho do "American Journal of Public Health", cientistas calcularam o número de mortes atribuídas a cada um dos seis fatores sociais, incluindo baixa renda.

Para estimar o número de mortes causadas por cada fator, os cientistas analisaram 47 estudos anteriores sobre o assunto, combinando os dados em uma meta-análise. Os estudos eram geralmente baseados em pesquisas nacionais extensas, como o Estudo Nacional sobre Exame de Saúde e Nutrição, um estudo contínuo realizado pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos.

Em seguida, usando os dados coletados, os pesquisadores calcularam a "fração atribuída à população" das mortes, ou seja, o número de mortes causadas por viver sob determinada desvantagem social.

Finalmente, eles multiplicaram a fração pelo número total de mortes no ano 2000 para chegar a um número de mortes causadas por cada uma das seis condições sociais. Os pesquisadores separaram a contribuição de cada fator social.

"Os métodos que estávamos usando são limitados", reconheceu Sandro Galea, autor chefe da pesquisa. "Sempre que você tenta dizer que a morte é atribuída a uma causa isolada, há um problema, todas as mortes são atribuídas a muitas causas. Mas o que fizemos é tão válido quanto o que foi feito para estabelecer o tabagismo como uma causa de morte."

"Esse artigo é muito interessante", disse Roger T. Anderson, professor de ciências de saúde pública de Faculdade Estadual de Medicina da Pensilvânia, que não está envolvido no estudo. "É simples e elegante, uma abordagem muito direta para analisar esses tipos de dados", continua.

"Ele traz à tona qual é o impacto da desvantagem social em termos de números de mortes, e os autores fizeram um trabalho muito bom na fundamentação do argumento", completa.

CRITÉRIOS

Os pesquisadores usaram vários critérios para definir uma condição social adversa. Menor escolaridade, por exemplo, foi definida como não ter o segundo grau completo. Pobreza foi definida como uma renda doméstica inferior a US$ 10 mil. Uma população em que mais de 25% das pessoas relataram sua raça ou etnia como negra não hispânica foi considerada racialmente segregada. O estudo também calculou o efeito de um nível de pobreza geral da área, renda diferencial e baixo apoio social.

Em 2000, o estudo atribuiu 176 mil mortes à segregação racial e 133 mil à pobreza dos indivíduos. Os números são substanciais. Por exemplo, observando as causas diretas das mortes, 119 mil pessoas morrem de acidentes a cada ano nos Estados Unidos e outras 156 mil de câncer no pulmão.

Os fatores sociais não são os mesmos que doenças ou acidentes, mas Galea argumenta que são equivalentes a comportamentos como o tabagismo e que, assim como o tabagismo, há evidência do mecanismo envolvido. Ele disse que a cadeia causal entre, por exemplo, pobreza e morte por doença cardíaca tem muitos vínculos bem estabelecidos.

ACESSO

Galea, que é presidente do departamento de epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública Mailman da Universidade de Columbia, também disse que a pobreza resulta na falta de acesso a exames médicos e a cuidados de qualidade para aqueles que realmente têm doença cardíaca, maior vulnerabilidade a estresses associados a doenças cardíacas e maior probabilidade de desenvolvimento de comportamento não saudável.

"De alguma forma", Galea acrescenta, "a questão não é 'Por que devemos pensar na pobreza como causa de morte?' e sim 'Por que não devemos pensar na pobreza como causa de morte?'" Se não tivessem fumado, 400 mil pessoas por ano não teriam morrido, disse Galea. Da mesma forma, disse ele, se tivessem concluído o segundo grau, as 245 mil pessoas cuja causa da morte é atribuída ao baixo nível de educação ainda estariam vivas.

"Isso pode ser uma visão útil para ajudar no foco de nossos conceitos", disse Galea. "Se dissermos que 193 mil das mortes se devem a ataque cardíaco, então o ataque cardíaco importa. Se dissermos que 300 mil mortes se devem à obesidade, então a obesidade importa. Bem, se 291 mil mortes se devem a pobreza e baixa renda, então esses fatores também importam", completa.    

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