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Saúde

Pesquisa da Unifesp aponta benefícios da correção intra-útero

Pesquisa da Unifesp aponta benefícios da correção intra-útero

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:31

Após três anos acompanhando o desenvolvimento neurológico e cognitivo de crianças que foram operadas, ainda no útero da mãe, para corrigir a má formação da coluna vertebral, especialistas verificaram melhora na força muscular, nos reflexos e na sensibilidade, além da manutenção do nível intelectual normal.

A pesquisa, que foi apresentada como tese de doutorado na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), avaliou seis crianças operadas, em 2005, no Hospital São Paulo por meio de uma técnica até então inédita no país: a correção intra-uterina da mielomeningocele a "céu aberto" (veja, abaixo, como o procedimento é feito). As cirurgias foram realizadas, na época, pelos médicos e professores titulares da Universidade, Antônio Fernandes Moron, do Departamento de Obstetrícia, e Sérgio Cavalheiro, do Departamento de Neurocirurgia e responsável pela correção do problema na coluna dos bebês.

Após três anos da realização da cirurgia, o obstetra Wagner Jou Hisaba, autor da pesquisa, aplicou testes específicos para avaliar o nível intelectual (cognitivo) e neuromotor (força muscular, reflexos e sensibilidade) dessas crianças, uma vez que a mielomeningocele, quando não corrigida, traz seqüelas neurológicas importantes, como hidrocefalia - acúmulo excessivo de água no cérebro - e problemas ortopédicos, entre outros.

Os resultados apontam que a correção da anomalia, ainda no útero da mãe, favorece o desenvolvimento das crianças, com melhora neuromotora evidente. Dos seis casos acompanhados ao longo desses anos, cinco deles apresentaram nível cognitivo normal, com percentuais entre 76 e 99 (normal acima de 60). Apenas uma criança mostrou atraso neuropsicomotor leve e representou o parto prematuro, realizado com 28 semanas - os partos foram realizados, em média, com 33 semanas de gestação. Apenas dois casos (33%) necessitaram de colocação de válvula permanente em função de hidrocefalia durante o período avaliado.

Do ponto de vista neuromotor, houve melhora da força das pernas em 100% dos casos, com seqüelas motoras mais brandas, de dois a três níveis abaixo do esperado.

Apesar dos resultados favoráveis, a realização desse tipo de cirurgia está parada no Brasil. "Infelizmente, o material utilizado no procedimento ainda não é fabricado no país. Além de caro, em média R$ 8 mil, não está liberado para importação", afirma o pesquisador. "Para que a cirurgia se torne viável aqui e seja realizada em larga escala, estamos esperando os resultados de uma pesquisa ampla, que está avaliando mais de cem casos nos Estados Unidos e a patente de um equipamento muito parecido com o americano, que está em teste no Brasil".

O que é a mielomeningocele

Também conhecida como espinha bífida, a mielomeningocele é uma doença congênita e as causas que levam à malformação ainda não estão completamente esclarecidas. As causas são multifatoriais e envolvem problemas genéticos e fatores ambientais (carência de ácido fólico - vitamina do complexo B que exerce efeito protetor sobre a formação do sistema nervoso no feto e, conseqüentemente, previne as más formações do tubo neural em até 75% dos casos).

Na mielomeningocele, que atinge uma a cada mil crianças no país, os ossos da espinha não se formam completamente, deixando exposta a medula espinhal do feto, que fica diretamente em contato com o líquido amniótico. Essa exposição é responsável por mais de 90% dos casos de hidrocefalia nesses bebês, além de outras seqüelas como problemas motores e neurológicos. "A gravidade das seqüelas depende do nível de abertura na coluna. Quanto mais alta a lesão, pior o prognóstico e as chances de andar", explica Hisaba. "Quando a abertura ocorre na parte inferior da coluna, em até 70% dos casos essas crianças conseguem andar sem a ajuda de aparelhos ortopédicos".

De acordo com ele, além da hidrocefalia, mais da metade dessas crianças também podem apresentar bexiga neurogênica, problemas ortopédicos (pé torto congênito e alterações na coluna) e intestinais (incontinência fecal). "Para prevenir esse tipo de anomalia, é fundamental que as mulheres comecem a ingerir ácido fólico três meses antes da concepção, mantendo a vitamina até o terceiro mês de gestação", afirma o obstetra.

Entenda o procedimento

A técnica - conhecida como cirurgia a "céu aberto" - se assemelha à cesariana. Entretanto, o bebê permanece no útero durante a correção da mielomeningocele. O médico, então, retira o líquido amniótico e o armazena em local adequado para conservação, depois de a gestante receber anestesias peridural e geral. O feto também é anestesiado, por via transplacentária, além de receber uma injeção intramuscular para evitar que se mexa ou sinta dor.

O obstetra faz uma abertura no útero de aproximadamente nove centímetros para que o neurocirurgião realize a correção na coluna do feto. Em seguida, o líquido amniótico é recolocado no interior do útero e todas as camadas abertas são fechadas, conforme as técnicas cirúrgicas rotineiras.

De acordo com Hisaba, esse tipo de técnica cirúrgica, antes realizada apenas nos Estados Unidos em pouco mais de 200 bebês, também pode ser usada para tratar outras malformações, como tumores torácicos e sacrococcígenos (na região do cóccix).

Postado por: Claudia Moraes

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