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Saúde

Noite mal dormida: distúrbios do sono interferem na qualidade de vida

Noite mal dormida: distúrbios do sono interferem na qualidade de vida

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:23

Você acorda irritado, nervoso, indisposto. No decorrer do dia tem dificuldade para se concentrar e sofre com a sonolência excessiva. Também, não é para menos: depois de passar a noite em claro, admirável seria exibir um pique de atleta. Mas nem precisa entrar em desespero, achando que está sozinho. Ao contrário, o clube dos insones vive recheado de sócios.

Uma noite mal dormida já não traz apenas consequências para o dia seguinte, se é que um dia já foi assim. Se o corpo sofre com a sonolência e lentidão durante o resto do dia, pior fica a mente, que está sempre cansada e cheia de horas de sono atrasada. Se existe alteração na capacidade de dormir ou o sono se intromete nas atividades diárias normais de uma pessoa, as causas devem ser investigadas, pois ela pode estar sofrendo com um distúrbio do sono.

Existem mais de 80 distúrbios do sono descritos, porém os mais frequentes são a insônia, o ronco e a apneia. "A insônia se dá por causa das preocupações diárias, o ronco em função de alguma obstrução da via aérea superior e a apneia é o que se pode chamar de pausas respiratórias durante o sono", explica Rogério Silva, biólogo pós-doutorando da disciplina de Medicina e Biologia do Sono do departamento de Psicobiologia da Unifesp.  

Entenda melhor os distúrbios do sono

Apneia Obstrutiva do Sono

Pausas repetidas de 10 a 30 segundos na respiração da pessoa que está dormindo é sinal de apneia. O ronco e a má posição do esqueleto facial inferior é um prato cheio para diagnosticar esse distúrbio que, segundo a Sociedade Brasileira do Sono, já atinge 25% da população entre 40 e 50 anos de idade.

A deficiência na oclusão dental e as deformidades de posicionamento da mandíbula e maxila acarretam o estreitamento das vias aéreas. Assim, o ar, como entra com mais dificuldade, faz com que a pessoa ronque mais. O ronco, por sua vez, é interceptado por paradas na respiração que podem ocorrer até cinco vezes em uma hora de sono, o que leva o indivíduo a acordar assustado ao retomar o ar.

Além do cansaço imediato que esse distúrbio traz, um estudo da Universidade Western Reserve, nos Estados Unidos, mostrou, por meio de análise de 5.400 pessoas, que a apneia do sono triplica os riscos de derrame em homens. Em mulheres o risco de AVC foi significativo apenas para os casos de apneia grave, isso porque os homens desenvolvem o problema mais cedo.

Pesquisas anteriores já comprovaram que essa síndrome obstrutiva do sono está associada também ao aumento dos riscos de hipertensão, ataque cardíaco, irregularidade nos batimentos do coração, obesidade e diabetes.

Segundo a especialista em medicina do sono, Luciane de Mello Fujita, os tratamentos para apneia do sono vão depender da gravidade do problema. "Em quadros mais leves nós providenciamos medidas de emagrecimento, correção da postura ao dormir ou cirurgias de correções do septo ou cornetos. Nos quadros de moderado a grave indicamos um aparelho de ventilação de máscara nasal para auxiliar na respiração."

Insônia

Quem nunca passou uma noite em claro tentando dormir porque o sono desapareceu? No entanto, apesar de comum, a insônia pode ser um distúrbio do sono quando acontece com muita freqüência. Um estudo recente feito pela National Heart Lung and Blood Institute, nos EUA, mostrou que essa condição eleva em até três vezes os riscos de morte.

"Caracterizada pela dificuldade de dormir ou permanecer dormindo durante a noite, a insônia pode ser crônica (permanente), transitória (curto-prazo) ou intermitente (vem e vai). O quadro de insônia não é definido pelo número de horas dormidas, pois cada pessoa difere em suas necessidades de sono", explica Juliana M. Korth, especialista em medicina da família e preventiva.

Os tratamentos para insônia começam com a identificação do que está causando o problema, alterações psicológicas ou físicas, estresse, entre outros. "Quando se identifica o problema, faz-se uma higiene do sono, ou seja, fazer uma mudança de hábitos alimentares e do horário de dormir. O tratamento medicamentoso é usado também para casos mais graves", explica a especialista Luciane Fujita.

Síndrome das pernas inquietas

Formigamento e inquietação involuntária das pernas que incomoda de tal maneira que fica difícil dormir bem são sinais do quadro que indica a síndrome das pernas inquietas, um mal que atinge 30% da população mundial.

"Existem dois distúrbios do sono relacionados ao movimento das pernas: a síndrome das pernas inquietas e os movimentos periódicos das pernas, que se manifestam em situações de relaxamento, em geral antes de dormir e durante o sono. Na síndrome, que antecede o sono, a pessoa sente formigamento e cãibras que só passam quando se movimenta as pernas. No caso dos movimentos periódicos, ocorrem chutes e despertares noturnos", explica a educadora física do Instituto do Sono Andrea Maculano, da Unifesp.

Para curar essa síndrome, nada melhor do que praticar exercícios físicos regulares. "Praticar atividades físicas ajuda a manter corpo e mente em equilíbrio. No primeiro momento, partimos para a prática de exercícios coordenados e específicos e, caso não funcionem, prescrevemos o uso de medicamentos que agem direto no sistema nervoso", ensina a educadora física.

Sonambulismo

É muito comum e, por causa disso, hoje em dia não é mais caracterizado com um distúrbio do sono propriamente dito, mas como uma variação dele. Normalmente ocorre na infância, entre os 3 e 7 anos de idade. "É uma fase de desenvolvimento muito intensa do sistema nervoso, natural que essas mudanças reflitam-se no sono. Além disso, a predisposição é herdada do pai ou da mãe", esclarece o pediatra Gustavo Antônio Moreira, do Instituto do Sono, da Unifesp.

O sonambulismo é identificado pelo vai-e-vem pela casa e pode incluir ainda conversas e acontece na primeira metade da noite. Pode durar pouco tempo ou até 40 minutos e se repetir ao longo da noite. Durante esses episódios, a criança apresenta uma redução do estado de alerta, um olhar vazio e uma relativa ausência de resposta à comunicação com outras pessoas.

Na grande maioria das situações, o sonambulismo infantil dispensa tratamentos à base de medicamentos. Porém, quando o sintoma é muito frequente, pode influenciar no dia a dia da criança e da família. "Quando ocorre de 4 a 5 vezes por noite ou 5 vezes na mesma semana, pode provocar sonolência e alterar o humor da criança durante o dia", alerta o pediatra do Instituto do Sono.  

Como o sonambulismo é tipicamente observado em crianças, não há tratamentos indicados. "O ideal é que os pais tomem cuidado com a criança e com o ambiente em que ela pode circular durante a noite para garantir sua segurança. É uma fase que a criança vive e passa rapidamente", diz Luciane Fujita, do Instituto do Sono.  

Nada como boas noites de sono

Um estudo realizado pela American Academy of Sleep Medicine mostrou que dormir bem é um dos segredos para a longevidade. A partir da análise de 2.800 pessoas, os resultados mostraram que cerca de 70% das pessoas relataram que sua qualidade de sono foi boa ou muito boa e o tempo médio diário de sono foi de 7,5 horas, incluindo cochilos.

Os mais velhos, de 100 anos, e os adultos acima de 70 foram os mais prováveis de relatar boa qualidade de sono do que os participantes mais jovens, de 65 a 79, após controle de variáveis como as características demográficas, socioeconômicas e de saúde. Além disso, os homens eram 23% mais propícios a ter uma boa noite de sono, em comparação com as mulheres.  

Dormir bem é fundamental. Para o neurologista Renato Lima Ferraz, a quantidade ideal de horas de sono varia de pessoa para pessoa. "Mas o mínimo recomendado é de seis horas ao dia, sendo importante não ultrapassar nove para adultos, porque quem dorme mais que isso acaba ficando, na verdade, menos descansado", explica o especialista.

A importância do sono também se estende ao aprendizado. "Na fase REM, quando acontecem os sonhos, as coisas que foram aprendidas durante o dia são processadas e armazenadas. Quando dormimos menos que o necessário, a memória de curto prazo não é processada e não conseguimos transformar em conhecimento aquilo que foi aprendido", explica o neurologista.

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