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Saúde

Família é fundamental no tratamento contra esquizofrenia, diz psiquiatra

Família é fundamental no tratamento contra esquizofrenia, diz psiquiatra

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:27

O Solista, filme de Joe Wright, que estreia nesta sexta-feira, traz à tona a discussão sobre um transtorno ainda cercado de estigmas e incompreensões: a esquizofrenia. Atualmente, a doença crônica mental atinge cerca de 1,8 milhões de brasileiros e é bastante cercada por preconceito.

A esquizofrenia já serviu de tema para outros personagens do cinema, como o papel de um matemático interpretado por Russel Crowe, em Uma Mente Brilhante, ou até no personagem do jovem Tarso, por Bruno Gagliasso, na novela Caminho das Índias. Mais recentemente, outro caso que esteve na mídia, foi de Marcos Silveira Herédia, mais conhecido como o Zina, do programa Pânico na TV. Preso na semana passada por porte ilegal de drogas, Zina é portador de esquizofrenia e chegou a afirmar que toma cerca de 12 remédios por dia para tratar a doença.

Mesmo sendo comentada em algumas obras de ficção, na vida real a doença ainda causa estranhezas. Especialmente para as pessoas próximas do portador de esquizofrenia, que não sabem o que fazer quando passam a notar ações que fogem do normal, como comportamento excêntrico, isolar-se das pessoas e falar sozinho.

Para o psiquiatra da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Andres Santos Junior, a esquizofrenia é uma doença que afeta toda a família. Por isso, o acompanhamento dos familiares no tratamento do paciente é fundamental. "A família mantém a lógica e a coerência com o paciente", disse. Outro ponto importante é que a família não minimize a doença e busque conhecê-la para entender o que o portador está vivenciando. O psiquiatra falou ao Terra para tirar algumas dúvidas sobre a esquizofrenia:

Terra - Na sua opinião, a esquizofrenia é tratada de modo fiel em filmes e novelas, ou esses meios passam uma imagem deturpada da doença?

Andres Santos Junior - A ficção não tem compromisso com a realidade clínica. Eventualmente há um acerto por proximidade ou experiência do diretor/roteirista. No caso de "O Solista", isso acontece. Não devemos, porém, nos enganar. A doença mental é sempre sem glamour ou benesse. Os personagens de uma obra de arte são simpáticos e charmosos, atraentes e curiosos, iconoclastas e atrevidos, e doentes comuns não "vendem" filmes.

No filme, o personagem se afasta de toda a família e passa a morar na rua. A irmã do protagonista, que não sabe direito o que se passa, nem o procura. Qual a importância da família no tratamento da esquizofrenia?

A família é primordial no tratamento, pois mantém a coerência e a lógica com o doente. É claro que em certas situações a doença se impõe e afasta o doente de todos. Nenhum pai, filho ou irmão optaria pelo sofrimento do seu ente querido. Às vezes é necessária a internação, habitualmente mais curta do que nas décadas passadas, para acalmar e proteger o paciente.

Qual o tratamento mais indicado? A internação na maioria dos casos é a melhor saída?

Não há um padrão, especialmente hoje com as medicações de última geração. Assim como não há duas pessoas iguais, não haverá dois esquizofrênicos iguais. Há de se individualizar e personalizar cada tratamento. Neste ponto de vista, para alguns casos, a internação será necessária, mas para muitos, não. É como o resto da medicina: nem todos os casos de pneumonias necessitam de internação, nem todos de úlceras precisam de cirurgia.

Porque os esquizofrênicos conseguem ter certas aptidões e desenvolvê-las melhor do que outras pessoas?

Esquizofrenia significa "alma partida" ou "fenda da mente". Assim, preservam-se certas funções e outras estão mais comprometidas. Um pianista ou um violinista não perderiam as habilidades de tocar por causa da esquizofrenia, nem um matemático de fazer contas. A doença mental não é criativa, ao contrário limita e restringe possibilidades do doente. A contracultura (movimento dos anos 60) afirmava a genialidade dos "loucos", assim chamados por serem diferentes, o que ficou conhecido como "maluco beleza". Hoje em dia, ninguém negaria a doença, nem os próprios pacientes.

Como reconhecer uma pessoa que sofre de esquizofrenia? Ela pode ser confundida com outras doenças?

A psiquiatria está bem preparada, e paramentada, em relação ao diagnóstico de esquizofrenia. Como em todas as doenças é responsabilidade do médico diagnosticar e estabelecer o projeto de tratamento. Isto não impede a visão multidisciplinar do acompanhamento de um paciente esquizofrênico, onde psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais e enfermagem são fundamentais em suas especificidades.

Em que faixa etária é mais comum que a doença se manifeste?

Entre 20 e 40 anos.

Como fazer com o que paciente de esquizofrenia procure ajuda para se tratar?

A esquizofrenia é uma doença cruel, que afasta o indivíduo de outras pessoas. Convencer o doente disto é o primeiro passo para que este aceite suas limitações. A mesma coisa que acontece em outros casos da medicina: temos que convencer o diabético a restringir o açúcar e o hipertenso a não comer sal. Felizmente, com o tratamento adequado, as alterações podem ser temporárias, mas certamente um indivíduo não tratado estará condenado em sua relação com os outros.

O filme

O Solista é baseado em uma história verídica e fala sobre um prodígio da música clássica portador de esquizofrenia, Nathaniel Anthony Ayres (Jamie Foxx), que após passar por uma escola conceituada, vai morar nas ruas. O músico conhece o jornalista Steve Lopez (Robert Downey Jr.) que passa a se interessar por sua história e quer publicá-la no jornal em que trabalha, o Los Angeles Times. Lopez fica sensibilizado com a história de seu novo amigo e faz tudo para ajudá-lo, o que acaba transformando a vida de ambos.

Por Luciana Fracchetta

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