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Saúde

Terreno suave pode ser duro para o corpo

Terreno suave pode ser duro para o corpo

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:30

Hirofumi Tanaka, fisiologista esportivo da Universidade do Texas, em Austin, fica arrepiado quando vê caminhos de terra batida cavados na grama, ao longo de pistas de bicicleta ou de corrida. Os caminhos são criados por corredores que pensam que o piso mais macio os protege de ferimentos.

Tanaka, que também é corredor, certa vez resolveu testar a teoria. Ele estava se recuperando de um machucado no joelho, e um ortopedista lhe disse que ficasse longe de superfícies duras, como pistas asfaltadas, e que em vez disso corresse em superfícies macias, como grama ou terra. Então ele correu por uma trilha de terra que os corredores haviam batido na grama ao longo de uma pista asfaltada para bicicletas. O resultado?

“Torci meu tornozelo e agravei meu machucado, quando estava correndo na superfície macia e irregular”, conta. Como consequência desse acidente, Tanaka diz que não conseguiu encontrar nenhuma evidência científica de que uma superfície mais macia seja benéfica aos corredores, como também não puderam os outros especialistas que ele consultou. Na verdade, faz muito mais sentido pensar que os corredores têm muito mais probabilidade de se machucar em superfícies macias, que são frequentemente irregulares, do que nas duras e lisas, ele defende.

A experiência dele me fez pensar se existe alguma boa razão que explique por que tantos corredores pensem que uma superfície suave seja mais delicada para com seus pés e membros. Ou esse é apenas mais um exemplo de um erro que todos nós cometemos frequentemente, que é confiar nas coisas que parecem ser de senso comum, e nunca questionar se a sabedoria convencional está correta?

"Talvez um corredor que, como eu, ataque o chão com mais força na parte dianteira do pé do que nos calcanhares possa ter mais risco de ferimentos em superfícies macias. Afinal de contas, toda vez que tomo impulso em uma superfície macia, torço o meu pé."

Pesquisadores de exercícios dizem não existir estudos rigorosos e de alto padrão em que um grande grupo de pessoas tenha sido designado para correr em superfícies macias e duras, e então acompanhadas para uma comparação das taxas de ferimentos.

Existe uma boa razão para isso, diz Stuart J. Warden, diretor do Indiana Center for Translational Musculoskeletal Research, na Universidade de Indiana (EUA). É muito difícil recrutar um número grande de pessoas que estejam dispostas a ser randomicamente designadas para testar uma ou outra superfície em suas corridas. “Acredito que a razão porque as pessoas não responderam a essa questão seja por não ser uma questão fácil de ser respondida”, diz Warden.

Quando o Dr. Willem van Mechelen, chefe de saúde pública e ocupacional do Centro Médico Universitário VU, em Amsterdã, procurou por estudos publicados sobre ferimentos de corrida e sobre como preveni-los, ele também concluiu que não existem estudos que apoiem diretamente a corrida em superfícies macias.

“Fatores significativamente não associados a lesões de corrida parecem ser idade, gênero, índice de massa corporal, correr em colinas, correr em superfícies duras, participação em outros esportes, época do ano e horário do dia”, concluiu van Mechelen.

Então o que está acontecendo? Parece óbvio que as forças em suas pernas e pés são diferentes, dependendo se você corre em terra batida macia ou concreto duro. Por que as taxas de lesões não são afetadas?

Uma resposta aceita por muitos pode vir de estudos que tenham abordado indiretamente a questão. Em diversos deles, os sujeitos de estudo correram em cima de placas, que mediam a força com a qual eles atingiam o chão. Em vez de variarem a dureza do solo, os pesquisadores variaram o amortecimento dos tênis. Um maior amortecimento aproximava-se mais das corridas em solos mais macios.

De novo e mais uma vez, tais estudos descobriram que o corpo se ajusta automaticamente às diferentes superfícies – pelo menos no que se refere ao impacto simulado pelo amortecimento dos tênis – para manter constantes as forças, quando o pé atinge as placas.

"Essa descoberta faz sentido", diz Warden. "Se você salta de uma mesa para o chão, você automaticamente dobra os joelhos, na aterrissagem. Se você salta em um trampolim, pode manter os joelhos retos quando cai. Algo similar acontece quando você corre em diferentes tipos de solo."

“Se você corre numa superfície dura, seu corpo diminui a rigidez”, diz Warden. “Seus joelhos e quadris flexionam-se mais. Em uma superfície macia, suas pernas se enrijecem”. Correr em uma superfície macia “é basicamente uma atividade diferente”, diz ele.

Mas aqueles estudos na verdade não mediram forças dentro do corpo, notou van Mechelen. Em vez disso, usaram modelos biomecânicos para estimar essas forças.

“São modelos, então Deus sabem que não são reais”, diz van Mechelen. “Mas na minha opinião, não me parecem improváveis”.

Warden diz que algumas pessoas adaptam-se mais rapidamente do que outras a correr em superfícies diferentes, e aconselha a qualquer um que queira mudar de uma superfície macia para uma dura, ou vice-versa, que o faça com segurança, mudando gradualmente.

Mudar o tipo de solo onde você corre, diz Warden, “é muito parecido com aumentar sua distância percorrida, trocar o modelo de tênis ou algum outro aspecto do programa de treinamento”. Mudanças abruptas podem ser arriscadas. Mas, como não há nenhuma prova de que superfícies mais macias previnam ferimentos, não existe razão para correr nesse tipo de solo, a menos que você goste de fazê-lo, dizem Warden e outros especialistas. Van Mechelen sugere aos corredores frequentes que comprem um par de tênis confortáveis e corram em qualquer superfície que preferirem.

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