No title As medidas usuais da circunferência da cintura e do quadril e o índice de massa corporal (IMC) podem ser indicadores do risco de desenvolver doença coronariana. Mas um novo estudo aponta um outro indicador, bem menos conhecido: a gordura visceral abdominal.
Segundo a pesquisa, feita no Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), a área de gordura visceral abdominal superior a 150 cm² aumenta em quase três vezes as chances de adquirir doença arterial coronariana. Nos valores acima de 100 ou 110 cm² começam a surgir complicações metabólicas da gordura visceral, como aumento nos niveis de glicose, colesterol e hipertensão arterial.
A pesquisa, cujos resultados foram publicados na revista internacional Atherosclerosis, avaliou 125 indivíduos (71 homens e 54 mulheres), com idade média de 56 anos, sem diagnóstico prévio de doença coronária.
Submetidos a exames de tomografia computadorizada, cerca 70 pacientes (56%) apresentaram medidas das áreas de gordura visceral abdominal "significativamente associadas ao diagnóstico de doença arterial coronária", de acordo com o trabalho.
Os pesquisadores também verificaram que, quando os pacientes foram submetidos a exames antropométricos e tomográficos tradicionais, os resultados não indicaram uma associação com a enfermidade nos indivíduos com diagnóstico de doença arterial coronariana, que é caracterizada pelo bloqueio gradual das artérias coronárias.
De acordo com Luiz Francisco Rodrigues Ávila, médico assistente da Divisão de Imagem do InCor e um dos autores do estudo, uma das explicações para não se detectar a gordura visceral (que se encontra em uma estrutura mais profunda dentro da cavidade abdominal) nos exames convencionais é a falta de instrumentos para isolar o tecido adiposo subcutâneo.
"Quando realizamos a medida da cintura em um indivíduo estamos incluindo na aferição o seu tecido adiposo subcutâneo que não está relacionado com doença arterial coronariana. Por isso, medidas semelhantes da circunferência abdominal podem representar riscos metabólicos completamente diferentes por não conseguir estimar com precisão a adiposidade visceral", disse à Agência Fapesp.
Segundo Ávila, o exame de tomografia computadorizada ainda não faz parte do arsenal padrão de diagnóstico. "Mas, diferentemente do que se imagina, é um exame facilmente reprodutível. Um hospital que tenha tomógrafo, desde o mais simples ao mais complexo, em qualquer lugar do país, pode realizá-lo. É muito fácil de ser feito e é um fator preditivo importante para doença coronária", destacou. Ele destaca que esse é o único método pelo qual é possível identificar e medir o índice de gordura visceral.
O estudo não verificou relação direta entre obesidade e gordura visceral. "Um indivíduo pode ser obeso e não ter um índice elevado de gordura visceral. Ao se analisar a coronária desse paciente, podemos ter ausência de sintomas da doença", disse.
Segundo Ávila, duas pessoas podem ter a mesma medida de circunferência e, no exame de angiografia (método de visualização dos vasos sanguíneos), somente uma delas apresentar diagnóstico de doença arterial coronariana.
Discrepância no diagnóstico
A doença arterial coronariana é uma das principais causas de morte em todo o mundo. Mas seus sintomas demoram para aparecer. "Até a artéria ter 70% de obstrução, geralmente não há sintomas, e os exames convencionais não apresentam alterações significativas", disse Ávila. Mas, segundo ele, cerca de 68% do infartos têm ocorrido em pessoas que apresentam placa menor que 50%.
"É uma discrepância porque só enxergamos a doença quando ela apresenta obstrução maior do que 70%, mas os pacientes têm tido infarto com placa menor do que 50%. Os exames podem estar normais em relação a outros fatores de risco, mas a pessoa pode enfartar por conta de uma placa que não é detectada nos exames", disse.
Uma das questões, segundo Ávila, é tentar compreender por que a gordura que está na parede do abdômen não tem tanta importância como a que se encontra nas vísceras. "Ambas são depósitos gordurosos, mas a qualidade é diferente. A visceral é mais danosa", explicou.
Segundo Ávila, o trabalho terá prosseguimento. "Vamos acompanhar todos os pacientes que foram submetidos às análises. Queremos comparar os dados com análises bioquímicas. O objetivo é identificar outros marcadores no sangue com a gordura visceral alterada", disse.
Os outros autores do artigo são Mateus Marques, Raul Santos, José Parga, José Rocha-Filho, Luiz Quaglia e Márcio Miname.
*Com informações da Agência Fapesp
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