Nos últimos anos, a optogenética com o uso de uma combinação de
manipulação genética e pulsos de luz simples tornou possível controlar as
células do cérebro com precisão impressionante, alterando a atividade
cerebral e até o comportamento de animais.
Agora, os cientistas começaram a observar além desse órgão, conforme
exploram as possíveis aplicações para a tecnologia.
Um estudo recente,
publicado na revista Circulation: Arrhythmia & Electrophysiology, mostrou
como células modificadas, que reagem à luz azul de baixa energia, podem ser
usadas para estimular o batimento do tecido do coração. Segundo os
pesquisadores, isso representa o primeiro passo em direção a um novo
marcapasso, mais eficiente e preciso.
As células sensíveis à luz podem atuar
como marcadoras do ritmo cardíaco, criando um marcapasso biológico,
produzido pelas próprias células do paciente.
A optogenética envolve a criação de células via engenharia genética com
proteínas sensíveis à luz, fazendo com que seja possível usar a luz para
ativá-las.
Um dos obstáculos ao uso da optogenética como ferramenta clínica
está na necessidade de introduzir genes nas células. Para contornar o
problema, os pesquisadores, liderados por Emilia Entcheva, engenheira
biológica da Universidade Estadual de Nova York, em Stony Brook, decidiram
aproveitar a estreita comunicação entre as células do músculo do coração. As
células do coração batem ao mesmo tempo porque são unidas umas às outras por
meio de junções celulares.
Segundo Entcheva, em lugar de modificar todas as células do coração para que
passem a reagir à luz, é possível injetar uma pequena população de células
sensíveis à luz de doadores, possibilitar a união delas com as outras e a
coordenação das batidas do tecido normal.
Para testar o método, os pesquisadores criaram uma fileira de células
sensíveis à luz e as uniram a células do coração. Quando estimulada pela
luz, essa população de células híbridas se contraiu em ondas que
correspondiam a pulsos elétricos.
Entcheva prevê a coleta de células de um paciente, que serão alteradas para
que reajam à luz. Com a injeção de células modificadas em quantidade
suficiente ela calcula que meio milhão, ou alguns milímetros de tecido,
sejam suficientes será possível coordenar o ritmo cardíaco. Segundo
Entcheva, a luz usará menos energia do que a eletricidade ao mesmo tempo em
que irá oferecer uma resolução espacial e temporal sem precedentes_uma
vantagem quando se trabalha com partes específicas do coração. O meio de
fornecimento de luz mais provável seriam cabos de fibra ótica.
A técnica possui aplicações mais imediatas como ferramenta de pesquisa, na
investigação do funcionamento das células do coração ou ajudando a examinar
os possíveis efeitos colaterais a drogas. A luz proporcionará um método de
ensaio biológico mais automatizado, rápido e preciso do que os métodos
atuais e que dependerá da estimulação de células com eletrodos.
Para Miguel Valderrábano, cardiologista do Hospital Metodista de Houston, há
uma década os cientistas vêm pesquisando novos tipos de marcapasso
biológico, que geralmente incluem células modificadas geneticamente para
permitir que pulse de determinada maneira espontaneamente. Segundo ele, a
ideia de criar células que reajam à luz consiste em uma nova e interessante
estratégia: ``Definitivamente, se trata de um avanço conceitual na área de
criação de marcapassos biológicos', afirma.
Assim como outras abordagens, esta técnica enfrenta obstáculos
importantes_por exemplo, garantir que as células do marcapasso se integrem
de forma apropriada às células normais. Embora os marcapassos biológicos
sejam teoricamente interessantes, é necessário que se demonstre uma vantagem
significativa de seu uso em substituição aos dispositivos elétricos testados
e comprovados.
``Os marcapassos biológicos ainda têm um difícil caminho pela
frente antes de superar os marcapassos elétricos', afirma Valderrábano.
Sua avaliação é importante para entregarmos a melhor notícia
O Guiame utiliza cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência acordo com a nossa Politica de privacidade e, ao continuar navegando você concorda com essas condições