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Saúde

Evolui a polêmica sobre o uso de medicações para turbinar o cérebro

Evolui a polêmica sobre o uso de medicações para turbinar o cérebro

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 3:31

Já conhecemos uma série de atitudes no dia-a-dia que podem turbinar nosso cérebro: atividade física, dormir bem, alimentação regular e equilíbrio psíquico. Além disso, alguns estudos têm demonstrado pílulas que podem melhorar o desempenho intelectual até mesmo de indivíduos sem qualquer tipo de problema neurológico ou psiquiátrico. As medicações mais usadas para esse fim são as anfetaminas e o metilfenidato, indicadas no tratamento de indivíduos com o diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade.

O fato é que há poucas evidências científicas de que essas pílulas trazem reais benefícios e há até resultados mostrando que algumas pessoas podem piorar o desempenho. Essas medicações têm-se tornado cada vez mais populares entre adultos e adolescentes, na maior parte das vezes sem qualquer orientação médica.

Pesquisadores americanos e ingleses de primeira grandeza reuniram-se recentemente na Universidade Rockfeller e publicaram o resultado desse encontro na revista Nature, no último dia 7 de dezembro. O documento tem o objetivo de conclamar todas as partes envolvidas para que se aprofunde a discussão, a regulação e as pesquisas do uso responsável dessas drogas por pessoas saudáveis.

Elenco aqui os principais pontos de discussão do documento:

- Existe atualmente um forte mercado negro dessas medicações voltado para indivíduos saudáveis, com transações de compra e venda que podem ser punidas até mesmo com prisão em países como os Estados Unidos.

- O uso de medicações dessa natureza para melhorar o desempenho cerebral poderia ser visto como "trapaça" ao pensarmos que outras pessoas podem não estar usufruindo dos mesmos benefícios. Os autores defendem a idéia de que trapaça é quando se rompe uma regra, como é o caso do doping no esporte. Não dispomos ainda de regras que regulem o "Neurodoping".

- A vantagem cerebral oferecida por pílulas não requer o esforço do indivíduo e por isso pode ser vista como uma vantagem ilegítima. Então, uma pessoa que teve direito à melhor educação teria uma vantagem cerebral legítima, enquanto outra que não teve essa mesma chance teria uma atitude ilegítima ao tentar diminuir sua desvantagem com pílulas?

- E será que essas drogas realmente oferecem vantagens no aprendizado ou só melhoram o desempenho a curto prazo em dias de maiores desafios? Será justo para aqueles que não usam as drogas concorrer com outros cérebros "turbinados"? Seria a mesma coisa se parte dos concorrentes num teste de matemática estivessem usando calculadora e outra parte não?

- O consumo dessas medicações poderia ser visto como uma forma de artificializar a vida. Os autores provocam uma reanálise daquilo que é genuinamente natural na vida do homem contemporâneo.

- Medicações dessa natureza poderiam provocar dependência e efeitos colaterais. Por outro lado, até a cafeína é passível de desenvolvê-los, apesar do seu risco de fazer mal à saúde ser infinitamente menor do que de outras drogas.

- Em crianças, as questões éticas são muito mais complexas. Elas não têm o poder de fazer suas próprias escolhas e ainda é necessário definir-se a segurança dessas drogas em cérebros ainda em desenvolvimento. Entre os adultos, há de se considerar no futuro questões éticas ligadas à obrigatoriedade em se usar tais medicações em algumas situações ocupacionais. Será que o empregador poderá um dia obrigar o trabalhador a usar a medicação para evitar acidentes ou para melhorar o desempenho?

- As drogas para turbinar o cérebro poderão um dia ser bem usadas ou não. Há muito trabalho pela frente para se avaliar seus custos e benefícios, e conseguir demonstrar que elas são realmente seguras e eficazes.

Em entrevista concedida à Scientific American e publicada na última edição da revista Mente & Cérebro, o Prêmio Nobel Eric Kandel, o neurocientista mais renomado do planeta e certamente um dos pesquisadores que mais contribuíram para o nosso atual entendimento da memória, declara: "Ainda não temos evidências de segurança e nem mesmo de eficácia do uso de medicações para melhorar o cérebro de pessoas saudáveis. Eu não aconselharia meus netos, pelo menos por enquanto, a usar essas medicações".

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