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Saúde

Minha alimentação interfere no tratamento?

Minha alimentação interfere no tratamento?

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:51

Marcar a consulta, ir ao médico e tomar com disciplina a medicação prescrita. A fórmula parece perfeita para quem procura colocar fim aos incômodos inerentes de qualquer doença. A receita, no entanto, não é completa, e dobrar a atenção com a alimentação durante o tratamento médico pode ser determinante para a recuperação.

Isso mesmo. O que você ingere ao longo do tratamento pode interferir diretamente no efeito da medicação comprometendo, inclusive, sua eficiência.

“A associação de medicamentos com determinados alimentos pode ocasionar a redução do efeito do remédio ou retardar o início de sua ação”, alerta Raquel Rizzi, presidente do Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo.

A farmacêutica lembra que os alimentos são constituídos de nutrientes que podem interferir na absorção dos medicamentos ou mesmo na forma como eles são metabolizados no organismo.

“Pode haver potencialização do efeito, levando à toxicidade ou à diminuição das propriedades, prejudicando o tratamento farmacológico”.

As interações entre nutrientes e medicamentos podem alterar a disponibilidade, a ação ou a toxidade de suas substâncias ativas, explica a nutricionista Thaís Navarro Caldeira. A especialista, que presta serviços de atendimento nutricional e controle de qualidade para empresas alimentícias, ressalta que também é necessário respeitar a sequência da ingestão e conciliar a medicação à alimentação.

“Se a orientação da medicação é ser ingerida em jejum ou após as refeições, essa determinação deve ser atendida. Também é preciso saber se o remédio deve ser tomado junto com chás, sucos, leite, ou apenas com água”.

Alimentos

“A tiamina (vitamina B1), por exemplo, presente em peixes, no chocolate e em alguns queijos, pode causar crise hipertensiva quando ingerida com alguns antiinflamatórios. Alimentos ricos em cafeína, como chás, café e chocolate, quando consumidos em grandes quantidades, podem levar à toxidade, aumentando os riscos de efeitos colaterais dos medicamentos.” Já o leite e seus derivados, acrescenta a nutricionista, diminuem a absorção dos antibióticos.

Mas como saber que tipo de alimento ingerir durante um tratamento médico? Especialistas advertem que o mais importante é escapar de receitas caseiras e, em caso de dúvidas, procurar um profissional de confiança.

“O ideal é sempre seguir a posologia indicada pelo médico e orientada pelo farmacêutico. As bulas dos remédios também trazem informações importantes. A melhor atitude é buscar a orientação de quem prescreveu o remédio, pois os medicamentos apresentam peculiaridades e podem causar efeitos adversos graves em algumas situações”, explica Raquel.

Dieta

O mesmo serve para quem está em busca de uns quilos a menos. Dietas também exigem cuidados, principalmente se feitas à base de remédios.

“É primordial informar à nutricionista os medicamentos que estão sendo utilizados, para que seja elaborada uma dieta específica, respeitando os horários dos remédios e verificando os nutrientes necessários para uma boa reposição nutricional, sem que exista interferências da dieta com os medicamentos”, acrescenta a nutricionista Thaís Navarro.

Chás e raízes

Mas não são apenas os alimentos que devem ser observados com cuidado ao longo de um tratamento médico. Chás e raízes podem ser grandes vilões se ingeridos de forma equivocada.

“Isso é muito comum, pois as pessoas costumam pensar que, por serem naturais, os chás não causam mal. É um erro, pois eles podem ocasionar danos e interagir com alguns medicamentos”, adverte o médico e presidente da Sociedade Brasileira de Hepatologia (SBH), Raymundo Paraná.

Na maioria das vezes, ressalta o médico, pela ausência de estudos que comprovem a eficácia e segurança dos chás e raízes, seu uso é arriscado, sobretudo quando ingeridos com os medicamentos tradicionais.

“O boldo, se usado com anticoagulantes, pode causar efeitos adversos sérios. A erva-de-são-joão não pode ser usada com medicamentos para tratar epilepsia”, exemplifica Paraná.

Os males causados em decorrência da mistura de chás e raízes com remédios podem ser muitos, mas o principal dano, segundo o especialista, é ao fígado e ao rim. Há ainda o risco de intoxicação, que em alguns casos pode ser fatal.

Idosos

O excessivo número de medicamentos aliado à idade são os principais fatores que tornam os idosos vítimas potenciais da interação de medicamentos com determinados alimentos, chás e outras substâncias. São eles, os maiores alvos de uma mistura que pode não apenas comprometer o tratamento médico, mas gerar reações adversas graves.

“Os idosos enfrentam dois problemas básicos. O primeiro é que o médico precisa dispor de um tempo maior para explicar a utilização da medicação e, na rotina, isso nem sempre acontece. O segundo é que o idoso normalmente toma várias medicações simultâneas, para o coração, para o estômago, e às vezes sozinhos, esses remédios já têm potencial de interação, o que pode levar à intoxicação”, explica o especialista em clínica médica do Hospital São Paulo, Cláudio Rufino.

Além disso, acrescenta, os idosos têm alteração de absorção e o metabolismo mais lento. “Todos esses fatores, associados à própria patologia, resultam em menos proteínas circulantes e levam à alteração e risco de intoxicação, ou mesmo ineficiência do tratamento.”

Um paciente com sopro no coração, por exemplo, que precisa tomar anticoagulante, pode ter o tratamento seriamente comprometido com a ingestão de folhas verdes.

“Ele potencializa a medicação e aumenta o risco de sangramento pulmonar”, exemplifica Rufino.

Para o médico, a atenção à alimentação durante o tratamento é essencial. “Em uma escala de zero a dez, eu daria dez em grau de importância. Saber o que foi prescrito e como isso interage com seu organismo é primordial. A vida média está aumentando e o idoso é um dos alvos mais acometidos por esse tipo de interação. Os resultados são catastróficos quando isso não é observado”, avalia.

Álcool e fumo

Não é raro quem, mesmo em meio a um tratamento médico, assim que as dores cessam, se aventure em um copinho de chope ou em uma dose de bebida alcoólica. Mas afinal, o álcool é ou não uma ameaça ao tratamento com medicamentos? Para os adeptos da prática, a notícia não poderia ser pior. Os especialistas são taxativos: bebida alcoólica? Não, não pode.

“O álcool é um agente sedativo e hipnótico que, associado a outras drogas, pode apresentar efeitos clínicos importantes. Os antidepressivos e as drogas sedativas são os exemplos mais comuns de interação com o álcool. Ele também potencializa os efeitos farmacológicos de muitas drogas não-sedativas, como os vasodilatadores (utilizados por cardíacos) e os hipoglicêmicos orais (utilizados por diabéticos)”, explica a presidente do Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo.

Os fumantes também devem ficar atentos. A especialista afirma que a orientação é que “se espere pelo menos uma hora para fumar após ter ingerido uma medicação”.

“Alguns analgésicos têm a eficácia diminuída na presença do tabaco. Substâncias liberadas pelo cigarro, como o monóxido de carbono, cianureto e nicotina, podem gerar várias interações medicamentosas, como diminuir a absorção da insulina”, afirma Raquel.

Sendo o álcool diurético e a medicação excretada pelos rins, “genericamente, o paciente que ingere álcool estará mandando ela embora mais rápido e, portanto, ela será menos eficiente, atuando menos no organismo”, acrescenta Rufino.

E em época de sol, calor e praia, vale deixar de lado a manga cumprida e o trânsito da cidade, mas os cuidados com a saúde, advertem os especialistas, devem ir na mala. E em cima, de preferência.

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