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Melodias do bem

Melodias do bem

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:31

No carro, no trabalho, em casa, ao ar livre e até em consultórios médicos e salas de cirurgia, a música faz parte do dia-a-dia da maioria das pessoas e a utilização dela para fins médicos pode apresentar resultados impressionantes. Enquanto há médicos que não dispensam o som na hora de operar, outros verificaram que a música pode ajudar até a reduzir o uso de sedativos. Um estudo da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, indica que ouvir as músicas preferidas pelo menos uma vez por dia faz bem ao coração. Ao todo, foram pesquisadas 10 pessoas saudáveis, não-fumantes, de 36 anos que, após escutarem as canções favoritas durante meia-hora, ativaram a produção de endorfina (analgésico natural que regula a ansiedade e as emoções) e, desse modo, dilataram em 26% os vasos sangüíneos, dificultando a formação de coágulos que causam enfartes e derrames, e o endurecimento dos vasos, como na aterosclerose. A pesquisa foi realizada em quatro etapas. Na primeira fase, os pacientes ouviram as músicas indicadas como sendo as favoritas; na segunda, foram submetidos a canções que os deixavam ansiosos; na terceira, escutaram músicas de relaxamento; e na quarta, assistiram vídeos humorísticos.

Enquanto as canções que os deixavam tensos contraíram os vasos sangüíneos do braço em 6%, as favoritas os dilataram 26%, assim como as imagens que provocavam risadas, 19%, e a música de relaxamento, 11%. "A música previne o estresse, provoca relaxamento e traz uma vida mais saudável. Por isso, ela, que é bastante acessível, deveria ser aplicada de várias formas, nos mais diferentes momentos e lugares. Locais públicos, como salas de espera, supermercados e escolas deveriam colocar músicas tranqüilas no ambiente e, na vida pessoal, deveria ser estimulado que as pessoas ligassem o som e escutassem sempre as músicas favoritas. Num mundo em que a maioria é impaciente e as pessoas enfartam cada vez mais cedo, a música tem o importante papel de diminuir a ansiedade", garante Regina Muller, cardiologista do Instituto Nacional de Cardiologia de Laranjeiras, no Rio de Janeiro (RJ).

No mesmo instituto, Cynthia Karla Magalhães, chefe da Unidade Cardíaca Intensiva Clínica, desde 2004, conseguiu reduzir o consumo de tranqüilizantes e sedativos em 40%, na média, chegando até a 80% em alguns casos, no tratamento dos cerca de 250 pacientes que são internados ali por ano, simplesmente por ter instalado um sistema de música ambiente no local. Foi verificada também uma queda na utilização de remédios injetáveis em casos mais graves. "Resolvemos colocar a música para melhorar o ambiente e o resultado nos surpreendeu. Afinal, não tínhamos essa pretensão. No início, os pacientes estranharam um pouco, pois não estavam acostumados a ouvir música na UTI, mas depois gostaram bastante. Logo no primeiro mês, percebemos uma queda no uso de sedativos. Então, fomos pesquisar e descobrimos que era devido à música. Apesar de não termos comprovação, também acreditamos que ela ajuda na recuperação mais rápida dos pacientes", conta Cynthia.

Se a música pode ajudar no tratamento de doenças, é capaz também de preveni-las. As irmãs Lucilla, de 76 anos, e Lucy Guimarães, de 70, são professoras de canto. Coincidência ou não, elas nunca ficam doentes e dificilmente pegam sequer gripe. "Não sei se isso tem a ver com a música, mas algumas doenças são psicossomáticas (ocasionadas por problemas emocionais). E se a música é essencial para a qualidade de vida, quem está mais próximo dela deve ser mais saudável mesmo, porque se concentra em algo positivo, alto astral", arrisca Lucy, que é advogada criminalista e equilibra o estresse do trabalho com as aulas que ministra com a irmã em casa.

Lucilla conta ainda que muita gente com depressão procura as aulas para ajudar em algum tipo de tratamento. "E a gente vê que funciona mesmo. Só o fato de conhecer os grandes compositores e ter contato com música de qualidade já ajuda a enfrentar situações adversas e, com o tempo, isso pode amenizar os sintomas", avalia. Lucy garante que estudar música e participar de corais e bandas durante a infância e juventude foi essencial para enfrentar alguns percalços que a família viveu durante a ditadura militar no Brasil. O pai delas foi perseguido pelos militares e todos tinham que se esconder. "Não fomos perseguidos por questões políticas, mas por questões de cor mesmo. Meu pai foi o primeiro tabelião negro da cidade de São Paulo e isso era um absurdo numa época em que o preconceito era bem pior do que é hoje. Ele chegou a perder o cartório só por ser negro. E a música nos deixou fortes para vivermos isso tudo de maneira mais leve", lembra.

A ciência comprova a percepção das irmãs: a música é, de fato, capaz de amenizar a dor e deixar as pessoas mais felizes. Uma pesquisa da Fundação Cleveland Clinic, nos Estados Unidos, verificou que ouvir uma hora de música por dia reduz em 20% a percepção da dor. O estudo foi realizado com dois grupos de 30 pacientes com dores crônicas. Também foi verificada uma melhora nos quadros de depressão, em geral associados a quem possui esse problema. Já cientistas da Santa Casa de São Paulo descobriram que ouvir as composições do austríaco Wolfgang Amadeus Mozart durante 10 minutos antes do exame de glaucoma (nos olhos), melhora a avaliação do diagnóstico e da progressão da doença.

Diante de tantos estudos científicos sobre os benefícios da música para o corpo e para a alma humana não resta a menor dúvida de que "quem canta os males espanta".

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