Mais de 70% dos pacientes que sofrem um tipo de AVC (acidente vascular cerebral) não reconhecem os sintomas e 30% deles procuram ajuda médica mais de 24 horas depois.
Nos casos de episódios isquêmicos transitórios, os sintomas são passageiros, mas as consequências podem ser graves, caso não seja feito o socorro imediato, diz o neurologista Eduardo Mutarelli, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
De acordo com os últimos estudos, as chances de evitar ou minimizar as sequelas de um derrame isquêmico (quando ocorre uma obstrução na passagem do sangue) são maiores se a pessoa procura atendimento em até quatro horas e meia após o início dos sintomas.
"É parecido com o que acontece no infarto: ao desobstruir o vaso, reduz-se a morte das células da região. Mas, após esse período, as sequelas têm mais chances de se tornarem permanentes", acrescenta o cardiologista Sérgio Timerman, diretor do Laboratório de Treinamento e Simulação em Emergências Cardiovasculares do InCor (Instituto do Coração).
No AVC hemorrágico, outro tipo de derrame, a intervenção médica precoce também pode minimizar danos.
Segundo os autores do estudo, a demora para buscar ajuda não foi relacionada a diferenças de sexo, idade, classe social ou nível educacional. A pesquisa, britânica, avaliou acidentes vasculares de mais de 90 mil pacientes entre 2002 e 2007. Os resultados acabam de ser publicados na revista "Stroke".
Serviço de urgência
Pessoas que já tinham sofrido um derrame ou portadores de arritmias cardíacas procuraram atendimento com mais pressa. Mas isso não foi observado em pacientes com infarto, hipertensão ou tabagismo. A demora em buscar atendimento foi maior nos fins de semana. Os dados também confirmam que a grande maioria dos pesquisados foi primeiro ao seu médico de confiança, quando o recomendado é correr para um serviço de urgência.
Os resultados também revelaram que aproximadamente 30% dos derrames que ocorrem após um acidente transitório acontecem antes de o paciente procurar ajuda.
O derrame cerebral é o problema que mais mata no Brasil, mas também por aqui o desconhecimento de sintomas e necessidade de intervenção rápida é pequeno.
"Acho que o cenário deve ser pior, porque há vários sintomas que as pessoas podem não reconhecer", diz Mutarelli. Para ele, quando os sintomas são passageiros, a pessoa pode ter a falsa impressão de que nada grave está acontecendo.
"Temos uma conscientização muito pífia da população para o problema. Isso leva a atrasos na procura por auxílio médico e inviabiliza um tratamento que pode reverter o quadro", diz Timerman.
Um estudo feito em 2005 com mais de 800 pessoas em São Paulo, Ribeirão Preto, Fortaleza e Salvador mostrou que os brasileiros desconhecem até o nome correto do problema: foram apontadas 28 denominações para o AVC e somente 15% souberam dizer o que a sigla significava. Alguns confundiram com infarto. "No Norte, chamam mais de trombose. No Sul, de derrame. Muitos não souberam nem relacionar que a causa seria vascular", diz o neurologista Ayrton Massaro, presidente da Sociedade Ibero-Americana de AVC.
Segundo Massaro, ao sentir os primeiros sintomas, o paciente deve chamar o resgaste. "Não é para ir ao médico, deve-se buscar o hospital mais próximo e equipado", indica. A própria pessoa, se estiver consciente, ou quem a socorreu deve informar o horário em que os primeiros sinais surgiram e quais foram eles.
Por: Gabriela Cupani e Julliane Silveira
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