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Seu filho sofre bullying? Pense um pouco antes de agir

Seu filho sofre bullying? Pense um pouco antes de agir

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:26

Com a repercussão de tragédias como a de Realengo, no Rio de Janeiro, e a criação de políticas de “tolerância zero” – em Nova Jersey, nos Estados Unidos, uma lei já foi aprovada para obrigar as escolas públicas a desenvolver programas de combate ao problema – o bullying definitivamente virou assunto de adulto. E afastou as crianças da oportunidade de resolverem, elas mesmas, seus conflitos.

Muitas vezes o bullying escolar pode atingir proporções suficientes para exigir a intervenção de um adulto. Mas nem sempre este é o caso. De acordo com Monica J. Harris, professora de psicologia da Universidade do Kentucky, nos Estados Unidos, e autora de “Bullying, Rejection and Peer Victimization: A Social Cognitive Neuroscience Perspective” (“Bullying, Rejeição e Vitimização dos Colegas: uma Perspectiva da Neurociência Sócio-Cognitiva”, ainda sem tradução para o português), o bullying é um fenômeno complexo e engloba desde insultos leves a comportamentos criminosos, como um assassinato direto. Do lado menos preocupante do amplo espectro, está aquilo que é chamado de “apenas uma brincadeirinha” ou “somente uma gozação”. Este tipo de situação é mais comum do que se pensa – e, como os adultos de hoje em dia podem se lembrar, já acontecia nas décadas passadas.

A psicóloga Helene Guldberg é professora de Desenvolvimento Infantil da Open University, na Inglaterra, e autora de “Reclaiming Childhood: Freedom and Play in an Age of Fear” (“Reivindicando a Infância: Liberdade e Brincadeira em uma Era de Medo”, ainda sem publicação no Brasil). Para ela, muito do que é definido como bullying não deveria ser visto como tal: na maioria das vezes são apenas brincadeiras turbulentas ou disputas usuais no campo das brincadeiras que poderiam – e deveriam – ser resolvidas sem a intervenção de um adulto.

O que é bullying?

De acordo com Monica, o bullying é definido por três características: a intenção de machucar, a ocorrência repetida e o desequilíbrio de poder (um menino fortão que atormenta um magrinho, por exemplo). Acontecimentos trágicos relacionados ao bullying, como o massacre de Columbine, em 1999, e o suicídio de Phoebe Prince, em 2010, ganharam atenção mundial e deixaram os pais sensibilizados. Mas até que ponto as crianças não conseguiriam resolver conflitos leves, às vezes já considerados bullying logo de cara, antes de chamarem os pais?

A britânica Jenny Alexander é autora de vários livros sobre o tema, entre eles “When Your Child is Bullied: An Essential Guide for Parents” (“Quando seu Filho Sofre Bullying: um Guia Essencial para os Pais”, ainda sem tradução para o português). Quando um de seus quatro filhos foi vítima do problema na escola, ela não ficou de fora. Mas defende o envolvimento consciente dos pais. “A escola não foi capaz de resolver o problema e eu não podia dizer a meu filho para fingir que não se importava. Ele já tinha tentado de tudo para resolver por si mesmo”, conta. “Os pais devem se envolver com o problema e tentar apoiar e ajudar os filhos, mas isso não significa tomar as rédeas de toda a situação”.

Ela sugere aos pais disposição e abertura para conversar com o filho se este é vítima de bullying, mas deixando-o livre para determinar como quer lidar com a questão. “A maioria dos adolescentes, por exemplo, preferiria tentar resolver os próprios problemas sozinhos”, diz. Mas ela ressalta: se a manifestação do bullying é muito agressiva ou envolve um grupo, lidar com a situação por conta própria é quase impossível. Quando isso acontece, definitivamente os pais devem estar atentos.

Segundo Monica J. Harris, os pais devem perceber quando é hora de entrar em campo e procurar a escola ou os pais das crianças agressoras. A recusa a ir para a escola ou o envolvimento em agressões físicas são bons termômetros de que é hora de agir.

Ensinando a crescer

Os indivíduos são naturalmente diferentes uns dos outros na hora de lidar com conflitos. Mas os pais podem colaborar para tornar seus filhos mais (ou menos) habilidosos neste campo. “Se a criança cresce com os pais sempre dando uma mãozinha na hora de resolver conflitos, ela pode não desenvolver as habilidades necessárias para lidar com situações adversas no futuro”, afirma Monica. “Crianças que aprendem a lidar com conflitos por si mesmas estarão mais bem equipadas para encarar a vida adulta de forma independente”, completa.

Para Helene, a obsessão da sociedade pelo bullying pode sair pela culatra e, em vez de proteger as crianças, acabar prejudicando-as. Quando a criança sofre bullying e os pais imediatamente tratam o caso como um trauma eterno, a mensagem recebida é que é impossível se recuperar de uma experiência dolorosa. “Assim estaremos mais propensos a enfraquecer a autoestima dela, tornando-a menos capaz de lidar com dificuldades no futuro”, alerta.

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