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Perigo da dengue no Brasil é maior

Perigo da dengue no Brasil é maior

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:23

Uma conjunção de fatores tornou a dengue mais perigosa no País. O aumento de crianças infectadas pelo mosquito transmissor Aedes Aegypt e a ampliação do número de idosos, diabéticos e hipertensos entre as vítimas – atrelados à dificuldade em produzir uma vacina protetora contra a doença – fizeram com que as taxas de internação e mortalidade por dengue dobrassem nos últimos dez anos.

Atualmente, segundo os números apresentados hoje por Giovanini Coelho – coordenador do Combate a Dengue do Ministério da Saúde – em cada oito pessoas picadas pelo inseto, uma precisa ser hospitalizada por causa das febres altas e até hemorragias acarretadas pela infecção. No ano 2000, a taxa era de uma hospitalização a cada 16 registros.

“As crianças menores de 15 anos já representam 25% do total de infectados e nos anos 90 elas não chegavam nem a pontuar nas estatísticas”, informou Coelho. O sistema de defesa do organismo dos pacientes infantis é mais frágil do que o dos adultos, o que justifica a maior vulnerabilidade deles à dengue.

De acordo com o coordenador nacional, a mesma explicação vale para os idosos e adultos com outras doenças (diabetes e pressão alta) além da dengue, que também estão mais presentes nos números de acometidos pela enfermidade. Um estudo feito pelo Ministério, por exemplo, mostrou que pacientes nestas condições respondem por mais da metade (54%) dos mortos por dengue.

Apesar deste cenário, a indústria nacional e internacional ainda não conseguiu uma vacina eficaz protetora contra a dengue, em pesquisa desde o ano 2004 por várias multinacionais.

A avaliação dos especialistas é que apenas a imunização pode reduzir drasticamente o número de casos, já que somente entre janeiro e outubro deste ano, 721 mil pessoas ficaram doentes por dengue, 10 mil desenvolveram a manifestação grave da doença e quase 500 delas morreram (468). Para comparação, em toda a década de 90 foram 800 mortes.

Atualmente, a única estratégia para diminuir o contágio é evitar os criadouros do mosquito Aedes, que se prolifera em água parada (acumuladas em pneus, vasos de plantas, piscinas, caixas d’água, lixões e recipientes abertos), em altas temperaturas – típicas de países torpicais como Brasil – e ambientes com aglomeração de pessoas.

2014

Ao menos três laboratórios pesquisam uma vacina contra a dengue utilizando voluntários brasileiros e o principal entrave para encontrar uma dose é que existem 4 tipos de vírus causadores da doença, que circulam de forma alternada em todo País.

Em 2002, por exemplo, o mais incidente foi o sorotipo 2, em 2008 o sorotipo 3. Em 2010, o sorotipo 1 voltou a circular e o sorotipo 4 também fez vítimas.

“Para poder ser aplicada em larga escala, precisamos de uma vacina que, em uma mesma aplicação, combata os 4 tipos da dengue”, informa Lúcia Bricks, diretora de saúde pública da Sanofi Pasteur, um dos laboratórios que estuda a imunização e já está na última etapa de testes de uma dose que, nas projeções otimistas, devem estar no mercado em 2014.

Uma outra dificuldade – partilhada por todas as farmacêuticas que buscam uma vacina – é que não existem modelos animais que possam ser usados nos ensaios científicos para a produção das doses. Diferentemente da febre amarela, por exemplo, só os homens têm dengue (os macacos não desenvolvem dengue hemorrágica), explicou Pedro Garbes, diretor da América Latina da Sanofi.

“Por isso, só podemos usar humanos nas pesquisas. Em todo mundo, só para os nossos testes, são 45 mil voluntários, sendo 13 mil brasileiros.” Além disso, o perfil de infectados na Ásia, é diferente do da África, América Latina e América do Norte, mas o medicamento para ser universal.

Dificuldades extras

Os testes no Brasil já começaram e estão sendo feitos em crianças entre 9 e 16 anos, moradoras de Vitória, Campo Grande, Ceará e Rio Grande do Norte. Todas foram selecionadas por viverem em bairros com alta infestação de Aedes e também com grandes números de casos. Eles precisam ser vacinados três vezes, com intervalo de seis meses entre uma dose e outra.

“Todo o processo é monitorado e acompanhado muito de perto”, afirmou o pesquisador da Universidade Federal do Espírito Santos, Reynaldo Dietze, e pesquisador nacional da vacina contra a dengue.

“Para participar da pesquisa, a criança precisa ter boa saúde e muitas vezes nos deparamos com dificuldade extras no processo”, acrescenta. “Já tivemos casos de meninos que saíram dos ensaios porque eram usuários de drogas, condição descoberta só após o início do teste. Outra situação é a gravidez precoce. Gestação é critério de exclusão e algumas meninas acabam engravidando também.”

Após o ciclo completo das três doses da vacina da dengue, os voluntários ainda precisam ser acompanhados por 4 anos para atestar a eficácia e a não existência de efeitos colaterais. Na Tailândia, esta etapa já foi finalizada e os dados serão apresentados no início do ano que vem.

“Assim que um laboratório conseguir uma vacina eficaz contra a dengue a nossa ideia é implantá-la no sistema público de saúde”, afirmou Giovanini Coelho.

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