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Saúde

Peça sobre relação tem efeito terapêutico

Peça sobre relação tem efeito terapêutico

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 9:23

Ela se queixa de que ele não diz "eu te amo", só "eu também". Ele lamenta que aquele momento em que ela para de falar e usa a língua para molhar os lábios deixou de ser atraente. Agora, ela só faz isso porque fala tanto que seca a boca.

Cenas equiparáveis, nada incomuns em inúmeros casamentos, são abordadas por diversas peças em cartaz em São Paulo e no Rio.

A Folha levou um casal de terapeutas para discutir as relações retratadas em cena e seus efeitos sobre a plateia.

Muitas das crises são "arroz com feijão de consultório", segundo Iraci Galiás, que, ao lado do marido, é uma das fundadoras da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica.

Assistir à representação do próprio conflito tem efeito terapêutico, traz autopercepção, segundo Nairo Vargas, fundador também da Sociedade de Psicodrama de São Paulo e autor do livro "Terapia de Casais - Uma Abordagem Junguiana" (Ed. Madras, 184 págs.).

Na comédia "A História de Nós 2", os casais na plateia chegam a aplaudir em cena aberta em reação aos lamentos de uma mulher que perdeu a vaidade e a libido após ter filho com um homem que resolveu reviver os tempos de faculdade chegando bêbado em casa.

"Essa é uma situação frequente clinicamente. Quando o casal não toma em conjunto a decisão de ter a criança, há desencontro. A mãe pode ficar fascinada pelo bebê e esquecer o marido", diz Galiás.

A traição é consequência. Quando ela começa é porque a crise já estava instalada. "Não é toda vez que a pessoa de fora é quem traz a crise", diz Vargas.

A triangulação amorosa é um momento crucial, segundo Vargas. É aí que o relacionamento pode acabar, ou, em alguns casos, renascer.

Os problemas de um casal, segundo apontam os especialistas e atestam as peças, geralmente estão presentes desde o início, mas se prefere manter as divergências ocultas por medo do confronto.

Em "A Pantera", uma dupla de noivos se percebe trancada no supermercado com um animal selvagem. A situação serve de metáfora para a jaula.

Na peça, de humor mais corrosivo, a identificação do público fica sutil. A plateia é um pouco mais jovem, como observou Vargas. Os casais se cutucam ou se acariciam nos momentos desconfortáveis.

O felino, que pode ser ela ou ele, anda em círculos, hábito de cela. Hábito também de casais cujo encantamento acabou. Não há mais mistério, e o desejo foi entorpecido.

Na fala da personagem, o fato de que "daria trabalho demais começar tudo de novo com outra pessoa" pode ser a justificativa para a manutenção de histórias que já perderam temperatura. Sinaliza o "casamento de acomodação", segundo Galiás.

Várias passagens são comuns a qualquer casal, como insinua a ausência de nomes nos personagens, que se tratam por apelidos "carinhosos", como "leopardozinho" e até "galinha".

Em "Ensina-me a Viver", uma mulher de 80 anos vive uma história com um rapaz de cerca de 20 que tem sintomas suicidas. Com atitude transgressora, característica típica da paixão, a personagem de Glória Menezes se torna uma espécie de terapeuta do garoto.

Ela diz que não entende "por que o ser humano gosta tanto de gaiolas" e ensina ao parceiro dicas úteis para a felicidade a dois, como tomar champanhe à tarde.

"Ela é a figura simbólica da psique dele", diz Galiás. "Depois que ela traz a transformação para o jovem, ele se resgata para o mundo do afeto", diz Vargas.

O casal de analistas também tem seus desencontros. Discordam ao responder há quanto tempo estão juntos. Após os cálculos, ele erra um pouco, mas concluem que "há quase 40 anos". "Se ela não fosse capaz de ver que isso não significa que eu deixei de gostar, seria motivo de boa briga", brinca Vargas.

"Ensina-me a Viver" Teatro Sérgio Cardoso Rua Rui Barbosa, 153 Bela Vista - SP (11) 3287-8844 Até 6 de novembro (sextas e sábados às 21h e domingos às 18h)

"A História de Nós 2" Teatro Gazeta Av. Paulista, 900- São Paulo (11) 3253-4102 Até 20 de novembro Sexta às 21h, sábado às 20h e domingo 18h

"A Pantera" Sesc Tijuca Rua Barão de Mesquita, 539 (21) 3238-2164 De 4 a 27 de novembro Sexta a domingo às 19h

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