O hábito de mentir pode ser sinal de doença. Alguns distúrbios psiquiátricos têm como característica a mentira. Quem explica é o psiquiatra e pesquisador da Universidade de Brasília (UnB), Raphael Boechat.
Segundo o especialista, um dos problemas mais conhecidos é o transtorno factício, também chamado de síndrome de Münchausen em homenagem ao barão Friederich Hieronymus, famoso por inventar histórias sobre sua participação em guerras. Nesse caso, a vítima da doença se coloca conscientemente no papel de enfermo.
De acordo com Boechat, o tratamento para essa doença é demorado e consiste em sessões terapêuticas, nas quais o médico ou psicólogo identifica as causas do problema. "A cura é muito difícil, mas um passo importante é o paciente reconhecer que ele cria esses sintomas", diz Boechat. No entanto, o problema não pode ser confundido com a simples simulação de doença para obter alguma vantagem ou ter ganhos secundários, como não ir à aula e escapar das responsabilidades.
A mentira também é uma das estratégias mais utilizadas por quem sofre de comportamento anti-social. Nesses casos, o sujeito despreza as regras sociais por acreditar estar acima delas. Em geral, esses indivíduos mentem para manipular a vítima e a sociedade, têm inteligência normal ou acima do normal e acham que nunca serão presos. "Assassinos seriais como o Maníaco do Parque apresentam muitas características dessa sociopatia", comenta o professor. Muitos deles, quando são presos, não demonstram arrependimento e não aprendem com a punição, pois têm dificuldade de sentir emoções. Por isso, voltam a repetir o ato considerado anti-social.
Já no transtorno de personalidade narcisista, a mentira aparece como um exagero ou uma supervalorização das capacidades e realizações do indivíduo portador da doença. Esse sujeito se julga mais importante do que os outros e aumenta seus próprios feitos para conseguir admiração. Um exemplo famoso é o personagem sedutor Don Juan de Marco. Nesses casos, o conselho é encaminhar o paciente para um tratamento psicoterápico.
Mas nem todas as pessoas com mania de grandeza são narcisistas. "Muitas vezes, acreditamos que o paciente está aumentando seus feitos, mas na verdade ele apresenta um delírio. Nesse caso, o indivíduo não mente conscientemente, mas acredita na mentira", diferencia o psiquiatra. Segundo ele, muitos indivíduos que levam uma vida normal apresentam esse traço delirante e acreditam realmente na própria mentira. Um dos exemplos mais clássicos é o da infidelidade, quando o indivíduo acredita piamente estar sendo traído. Se você conhecer alguém que apresente delírios, o primeiro passo é tentar convencê-lo a buscar ajuda de um psiquiatra. "A abordagem inicial é difícil porque o paciente não se convence do delírio. Por isso, recomenda-se usar algum artifício que o leve ao consultório", diz o professor. O tratamento é feito com administração de medicamento psicotrópico.
Quanto à mentira comum e corriqueira, essa está mais ligada à moral que às patologias. Quem mente no intuito de tirar vantagem, prejudicar outra pessoa ou não assumir um erro, corre o risco de ser desmoralizado e as conseqüências depois serão piores.
Postado por: Claudia Moraes
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