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Saúde

Pouco diagnosticada no Brasil, síndrome da fadiga crônica ganha estudos

Pouco diagnosticada no Brasil, síndrome da fadiga crônica ganha estudos

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:28

Uma noite de sono é insuficiente, concentrar-se em algo é cada vez mais difícil, falta vontade para realizar as tarefas do cotidiano. Sintomas como esses, que costumam ser confundidos com simples preguiça, podem apontar para um quadro mais sério, a SFC (síndrome da fadiga crônica), doença pouco diagnosticada no Brasil cujas causas são objeto de pesquisas recentes.

Para identificar se o paciente tem a doença, e não um cansaço pontual, é preciso que ele apresente pelo menos quatro dos seguintes sintomas: sono excessivo, falta de concentração, dores musculares, na garganta ou nas articulações, cansaço após exercícios físicos e inchaço nos nódulos linfáticos.

Embora ainda faltem explicações para a SFC, um artigo publicado na edição de outubro da revista "Science" trouxe um novo alento para os portadores da síndrome. A pesquisa, liderada pelo médico americano Vincent Lombardi, relacionou a doença à presença do retrovírus XMRV nos pacientes. Do grupo de 101 portadores de SFC, 67 estavam infectados pelo vírus. Entre os saudáveis, apenas oito das 218 pessoas tinham o vírus no sangue.

Para o psiquiatra Teng Chei Tung, do Hospital das Clínicas da USP, o estudo contribui para a pesquisa sobre as causas da SFC, mas não traz nada definitivo. "A maioria das pessoas tem infecções por vírus desse tipo, que costumam causar diarreia. Outras doenças como fibromialgia também estão ligadas a essa origem", relata.

O psiquiatra Mário Juruena, professor da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) de Ribeirão Preto, explica que a doença costuma se manifestar após uma infecção. "A maioria dos estudos sobre fadiga crônica tem relação com quadro pós-influenza", explica Juruena, que acaba de voltar da Inglaterra após pesquisar por seis anos a doença na Universidade de Londres.

Seus estudos apontaram para um fato comum entre os portadores da síndrome: a sobreposição com outros problemas, como depressão atípica e doença afetivo-sazonal (tipo de depressão ligada às estações do ano). "Cerca de 50% dos portadores de SFC apresentam depressão atípica. O depressivo atípico tende à obesidade, tem sono excessivo e fica muito sensível a críticas", completa. A doença tem maior incidência entre mulheres.

A psicóloga Rafaela Zorzanelli, que pesquisou a síndrome em seu doutorado, afirma que o diagnóstico é clinico. "Ainda não se conhece exame específico para sua comprovação."

Um estudo feito pelo pesquisador coreano Hyong Jin Cho e publicado no "British Journal of Psychiatry" em outubro comparou diagnósticos feitos em São Paulo e Londres por médicos das redes pública e privada de saúde. O resultado mostrou que, no Brasil, há mais diagnósticos de cansaço sem explicação, enquanto na Inglaterra se reconhece mais a síndrome da fadiga crônica.

Tratamentos

Em relação a tratamentos, Rafaela Zorzanelli afirma que é preciso levar em conta o caso de cada paciente. "Os benefícios obtidos provêm da terapia do exercício gradual, da terapia cognitivo-comportamental ou do uso de antidepressivos, analgésicos, ansiolíticos, suplementos alimentares e massagens, que podem produzir um efeito de melhora geral."

A terapia do exercício gradual trabalha com atividades físicas de pouco esforço que aumentam à medida que a pessoa adquire mais resistência.

Parte considerável dos pacientes se recupera em um período de 12 a 18 meses, mas, em alguns casos, a doença pode persistir por anos.

Segundo Juruena, tratamentos com reposição hormonal têm dado certo em pesquisas na Inglaterra. "O uso de corticoides em doses muito baixas reanima os pacientes. Isso aumenta o cortisol, hormônio que nos mantêm ativos e que tem menor produção em quem sofre da síndrome."

Enquanto os pesquisadores discutem as razões da síndrome, os portadores têm um suspiro de alívio ao saber de novas descobertas. É o caso de Cristian Salemme, 32, que há oito anos convive com a SFC.

Afastado da indústria onde trabalhava, em São Bernardo do Campo, vive da aposentadoria por invalidez. "O 'gás' vai acabando, vai dando vontade de ficar na cama, vem um cansaço respiratório", diz.

Seu diagnóstico demorou a ser feito. As dores nos músculos fizeram sua médica recomendar-lhe fisioterapia, o que só aumentava a fadiga. Até seu primeiro casamento sofreu abalos por causa da síndrome. "Tive que encontrar meu ponto de equilíbrio para não me tornar um inútil."

Hoje, com o tratamento, que envolve acompanhamento psicológico e medicamentos, Cristian se sente bem mais disposto, embora tenha que parar sempre que abusa um pouco mais das energias.

Por: Vinicius Luiz - colaboração para a Folha de S.Paulo

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