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Saúde

Perturbações do desejo sexual masculino

Perturbações do desejo sexual masculino

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 10:19

Este artigo é útil para homens que estão passando ou passaram por distúrbios do desejo sexual (quase todos), para as mulheres que tiveram que lidar com eles nesta fase e para as próprias mulheres que têm problemas de desejo e orgasmo (uma parte dos problemas do desejo feminino e masculino tem causas semelhantes).

Um problema sexual masculino, que tem aparecido com muita freqüência no meu consultório, é a ausência de desejo na hora do sexo e, consequentemente, problemas de ereção. A maioria desses homens é educada, jovem, tem bom aspecto, tem companheira ou facilidade para arranjá-la. Muitas de suas companheiras são bonitas e têm uma boa dose de desejo sexual.

Vamos falar aqui apenas de homens que consultaram urologistas e fizeram todos os exames médicos e não constataram nenhuma causa orgânica para seus problemas. Eles também apresentam um desempenho sexual normal quando se masturbam, o que confirma a ausência de problemas orgânicos.

O que provoca o desejo?

O desejo sexual é constituído por três fatores: impulso, motivação e querer. Ele pode ser atrapalhado pela inibição. Estes componentes do desejo sexual podem ser compreendidos através de uma analogia com a motivação para a alimentação. O impulso sexual assemelha-se à fome: logo após comer ou transar, o impulso sexual/fome desaparece. À medida que vai passando o tempo, após a última refeição/transa, a fome/impulso sexual vai crescendo. A motivação sexual assemelha-se ao apetite: se a comida/parceira tem um aspecto desejável e é saborosa, o desejo aumenta. O querer é o aspecto racional da alimentação e do desejo sexual. Por exemplo, comemos uma comida porque ela é saudável. O ato sexual pode ser praticado porque sabemos que ele faz bem para o casamento e para a saúde.

A inibição pode atrapalhar tanto a alimentação como o sexo: podemos deixar de comer algo porque faz mal ou engorda. Podemos deixar de praticar certos atos sexuais porque eles são “pervertidos”.

Onde foi o desejo?

O desejo estava lá antes do encontro. Ele fantasiou bastante como iria transar com ela naquele dia. Na hora de transar com ela, nada do desejo.

Mecanismos psicológicos que prejudicam o desejo

As histórias dos problemas de desejo masculino têm pelo menos um ponto em comum: em certa ocasião eles tiveram problemas com a ereção. Daí para frente, eles começaram a temer a reincidência do problema. Esse temor passou a interferir em seus desempenhos sexuais e, por isso, passaram a acontecer novos problemas. Cada vez que acontecia um problema, a apreensão aumentava, o que também aumentava as chances de ocorrer problemas futuros. Dessa forma foi instalado um círculo vicioso.

Esta falha inicial de ereção pode ter sido causada por diversos motivos: excesso de bebida alcoólica, pouca privação sexual (por exemplo, masturbação muito pouco tempo antes da relação sexual), fortes preocupações com outros assuntos, parceira sexual pouco atraente, medo de gravidez, medo de ser pego durante o ato sexual, falta de experiência, medo de doenças venéreas, etc.

Uma falha, ou algumas poucas falhas iniciais, aciona mecanismos psicológicos que aumentam as chances de acontecer outras falhas. Quanto mais falhas acontecem, mais fortes vão ficando os mecanismos que atrapalham o desejo e a ereção.

Daí para frente estes homens sentem e pensam fortemente outras coisas, nada excitantes, naqueles momentos quando deviam deixar o desejo e as fantasias fluírem. As preocupações, tensões e expectativas atrapalham a presença de outras emoções e a percepção de sensações.

O homem pode se tornar um auto-observador e ficar atento aos sinais que está começando a excitar-se. Por exemplo, fica procurando pistas que indiquem que o seu pênis está começando a ficar ereto, pistas que indiquem que a ereção é boa, etc.. A auto-observação também interfere negativamente na aparição do desejo e da excitação.

Quando estas coisas acontecem, o desejo sofreu interferência e foi superado por outros sentimentos e pensamentos. O medo tem prioridade sobre vários outros tipos de sentimentos. Ele consegue superar outras emoções, a não ser que as intensidades daquelas seja bem maiores do que a dele.

Desejo e ereção

Geralmente o desejo é uma condição necessária para que aconteça a ereção masculina durante as relações sexuais. Raramente dá para contar com ereções “reflexas” que podem ser aproveitadas para esta finalidade, como aquelas que ocorrem pela manhã ou nas horas mais inconvenientes.

Se o desejo masculino não surge, geralmente toda a sequência sexual, daí para frente, fica prejudicada: também não acontece a excitação; sem excitação geralmente a relação sexual para ai. Se não há sexo, geralmente não há orgasmo.

Ampliação do problema

Os distúrbios do desejo geralmente provocam desconfortos que se estendem para além dos momentos quando ocorre a falha na relação sexual. O problema se estende no tempo: o homem passa a ficar apreensivo desde o momento que marca um encontro, durante o encontro e após o encontro sexual onde o problema voltou a  ocorrer. Além disso, ele fica com aquela sensação de que dispõe de um tempo limitado para resolver o problema, antes que a companheira o abandone.

O problema se estende para outras áreas psicológicas. Todos os seus relacionamentos com mulheres e homens, que lembrem esse tema, provocam sentimentos de inferioridade e a sensação que tem um segredo que não pode revelar. Sente-se como se estivesse devendo algo para a companheira com quem falhou e aparece o temor que ela esteja sendo condescendente com ele.

Muitas mulheres sentem-se ameaçadas quando os homens falham. Acham que não são suficientemente atraentes, que eles podem não gostar delas. Ficam imaginando se eles funcionariam com outras mulheres. Ficam frustradas por não se satisfazerem sexualmente.

O homem teme perder ponto com as mulheres, principalmente quando eles próprios “passam recibo”: ficam temerosos, se abatem, ficam inseguros. Estas reações, em si, podem ser mais indesejáveis do que a própria disfunção sexual.

Perda do discernimento

Quando passa por este problema, o homem perde parte da confiança no próprio discernimento: ele não se permite mais não ter desejo, nem admite mais que certas situações ou pessoas não sejam excitantes como, por exemplo, que uma parceira seja pouco atraente ou pouco receptiva. Qualquer falta de desejo é atribuída à sua “dificuldade” e não às circunstancias pouco estimulantes. Isso piora tudo: não sentir desejo em situações desfavoráveis é normal e desejável!

O desejo vai sendo substituído por sensações desprazerosas. A pessoa vai aprendendo a evitar e a desviar a atenção de situações que possam dar a chance para uma relação sexual.

Os homens que estão com problemas de desejo apresentam duas tendências opostas: (1) no início do problema buscam oportunidades para transar para verificar se vão funcionar normalmente. (2) Posteriormente, após algumas tentativas mal sucedidas, passam a evitar situações onde haveria a chance de transar devido ao medo de falharem e passarem, de novo, por todos aqueles constrangimentos.

Tratamento

Quando a pessoa não está funcionando na área sexual, é porque que algo está atrapalhando este funcionamento. Se aquilo que atrapalha cessar, o funcionamento tem uma boa chance de voltar. (Claro que o funcionamento sexual “natural” pode ser aperfeiçoado e desenvolvido e, até certo ponto, mudado).

É necessário alguma intervenção ou algum incidente que coloque todo o processo em uma nova rota: um desejo suficientemente forte, uma parceira que traga segurança, um terapeuta tranqüilizador, um remédio que provoque efeitos reais ou efeitos placebo.

Todos nós passamos por este tipo de problema. Muitas vezes, felizmente, ele é superado sem ajuda profissional. Caso ele persista, procure a ajuda de um psicólogo.

Postado por: Felipe Pinheiro

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