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Saúde

Parto humanizado não é sinônimo de dar à luz em casa, como fez Gisele Bündchen

Parto humanizado não é sinônimo de dar à luz em casa, como fez Gisele Bündchen

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:25

Depois que Gisele Bündchen teve seu filho na banheira de casa, os partos domiciliares voltaram a ser assunto na mídia e nas rodas de futuras mamães. De um lado, há os que defendem que o ambiente hospitalar tirou da mulher o papel de protagonista na hora do nascimento do bebê. De outro, aqueles que reforçam a importância do aparato médico para diminuir a dor da gestante e garantir a saúde do recém-nascido.

O parto domiciliar é uma modalidade de parto humanizado, algo que está se difundido no país. "O termo se refere ao movimento humanístico, que enfatiza a valorização do humano em detrimento à valorização da técnica", explica o obstetra e ginecologista Ricardo Herbert Jones. Sob essa conceito, há diferentes procedimentos possíveis: o parto na água (que pode ocorrer na banheira da gestante ou até mesmo em um hospital), o parto de cócoras, ou, ainda, o Leboyer, em que o ambiente é preparado para o nascimento com pouca luminosidade, silêncio, banho logo após o nascimento e contato mais intenso entre mãe e bebê.

Como as modalidades podem variar, não há estimativas sobre o número de partos humanizados feitos no Brasil. Até porque não se trata de uma técnica, mas de uma forma diferente de tratar a mãe, dando-lhe mais autonomia no momento de dar à luz.

No parto humanizado, é respeitado o ritmo natural do nascimento, e não há utilização de anestesia ou medicamentos para acelerar as contrações, assim como não há corte na região do períneo para facilitar a saída do bebê. A gestante não precisa fazer a raspagem dos pelos pubianos, passar por lavagem intestinal, nem precisa ficar o tempo todo deitada. Depois do nascimento, a mãe participa do primeiro banho, do corte do cordão umbilical, e pode amamentar logo na primeira hora de vida do bebê. Outra vantagem é que não há o afastamento da família e dos amigos durante o nascimento: a gestante pode estar acompanhada o tempo todo por quem ela quiser.

A maior parte desses nascimentos acontece fora do ambiente hospitalar. "Um hospital é um local feito para abrigar pessoas doentes, portanto não é o melhor lugar para receber mulheres em pleno vigor de sua saúde e capacidade física, que estão passando por um evento fisiológico e natural", opina Jones. Por isso, há mulheres que não fazem questão nem da presença do médico - no Brasil, toda enfermeira tem habilitação legal para fazer partos. Outra opção é contratar uma parteira tradicional ou uma doula, mulher que oferece suporte emocional, físico e espiritual às gestantes antes, durante e depois do parto.

Riscos e contraindicações

Enfermeiras e parteiras são profissionais qualificadas para realizar um parto, mas não para agir no caso de uma emergência. Mesmo um médico, sem uma equipe ou sem os instrumentos necessários, pode fazer pouco em situações mais complicadas. Por causa desses riscos, o parto domiciliar não é recomendado pelo Conselho Federal de Medicina.

"Descolamento da placenta, hemorragia, falta de oxigênio no sistema nervoso que pode levar a paralisia cerebral ou mesmo a necessidade de fórceps para o bebê sair são situações em que, se não houver uma intervenção imediata com equipamentos adequados, podem resultar em tragédia", adverte a obstetra Mônica Nogueira. Se o bebê tiver dificuldade de respirar ao nascer, por exemplo, e não for encaminhado a tempo, pode sofrer danos cerebrais permanentes.

Para evitar complicações, os partos domiciliares só são recomendados se não for detectado nenhum problema no pré-natal e a gestação for considerada de baixo risco. Estão excluídos, portanto, casos de gravidez múltipla, diabetes e hipertensão. Se a gestante entrar em trabalho de parto antes da 37ª semana, ou se o bebê estiver sentado, ela será automaticamente transferida para um hospital. Se o bebê demorar mais do 12 horas para nascer, também há o encaminhamento para o hospital.

Mesmo com esses cuidados, é preciso considerar, também, a questão logística. "Se algo der errado, é preciso saber qual o hospital mais próximo que pode atender nessa situação, qual o caminho mais curto, e como realizar o transporte. Se o hospital for longe e o trânsito estiver intenso, o problema fica ainda mais grave", diz Nogueira.

Para a médica, é preciso avaliar os riscos de se ter um bebê em casa, antes de se pensar no conforto e na intimidade do ambiente. "Mas o parto humanizado realizado no hospital apresenta tanto risco, senão menos, do que o parto normal."

Dor do parto

Outras críticas comuns ouvidas por quem defende o parto fora do ambiente hospitalar é que ele é muito doloroso para a gestante. Mas Jones afirma que há muitos métodos alternativos para aliviá-la, como banhos quentes, presença do marido para confortar e dar segurança, massagens, acupressura, do-in, mudança de posição, palavras de segurança e carinho.

O médico garante que as mães que passaram por esse procedimento raramente reclamam de sofrimento. "O afastamento da família, o uso de drogas potencialmente perigosas, a posição inadequada de parir e a imobilidade no leito são muito mais importantes como causadoras de dor (através do mecanismo medo-tensão-dor) do que a dilatação e as contrações em si", justifica.

Apesar de muitos hospitais terem modificado o modo de tratar mamães e bebês, ainda são poucos os que oferecem o parto humanizado. Em geral, o custo é um pouco superior ao do parto normal (cerca de R$ 2 a R$ 3 mil a mais). Um pouco menos que o valor desembolsado por quem quer ter o filho na banheira de casa, que varia de R$ 5 a R$ 9 mil.

Para quem não pode pagar, a opção é procurar uma casa de parto (ambiente que une o conceito do parto humanizado ao respaldo de um hospital), que atende pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Mas ainda são poucas unidades no país.

"Na verdade, é muito mais importante humanizar o hospital do que tratar de partos domiciliares, porque a imensa maioria dos nascimentos no Brasil vai acontecer no hospital", reconhece Jones.

Por: Chris Bueno

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