O espaço reservado às vendas de tratamentos estéticos e odontológicos nos sites de compras coletivas é cada vez maior. É só acessá-los para encontrar ofertas de lipoaspiração por menos de R$ 300 e um clareamento dental por, no máximo, R$ 100. Os preços para lá de convidativos atraem centenas de pessoas que, no calor de conseguir uma grande pechincha, não percebem que estão arriscando a própria saúde.
Pelo ponto de vista médico, a questão é tão delicada que a participação de profissionais nesse tipo de comércio é proibida pelo CFM (Conselho Federal de Medicina).
Segundo o corregedor do CFM, José Fernando Maia Vinagre, a prática se encaixa como comercialização da medicina e fere o código de ética médica.
- O médico está colocando seus serviços à venda sem estabelecer vínculo com o paciente, o que acaba com a relação médico-paciente.
Segundo o artigo 72 do Código de Ética Médica, é vedado ao médico estabelecer vínculo de qualquer natureza com empresas que anunciam ou comercializam planos de financiamento, cartões de descontos ou consórcios para procedimentos médicos.
Isso não exclui a possibilidade de anúncios de clínicas médicas, mas em nenhum deles pode constar o nome do médico, nem preços, na divulgação de promoções relacionadas a cupons e cartões de desconto, explica o CFM.
O paciente que se deparar com esse tipo de situação ou que se sentiu lesado pelo profissional que o atendeu pode fazer denúncia ao Conselho Regional de Medicina do Estado do estabelecimento. Nesse caso, quem deve sofrer algum tipo de punição advertência, processo ou mesmo cassação de registro - é o médico responsável pela clínica.
Preço pode ser inimigo
Para o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Carlos Alberto Komatsu, o consumidor deve desconfiar deste tipo de serviço.
- Quem é esse profissional que precisa fazer promoção para ter seus pacientes? Pensaria duas vezes antes de procurar. A melhor forma não é optar pelo preço, mas ouvir opiniões de pessoas que já fizeram, para os riscos diminuírem.
É, inclusive, o fator preço, grande benefício dos sites de compras coletivas, o maior obstáculo para a segurança do consumidor, segundo Komatsu. Para o cirurgião plástico, as pessoas que escolhem fazer cirurgias plásticas e tratamentos estéticos de acordo com o preço geralmente ignoram que isso pode comprometer a qualidade do procedimento.
- Ao escolher pela internet, a pessoa está indo em um lugar totalmente desconhecido, sem saber se eles usam materiais adequados, as condições de higiene e se o profissional tem título, diploma.
Komatsu é crítico quanto ao conteúdo das ofertas.
- Eu duvido que uma lipo não invasiva diminua 12 cm de abdome, como está anunciado. Não tem como comparar o resultado de uma cirurgia a de um tratamento estético.
As mesmas críticas são feitas por órgãos que representam os dentistas. Afinal, ofertas de clareamento de dentes, limpeza e avaliação ortodôntica aparecem com frequência nos sites.
Para o presidente nacional da Associação Brasileira de Odontologia, Newton Miranda de Carvalho, ofertas dessa natureza são exemplos de falta de ética por induzirem o paciente a se submeter a um tratamento que pode ser desnecessário.
O Código de Ética Odontológica proíbe propaganda com divulgação de preços e com o nome do médico atrelados a descontos.
- É preciso que haja ética nesse processo. Como é que eu vou prometer determinados tratamentos, oferecendo e definindo preços, sem saber o que vou encontrar na boca do paciente?
Assim como na esfera médica, o dentista que se envolve neste tipo de publicidade pode sofrer punições administrativas, desde processos à cassação do registro. Quem se sentir lesado por algum serviço pode entrar em contato com o Conselho Regional de Odontologia do Estado onde recebeu o atendimento e fazer uma denúncia.
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